Um grupo de pesquisadores internacionais também anunciou ontem que o tratamento REGN-COV2, que combina o uso dos anticorpos sintéticos casirivimab e imdevimab, foi eficaz no tratamento de pacientes com caso grave de covid-19. Essa dupla de moléculas funciona em pessoas que não desenvolvem anticorpos em resposta à infecção pelo coronavírus, como as que têm o sistema imunológico debilitado por outras complicações — entre elas, as transplantadas.
“O organismo desses indivíduos não produz anticorpos suficientes para se defender após uma infecção por covid-19 por uma série de motivos, conhecidos ou não”, explicam os autores em comunicado. A pesquisa faz parte do estudo Recovery, realizado por uma série de instituições europeias que avaliam tratamentos diversos para a covid-19 desde o início da pandemia.
O medicamento foi avaliado em um ensaio clínico com 9.785 pacientes hospitalizados com covid-19 — sendo que 30% não tinham anticorpos contra o vírus, 50% tinham proteção natural e a condição dos 20% restantes não era conhecida pelos pesquisadores.
Com o uso do REGN-COV2, a taxa de mortes daqueles que não tinham anticorpos próprios caiu de 30% para 24%, salvando seis vidas em cada 100 pacientes. O tempo de permanência no hospital também foi reduzido em quatro dias, e esses pacientes ficaram menos propensos a precisar de um respirador artificial. Efeitos positivos não foram observados nos indivíduos que tinham anticorpos.
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Novo protocolo
Com base nos resultados vistos, os cientistas acreditam que um teste que avalie a presença de anticorpos pode se tornar um exame de rotina na internação devido à forma grave da covid-19. “O que descobrimos é que, agora, podemos usar um tratamento antiviral, no caso, esses anticorpos, em pacientes que têm um risco maior de vir a óbito, e podemos reduzir esse risco. Isso abre todo um novo sistema e uma área de futuros tratamentos direcionados ao vírus”, declarou, ao jornal britânico The Guardian, Martin Landray, pesquisador da Sociedade Europeia de Cardiologia e um dos participantes do estudo Recovery.
Lucas Albanaz, clínico geral e coordenador da Clínica Médica do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, avalia que os dados são positivos e que há a necessidade de mais investigação.”Temos estudos diversos com vários tratamentos para covid-19 sendo avaliados neste momento, como é o caso do uso de anticorpos monoclonais, e grande parte deles apresenta dados positivos, o que é algo muito bom. Mas precisamos ver se o mesmo efeito acontece em um número de pacientes mais extenso, em um cenário menos controlado, com mais variantes, algo diferente de um estudo científico”, justifica.
Alto custo
O médico explica que a função do coquetel de anticorpos é corrigir as falhas de defesa dos pacientes. “Em pessoas com doenças imunes e indivíduos que sofrem com outras enfermidades, a resposta do sistema imunológico é fraca, e é aí que essas células agem. Isso já acontece no caso de outras doenças que usam esse tipo de tratamento, como o câncer”, detalha.
Lucas Albanaz ressalta que um dos obstáculos a ser enfrentado caso essa droga possa ser usada em casos graves de covid-19 é o preço. “São moléculas muito modernas e que, por isso, custam muito. Não adianta ter um tratamento eficaz que não esteja disponível a muitos. É preciso pensar também nesse ponto.” Em abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, autorizou o uso emergencial do coquetel de medicamentos para pacientes internados em decorrência da covid-19 e com 12 anos ou mais.