O Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização do Reino Unido (JCVI, em inglês), que supervisiona a campanha de vacinação contra a covid-19 no país, recomendou que o imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford e pela empresa AstraZeneca seja usado apenas em pessoas com mais 40 anos. A determinação é um desdobramento do registro de 242 casos de trombos raros — sendo 48 mortes — em pessoas que receberam o medicamento, entre as mais de 35 milhões de doses aplicadas no país. A fórmula britânica é aplicada em outras partes do mundo — incluindo o Brasil, que a utiliza para imunizar adultos — entre eles, grávidas — sem restrição de idade
Mês passado, o mesmo órgão regulatório britânico havia aconselhado que o imunizante fosse administrado apenas em indivíduos com mais de 30 anos. Segundo o comitê, mesmo com a mudança na faixa etária anunciada ontem, os benefícios da vacinação continuam sendo maiores do que os riscos apresentados pela covid-19 para a grande maioria da população. “Como as taxas da covid-19 continuam sob controle (no Reino Unido), estamos avisando que adultos de 18 a 39 anos sem condições de saúde subjacentes recebam uma vacina alternativa à AstraZeneca/Oxford se disponível e se não causar atrasos na aplicação dos imunizantes”, informa, em comunicado, Wei Shen Lim, presidente do grupo responsável pelo coronavírus no JCVI.
O governo britânico comentou o anúncio do comitê científico. “A vacina Oxford/AstraZeneca é segura, eficaz e já salvou milhares de vidas no Reino Unido e em todo o mundo”, disse um porta-voz do governo à Agência France-Presse (AFP) de notícias. “Como disseram a MHRA (o órgão regulador de medicamentos) e o Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização, os benefícios da vacina superam em muito os riscos para a grande maioria dos adultos”, acrescentou. De acordo com o porta-voz, as autoridades de saúde britânicas aplicarão “como precaução” o conselho do comitê científico.
Segundo o representante do governo, a medida não atrasará o ritmo de vacinação, cujo objetivo é oferecer a primeira dose a todos os adultos do país até o fim de julho. Além disso, todas as pessoas que receberam a primeira dose da AstraZeneca deverão receber uma segunda dose da mesma vacina independentemente da idade, exceto aquelas que apresentaram trombos.
Um estudo da Dinamarca e da Noruega divulgado, na quinta-feira, na revista The British Medical Journal, com adultos que receberam a primeira dose do fármaco, mostra taxas ligeiramente aumentadas de casos de trombos, incluindo coágulos nas veias do cérebro, em comparação com as taxas esperadas na população em geral. No entanto, os pesquisadores destacam que o risco desses eventos adversos é considerado baixo.
Em abril, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) declarou que os coágulos sanguíneos deveriam constar como um efeito colateral “muito raro” da vacina da AstraZeneca, considerando que a relação custo-benefício permanecia “positiva”. As vacinas das empresas Pfizer/BioNTech e da Moderna também estão autorizadas no Reino Unido, que conta com uma das campanhas de vacinação mais avançadas do mundo. Quase 35 milhões de pessoas receberam a primeira dose, e mais de 16 milhões, as duas.
Alemanha
Um dia antes do anúncio da restrição no Reino Unido, a Alemanha liberou a utilização do imunizante para indivíduos de todas as idades. As autoridades de saúde do país haviam limitado o fármaco protetivo para pessoas com 60 anos ou mais, mas alguns estados já haviam flexibilizado essa orientação.
Outra mudança adotada pela Alemanha em relação ao resto da Europa é o tempo de espera para a aplicação da segunda dose do imunizante britânico — serão quatro semanas de espera em vez de 12. O objetivo do governo é acelerar a imunização da população, segundo o ministro da Saúde do país, Jens Spahn. Cerca de 8% da população foi completamente imunizada e mais de 30% das pessoas receberam ao menos a primeira dose.