O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, pediu aos países com campanhas de vacinação em estágio avançado entre adultos que não imunizem crianças e adolescentes contra a covid-19 neste momento. No lugar disso, ele orientou que as doses sejam destinadas para o sistema Covax, criado para contemplar nações com menos recursos. O apelo foi feito um dia depois de os Estados Unidos iniciarem a vacinação da faixa etária de 12 a 15 anos.
“Entendo que alguns países queiram vacinar suas crianças e adolescentes, mas eu lhes peço para reconsiderar isso e dar vacinas para o Covax”, disse Ghebreyesus. Ele externou preocupação com a disseminação do novo coronavírus em algumas partes do mundo, embora alguns países estejam vislumbrando a retomada da normalidade. “No ritmo que as coisas vão, o segundo ano da pandemia será muito mais letal do que o primeiro”, lamentou.
Em várias oportunidades, Tedros criticou o comportamento dos países mais ricos, firmes no propósito de vacinar a maior parte de suas respectivas populações o mais rápido possível, sem levar em consideração que os menores de idade são pouco propensos a ficar doentes por causa da covid e a infectar outras pessoas. Ao mesmo tempo em que, destacou o diretor da OMS, nações como Índia, Nepal ou Sri Lanka enfrentam explosão nos contágios.
O programa Covax, administrado pela agência das Nações Unidas em parceria com fundos privados, ficou sem boa parte do fornecimento de vacinas que esperava para o segundo trimestre deste ano. Isso porque países como a Índia, que fabrica a maior parte dos fármacos do mecanismo, decidiram proibir as exportações de imunizantes.
Desde o fim de 2019, a pandemia da covid matou, pelo menos, 3,3 milhões de pessoas em todo mundo. O surgimento de novas variantes, sobretudo a indiana, e o progresso desigual das campanhas de vacinação continuam a preocupar a OMS.
Desconfinamento
Ainda assim, diante de resultados considerados animadores pelos governos, vários países, especialmente da Europa, estão reabrindo suas economias enfraquecidas. Ontem, a Grécia suspendeu todas as restrições de circulação, após sete meses de confinamento, para relançar uma esperada temporada de turismo. Agora, a única condição para viajar para a Grécia é estar vacinado, ou apresentar teste negativo de covid.
“Os restaurantes estão abertos, podemos ir à praia, aproveitar o bom tempo, fazer compras. É maravilhoso poder sair de novo”, celebrou, em Creta, a turista alemã Caroline Falk, 28 anos.
O governo grego lançou uma grande campanha de vacinação, com o objetivo de que as ilhas estejam totalmente protegidas até o fim de junho, início da temporada de verão. Até o momento, mais de 3,8 milhões de pessoas receberam pelo menos uma dose da vacina no país de 11 milhões de habitantes.
Também de olho na temporada turística, a Itália anunciou, por sua vez, que suspenderá a partir de amanhã a quarentena de cinco dias para os turistas europeus. A pandemia provocou a pior recessão do Pós-Guerra na península, cujo PIB é fortemente dependente do setor de turismo.
Após um longo confinamento e as vacinações realizadas com agilidade, que permitiram queda acentuada do coronavírus, a Inglaterra também se prepara para dar um grande passo, com a reabertura de museus, hotéis e estádios na segunda-feira. Um surto da variante indiana no noroeste do país e em Londres preocupa as autoridades, que decidiram lançar uma campanha de detecção acelerada.
Enquanto isso, a França anunciou que os viajantes de quatro novos países (Colômbia, Bahrein, Costa Rica e Uruguai), em uma lista de 12, estariam sujeitos a uma quarentena de 10 dias a partir de domingo.
Alta disseminação
Em contraponto, na Índia, em meio a um surto epidêmico devastador, muitos estados estão lutando contra a escassez de vacinas, limitando as disponíveis para os 600 milhões de adultos de 18 a 44 anos que agora podem ser vacinados.
A imunização com a Sputnik V, da Rússia, começou ontem. As primeiras injeções ocorreram em Hyderabad (centro), após a aprovação urgente do uso da vacina por Nova Délhi, em 12 de abril.
Depois de mergulhar as grandes metrópoles indianas no caos, com falta de medicamentos, de oxigênio e de leitos para os doentes, o novo coronavírus continua a causar estragos na zona rural, carente de infraestruturas. Os mortos são enterrados e, às vezes, abandonados nos rios, enquanto os enfermos tentam se curar com decocções de plantas.
Nos últimos dias, mais de 100 cadáveres acabaram nas margens do Ganges, aumentando o temor de uma situação igualmente terrível em outros lugares. “Nós deixamos pessoas morrer”, disse à agência de notícias France-Presse Kidwai Ahmad, contatado desde sua aldeia de Sadullahpur, no estado de Uttar Pradesh. “É a Índia que escondemos de todos”, acrescentou ele sobre o país de 1,3 bilhão de habitantes.
O Japão estendeu, por sua vez, o estado de emergência — já aplicado em seis departamentos, incluindo o de Tóquio — para três departamentos adicionais em face do aumento de casos, a apenas 10 semanas da abertura dos Jogos Olímpicos na capital.