Uma pesquisa feita em Israel, que saiu na frente na corrida mundial pela vacinação contra o novo coronavírus, mostra que regiões do país com níveis maiores de imunização também demonstram taxas menores de infecção entre indivíduos que não receberam o fármaco protetivo. No trabalho, publicado na última edição da revista Nature Medicine, os cientistas defendem que os dados obtidos reforçam a eficácia do imunizante desenvolvido pela empresa americana Pfizer, escolhido para ser utilizado na campanha israelense, e a importância de aplicar doses na maior parte da população o mais rápido possível.
O trabalho reúne a análise de dados da vacinação em 177 comunidades geograficamente distantes em Israel. As informações médicas foram coletadas de 6 de dezembro de 2020 a 9 de março de 2021, totalizando 1,37 milhão de registros de indivíduos que receberam, ao menos, a primeira dose da vacina Pfizer/BioNTech. “A vacinação em Israel teve início cedo, em dezembro de 2020, e a primeira dose da vacina foi administrada em quase 50% da população em apenas nove semanas, uma conquista muito relevante e um cenário ideal para realizarmos nossas análises”, enfatizam os autores do estudo, liderado por Roy Kishony, pesquisador do Instituto de Tecnologia de Israel.
Os dados foram comparados com resultados de testes de covid-19 feitos em pessoas não imunizadas com menos de 16 anos de idade, para as quais a vacina ainda não estava disponível, em dois intervalos de tempo: antes e depois do início da campanha de vacinação em Israel. As análises mostram que, em média, para cada aumento de 20% no número de pessoas vacinadas em uma determinada população, o número de testes positivos para Sars-CoV-2 no grupo não vacinado vivendo no mesmo local diminuiu aproximadamente duas vezes.
“Nesse estudo, vemos como uma vacinação massiva gera uma proteção a toda comunidade, mesmo para indivíduos que não receberam o imunizante contra covid-19. São dados muito encorajadores, pois reforçam como a campanha de vacinação acarreta em uma proteção de rebanho, algo que é o nosso objetivo principal para acabar de vez com a pandemia”, frisam os autores.
A equipe lembra que, embora a proteção observada em indivíduos não vacinados seja animadora, mais estudos são necessários para determinar qual a porcentagem exata da população precisa ser vacinada para garantir os ganhos observados. “Temos que chegar a um número específico, que nos mostre qual a parcela imunizada que nos livrará completamente da doença. Isso é algo que apenas mais estudos poderão revelar, e é possível que enxerguemos também nuances diferentes em cada país”, avaliam os autores.
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Benefício coletivo
Segundo Werciley Júnior, infectologista chefe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Lúcia, de Brasília, os resultados obtidos reforçam o poder da vacinação em massa. “É esse efeito que nós chamamos de imunidade de rebanho e que só acontece quando temos taxas altas de vacinados, como 70% da população, que é o que estimam a maioria dos especialistas. Esses dados reforçam esse caminho promissor, que é o que se mostra o mais eficaz para combater a pandemia da covid-19 e que pode ser observado melhor em um país adiantado na vacinação, como é o caso de Israel”, afirma.
O médico lembra ainda que há casos de pessoas que não respondem bem às vacinas, como os idosos, com sistema imune mais fraco. “Então, a melhor medida é tirar o vírus de circulação e reduzir as chances de contágio. Nós fazemos isso com essa estratégia”, avalia. Werciley Júnior acredita que mais pesquisas devem surgir com dados avaliados em outros países, à medida que a vacinação se acelera pelo mundo.
Ele também ressalta que resultados semelhantes já são vistos em Serrana, cidade brasileira que foi alvo de um estudo científico para avaliação da efetividade da vacina CoronaVac. “Os dados observados nessa cidade são bem animadores também, já que, com 75% da população vacinada, os especialistas conseguiram observar o controle da pandemia”, diz. “Outro ponto importante é que as vacinas têm se mostrado eficazes contra a maioria das cepas, isso nos faz ter ainda mais fichas para apostar na imunização de toda a população.”
» Eficácia de 75% contra novas cepas
Um estudo realizado por cientistas da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, e publicado na revista Nature, mostra que a ação dos anticorpos produzidos pelo organismo após a aplicação da vacina Pfizer/BioNTech são satisfatórios contra duas novas variantes do Sars-CoV-2. Foram coletadas amostras sanguíneas de 15 indivíduos que receberam duas doses do imunizante. Por meio da exposição em laboratório ao patógeno, os pesquisadores observaram uma forte reação das células de defesa dos analisados contra as cepas Delta, que tem origem na Índia, e a B.1.525 (ainda sem nome oficial), que foi encontrada, pela primeira vez, na Nigéria. Os investigadores destacam que a reação imune foi mais forte contra a cepa original do vírus, usada como base para o desenvolvimento do imunizante. No caso das novas variantes, a eficácia foi superior a 75%, um nível considerado suficiente para proteger o organismo contra a doença.