O uso do paracetamol durante a gravidez pode aumentar o risco de uma criança ter transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e espectro do autismo, segundo um estudo europeu. Os pesquisadores avaliaram dados de mais de 70 mil crianças e encontraram taxas mais altas de sintomas dos dois distúrbios nos filhos de mulheres que usaram o analgésico enquanto estavam gestantes. Os dados foram apresentados na última edição da revista especializada European Journal of Epidemiology e, segundo os autores do trabalho, servem como um alerta para o uso exagerado do medicamento.
No artigo, os autores relatam que, em algum momento da gravidez, cerca de 40% a 50% das mulheres em todo o mundo usam paracetamol. O cenário preocupa porque são crescentes as evidências que ligam a exposição pré-natal a esse medicamento a um pior desempenho cognitivo das crianças, além de problemas comportamentais e sintomas de autismo e TDAH. “Alguns estudos anteriores mostraram essa relação, mas as pesquisas foram criticadas pela heterogeneidade e por terem poucos analisados. No nosso trabalho, buscamos superar essa barreira”, afirma, em comunicado, Silvia Alemany, pesquisadora do Instituto de Saúde Global de Barcelona e principal autora do trabalho.
Alemany e sua equipe avaliaram dados de 73.881 crianças — havia informações disponíveis sobre a exposição pré-natal ou pós-natal ao medicamento. Segundo a cientista, a amostra é grande e inclui indivíduos de vários países europeus: Reino Unido, Dinamarca, Holanda, Itália, Grécia e Espanha. A análise mostrou que 56% das mães relataram tomar o medicamento durante a gravidez, e que as crianças expostas ao analgésico antes do nascimento apresentavam 19% mais probabilidade de desenvolverem sintomas de autismo e 21% de desenvolverem sintomas de TDAH, quando comparadas aos filhos de mulheres que não tomaram paracetamol.
“Nossas descobertas são consistentes com pesquisas anteriores”, afirma Alemany. “Também descobrimos que a exposição pré-natal ao paracetamol afeta meninos e meninas de forma semelhante, visto que praticamente não observamos diferenças.” A cientista enfatiza que os dados sinalizam para a necessidade de adoção de medidas preventivas em relação ao uso exagerado do analgésico por grávidas. “Considerando todas as evidências sobre o uso desse medicamento e o desenvolvimento neurológico, defendemos que o paracetamol não deve ser suprimido em mulheres grávidas ou crianças. Ele deve ser usado apenas quando necessário”, afirma.