Mais uma pesquisa reforça a efetividade da vacina contra covid-19 desenvolvida pela empresa americana Pfizer. Cientistas avaliaram dados colhidos durante a campanha de imunização em Israel e constataram que as duas doses do fármaco fornecem proteção de até 97,5% considerando infecção, hospitalização e morte em decorrência do novo coronavírus, inclusive entre idosos. Os resultados foram constatados no momento em que a variante B.1.1.7 — identificada, inicialmente, no Reino Unido — era a cepa dominante no país. Também houve registro de quedas nas taxas de infecção e de mortalidade após a aplicação massiva das doses, o que, segundo os autores do estudo, reforça os benefícios para a saúde pública gerados por um amplo programa de proteção da população.
Estimativas preliminares da eficácia da vacina da Pfizer, desenvolvida em parceria com o grupo BioNTech, foram relatadas no Reino Unido, na Dinamarca, nos Estados Unidos e também em Israel (Leia Para saber mais). Segundo a equipe do novo estudo, até então, não haviam sido feitas avaliações a nível nacional, com um número amplo de pessoas e por um longo período. “Como o país com a maior proporção da população vacinada contra a covid-19, Israel oferece uma oportunidade única para determinar a eficácia desse imunizante no mundo real e seus reflexos na saúde pública”, afirma, em comunicado, Sharon Alroy-Preis, principal autor do estudo e pesquisador do Ministério da Saúde israelense.
A equipe considerou dados de mais de 7,6 milhões de vacinados entre 24 de janeiro e 3 de abril. Nesse intervalo, 72% das pessoas com mais de 16 anos (6.538.911) e 90% da com ao menos 65 anos (1.127.965) receberam duas doses da vacina. A análise dos dados mostrou que o imunizante é altamente eficaz para todas as pessoas com mais de 16 anos, fornecendo 95,3% de proteção contra infecção e 96,7%, contra a morte, sete dias após a aplicação da segunda dose. A proteção contra infecções sintomáticas e assintomáticas foi de 97% e 91,5%, respectivamente.
A vacina também é altamente eficaz na prevenção de internação e do agravamento da covid, fornecendo proteção de 97,2% contra a hospitalização em geral e de 97,5% contra hospitalizações graves e críticas. Quatorze dias depois da vacinação, as taxas subiram para 96,5% (proteção contra infecção), 98% (contra hospitalização) e 98,1% (contra morte). Ao analisar apenas idosos com mais de 85 anos, os pesquisadores chegaram a taxas um pouco mais baixas, mas, ainda assim, expressivas, segundo eles: 94,1%, 96,9% e 97%, respectivamente, sete dias depois da imunização.
A cepa B.1.1.7 foi responsável por 94,5% das amostras testadas. A variação B.1.351, registrada, pela primeira vez, na África do Sul, foi recentemente identificada em Israel, mas não fez parte do estudo. “Não foi possível produzir estimativas de proteção para a B.1.351 nesse relatório devido ao número limitado de infecções durante o período de análise. Portanto, isso deve ser investigado em estudos futuros”, frisam os autores.
Inspiração
O impacto nacional do programa de vacinação israelense também foi avaliado, tendo como base alterações das taxas de casos de infecções e mortes. Novos casos de contágio entre pessoas com mais de 65 anos aumentaram constantemente até meados de janeiro, com um pico de cerca de 55 casos a cada 100 mil indivíduos. Depois, começaram a diminuir à medida que os israelenses receberam a segunda dose da vacina, com taxas de 30 casos diários a cada 100 mil já em fevereiro.
“Essa queda mais acentuada foi vista, inicialmente, no grupo de idosos, já que eles foram os primeiros a serem vacinados. Mas observou-se quedas mais acentuadas e rápidas entre pessoas com menos de 65 anos quando a campanha foi avançando, tanto em relação a casos quanto a mortes”, detalham os autores, que defendem que “a experiência de Israel fornece ímpeto para os países buscarem proativamente uma alta cobertura de vacinas para proteger a população”.
Werciley Júnior, infectologista e chefe da Comissão de Controle de Infecção do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, avalia o estudo como bastante animador. “É o país de onde esperávamos ver esses dados positivos primeiro, já que eles saíram na frente nessa corrida da imunização, passaram os 60% da população total vacinada”, justifica. “Todas as taxas registradas foram muito altas, em grupo de idades distintas e compostos por muitas pessoas. Isso é algo excelente. Sabemos que ainda vamos ter que manter cuidados preventivos, mas vemos, agora, que a vacina já nos ajuda bastante a evitar a infecção.”
O especialista lembra que a eficácia contra uma nova cepa do Sars-CoV-2 é um ponto que merece destaque no estudo. “Vemos uma outra variante em que essa vacina foi eficiente. Por mais que ainda não tenhamos dados quanto a outras novas cepas, isso é promissor, pois muitas delas compartilham as mesmas mutações”, avalia. “A mensagem principal do estudo é que vacinar dá certo, e que todos os outros países precisam investir nessa ferramenta.”