Em meio a queixas sobre a desigualdade na distribuição das vacinas contra a covid-19, a Organização Mundial da Saúde (OMS) começou a debater, ontem, com chefes de Estado e de governo e representantes das Nações Unidas, suas ideias para conter o novo coronavírus e a preparar a resposta para as próximas pandemias. “Estamos em guerra contra um vírus. Precisamos da lógica e da urgência de uma economia de guerra para aumentar a capacidade das nossas armas”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, no início da 74ª Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra.
Para Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, o principal desafio da reunião virtual — “o mais importante da história da OMS — é a reforma da agência e a sua capacidade de coordenar respostas às crises globais de saúde. Vários países, especialmente da Europa, estão clamando por uma organização mais poderosa, com habilidade de realizar investigações independentes e com melhor dotação financeira. Apenas 16% de seu orçamento vem de contribuições obrigatórias dos Estados.
“A OMS deve ser o coração, a bússola de nossa saúde global”, disse o presidente da França, Emmanuel Macron, na assembleia. A chanceler alemã, Angela Merkel, enfatizou, por sua vez, que “a prioridade é permitir que o mundo responda às ameaças pandêmicas o mais rápido possível”. Ela apoiou a ideia de se criar um Conselho Mundial de Ameaças à Saúde para melhorar a prevenção e as respostas.
Investigações
Vários relatórios de especialistas, encomendados pela OMS, apelam a amplas reformas do sistema de alerta e prevenção para evitar outro fiasco sanitário. Também pedem que a agência possa averiguar por conta própria em caso de crise, sem ter que esperar a autorização dos países, embora essa proposta possa ser contida pela suscetibilidade de alguns Estados.
A OMS não pode realizar investigações por conta própria em um país. Foram meses de negociações com a China para que uma equipe de cientistas independentes, enviada por esta agência da ONU, pudesse viajar para estudar a origem da covid-19 no centro do gigante asiático.
Um dos relatórios pede que a autoridade do diretor-geral da OMS seja reforçada por um único mandato de sete anos (a atual é cinco anos renovável), sem possibilidade de reeleição, para evitar pressões políticas. O texto também pede que o chefe da agência faça propostas para melhorar o sistema de alerta por meio de um possível dispositivo regional.
Durante a assembleia, os 194 membros da OMS terão que decidir se iniciam negociações para estabelecer um tratado sobre pandemias, voltado para melhor enfrentar as crises futuras e evitar que cada um aja de sua própria maneira diante de uma epidemia.
Longe de ter gerado uma onda de solidariedade, a crise da covid-19 aumentou as tensões. A desigualdade em relação a vacinação e a questão do acesso a medicamentos também serão temas debatidos esta semana. “Com o apoio ativo da OMC (Organização Mundial do Comércio), será necessário eliminar todos os obstáculos que impedem a produção de vacinas”, destacou, acerca do tema, o chefe de Governo espanhol, Pedro Sanchez.
Colapso
A reunião começou poucas horas depois do anúncio de que a Índia superou a marca de 300 mil mortes por covid-19, o terceiro país a atingir esse número, depois dos Estados Unidos e do Brasil, enquanto a onda de contágios deixa o sistema hospitalar em colapso.
Muitos especialistas acreditam que o número real é muito mais elevado, pois a doença se propagou das grandes cidades para as áreas rurais, que concentra a maior parte da população de 1,35 bilhão de pessoas e onde há menos serviços de saúde.
De acordo com os números oficiais, a pandemia — cuja origem ainda é objeto de debate — provocou oficialmente mais de 3,45 milhões de vítimas fatais em
todo o mundo. Mas, de acordo com a OMS, o balanço pode ser de “6 a 8 milhões” de óbitos diretos e indiretos.
A apenas dois meses dos Jogos Olímpicos, o Japão inaugurou, ontem, os dois primeiros grandes centros de vacinação contra a covid, com o objetivo de acelerar a campanha de imunização, cuja lentidão é muito criticada.
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