As reações adversas das vacinas contra covid-19 se tornaram um questionamento comum entre as pessoas que buscam a imunização, mas especialistas garantem a eficiência das aplicações e lembram que os sintomas da doença podem ser ainda piores do que os possíveis efeitos causados pela vacinação.
A vacina induz uma resposta imunológica que, dependendo da pessoa, pode gerar algum desconforto. Mas isso é esperado. Inclusive pode ser um indício de que o sistema imunológico está se preparando para te proteger.
Reações adversas
De acordo com Eduardo Silveira, imunologista e professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), as reações adversas às vacinas são comuns não somente contra a covid-19, mas para qualquer outra doença. "A ocorrência se dá por um conjunto de fatores. Entre os fatores já associados com estas reações na literatura científica, temos: fatores genéticos (hormônios, gênero, etnia, índice de massa corpórea, etc), a própria imunogenicidade da vacina, a rota de administração da vacina, manuseio inadequado da vacina, problemas com a fabricação do imunizante, entre outros", explica Silveira.
O professor diz que as chances de efeitos adversos são maiores para a segunda dose em relação à primeira, sendo esperado que um processo inflamatório de maior magnitude possa ocorrer no local da injeção em comparação com a primeira dose. "É a resposta natural do sistema imunológico quando estimulado por seguidas vezes pelo mesmo antígeno para adquirir maior capacidade protetora. Além disso, alguns artigos científicos também vêm apontando que isso poderia ter uma relação direta sobre como foi a experiência da vacinação na primeira dose da pessoa", esclarece.
Além disso, Eduardo Silveira afirma que não há necessariamente uma relação entre os efeitos adversos e a eficácia da vacina. "O que já foi relatado pela comunidade científica é que quanto maior a imunogenicidade de uma vacina, maiores as chances da ocorrência de reações adversas. No entanto, isso pode variar muito dependendo do tipo de formulações vacinais utilizadas."
Ele destaca a vacina contra o vírus da febre amarela, que é composta por partículas virais vivas atenuadas e se apresenta como uma das mais eficientes no mundo todo, com cerca de 95% dos vacinados protegidos após sua aplicação. "Formulações desse tipo tendem a ser altamente imunogênicas. Apesar disso, a incidência de reações adversas por ela é mínima e quando ocorrem, são leves na sua maioria”, comenta o imunologista.
Em relação às contraindicações para quem vai tomar o imunizante contra a covid-19, Silveira pontua que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos frisa que, se o indivíduo estiver fazendo uso de antibióticos, a pessoa não deve tomar nenhuma vacina. "Uma vez que a infecção seja eliminada e que o tratamento com antibiótico seja finalizado, daí a pessoa poderia procurar uma unidade de saúde para ser vacinada."
Mas não há qualquer interação entre antibióticos e vacinas de acordo com a Fundação Nacional de Doenças Infecciosas (NFID) dos EUA. “Assim, antibióticos poderiam ser utilizados no pós-vacinação. Da mesma forma, outros medicamentos como antitérmicos também podem ser utilizados para alívio de dores no corpo e controle da febre causados pela vacina”, afirma Eduardo Silveira.
Motivo das reações
Segundo Alberto Chebabo, infectologista diretor da Divisão Médica do Hospital Clementino Fraga Filho e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, as reações ocorrem pela estimulação do sistema imune por um agente agressor, no caso os componentes da vacina. “Esse estímulo leva à uma reação do sistema imune que pode causar febre e outras reações adversas de pouca duração e gravidade”, comenta.
O infectologista ainda lembra: “A reação é individual e não está relacionada à resposta à vacina. O fato de uma pessoa não ter tido reação à vacina não significa que não houve resposta do sistema imune”.
Sintomas dos possíveis efeitos adversos
Roberto Bollela, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo, ressalta que as vacinas são seguras e os efeitos são comuns. "O que a gente tem visto é que, quando você tem efeito adverso, eles podem ser leves ou mais graves. Os efeitos mais leves são um pouco mais comuns e os graves são bem mais raros." Ele comenta que as reações leves mais normais são febre e dor no local da aplicação depois de 24 ou 48 horas após a vacinação. Vale ressaltar que nem todo mundo sente esses desconfortos após ser vacinado contra a covid-19.
Independentemente do laboratório que produziu a vacina, os efeitos adversos de uma imunização são leves e moderados e casos mais graves são muito raros. “A gente percebeu que é um pouquinho mais frequente com as vacinas da Astrazeneca e parece que com a da Janssen também porque elas têm a mesma plataforma de estruturação da vacina”, considera Bollela. Em relação às doses da Coronavac, foram observados poucos relatos. O imunizante da Pfizer demonstra ser bastante seguro e com poucos eventos adversos dos eventos mais graves.
Os efeitos que “chamam a atenção são o aumento do risco de trombose, que continua sendo bem raro. Muito mais raros do que são, por exemplo, no caso do uso de anticoncepcional”. Além disso, existem “outros fatores de risco como obesidade ou ter tido algum problema de trombose prévia”. Ainda assim, Roberto Bollela ressalta: “O benefício da vacina suplanta e muito o risco”. “Em algumas populações, por conta desse risco adicional, algumas vacinas foram suspensas, por exemplo a da Astrazeneca que foi suspensa em gestantes porque tem outras que têm um risco ainda menor”, afirmou.
As reações podem ser muito comuns (ocorrem em 10% dos pacientes), comuns (ocorrem entre 1% e 10% dos pacientes) e incomuns (ocorrem entre 0,1% e 1% dos pacientes).
Pfizer
Reações muito comuns: Dor, inchaço no local da injeção, cansaço, dor de cabeça, diarreia, dor muscular, dor nas articulações, calafrio e febre.
Reações comuns: Vermelhidão no local da injeção, náuseas e vômitos.
Reações incomuns: reações de hipersensibilidade, como erupção cutânea (lesão na pele), coceira, urticária (alergia na pele com coceira intensa), angioedema (inchaço das partes mais profundas da pele ou da mucosa), sensação de mal-estar, dor nos membros (braços) e insônia.
Coronavac
Reações muito comuns: dor no local da injeção.
Reações comuns: coceira, vermelhidão, inchaço, endurecimento do local da injeção,enjoo, diarreia, dor de cabeça, cansaço, dor muscular, tosse, dor nas articulações, coceira, coriza, dor ao engolir e congestão nasal.
Reações incomuns: hematoma no local da aplicação, vômitos, calafrio, diminuição do apetite, reação alérgica, tontura, hematoma, hipotermia, desconforto nos membros e fraqueza muscular.
Astrazeneca
Reações muito comuns: sensibilidade, dor, sensação de calor, vermelhidão, coceira, inchaço ou hematoma (manchas roxas) onde a injeção é feita, sensação de indisposição de forma geral, sensação de cansaço (fadiga), calafrio ou sensação febril, dor de cabeça, enjoos (náusea), dor nas articulações e dor muscular.
Reações comuns: um caroço no local da injeção, febre, enjoos (vômitos), sintomas semelhantes aos de um resfriado como febre alta, dor de garganta, coriza (nariz escorrendo), tosse e calafrios.
Reações incomuns: sensação de tontura; diminuição de apetite; dor abdominal, suor excessivo e coceira ou erupção na pele.
Bolella lembra que, no caso do covid, é bem provável a necessidade de outras vacinas no futuro para o reforço da imunização. “Se a pessoa tiver algum efeito adverso mais sério, ela precisa comunicar porque isso pode ajudar a direcionar as futuras doses para um outro tipo de vacina para que isso não ocorra novamente”, recomenda o professor.
* Estagiário sob supervisão de Roberto Fonseca