O Reino Unido colhe os resultados do longo confinamento de inverno e de uma enérgica campanha de vacinação, e se prepara para desfrutar um verão com poucas medidas anticovid. Essa expectativa está cada vez mais perto de se tornar realidade. Ontem, o ministério britânico da Saúde anunciou os resultados animadores de um projeto-piloto, iniciado este mês, com grandes eventos. Das 60 mil pessoas que participaram de aglomerações em massa sem distanciamento social ou máscara, apenas 15 contraíram o novo coronavírus.
Os testes foram realizados com o aval do governo do primeiro-ministro Boris Johnson. No total, foram nove grandes eventos que transcorreram sem quaisquer medidas protetivaas contra o Sars-CoV-2, entre elas, três partidas de futebol no estádio de Wembley, a cerimônia dos Brit Awards no O2 Arena (4.000 pessoas) de Londres e a final do campeonato mundial de bilhar.
Os 60 mil participantes tiveram que apresentar um teste negativo de covid realizado 24 horas antes dos eventos. Depois de cada teste-piloto, todos também tiveram que se submeter a um outro exame PCR de detecção do vírus.
Segundo as autoridades britânicas de saúde, os 15 resultados positivos verificados após os eventos estão alinhados com a taxa de infecção atual registrada entre a população do reino, que é de 22 a cada 100 mil pessoas, segundo os últimos dados oficiais.
“Esses projetos-piloto foram projetados e supervisionados cientificamente para reduzir o risco de transmissão”, comentou um porta-voz do Ministério da Saúde, garantindo que a pasta está “trabalhando estreitamente” com o sistema de rastreamento “para garantir que todos os contatos sejam localizados após um diagnóstico positivo”.
País mais castigado da Europa pela pandemia, com quase 128 mil mortos, o Reino Unido vem retomando, aos poucos, a normalidade, mesmo preocupado com a variante indiana. Desde o domingo passado, britânicos puderam voltar a fazer as refeições nas áreas internas dos restaurantes, frequentar pubs e assistir a uma partida de futebol no estádio. As reuniões em casa foram permitidas, limitadas a seis pessoas ou a integrantes de duas residências no máximo.
Dois dias depois, a Inglaterra deu um novo passo em seu progressivo desconfinamento: os estabelecimentos culturais e os estádios podem receber até mil espectadores no interior e até 4.000 no exterior, mas sempre respeitando as normas sanitárias. O governo planeja levantar as últimas restrições em 21 de junho, no início do verão do Hemisfério Norte.
Segundo os números oficiais mais recentes, 70% dos britânicos adultos (37 milhões de pessoas num país com 66 milhões de habitantes) receberam a primeira dose de uma vacina e 40% as duas exigidas. O governo acredita que as vacinas aplicadas são capazes de barrar a cepa indiana. Ainda assim, um novo ensaio clínico foi iniciado na última quarta-feira para ter certeza sobre isso.
O estudo, conduzido pelo Southampton University Hospital e financiado pelo governo com 19,3 milhões de libras (US$ 27 milhões), testará sete vacinas para fornecer dados sobre o impacto de uma terceira dose nas respostas imunológicas.
O Reino Unido registrou cerca de 3 mil casos da variante conhecida como B1.617.2, mais transmissível do que a cepa britânica. O ministro da Saúde, Matt Hancock, atribuiu a disseminação da variante indiana, principalmente em cidades do norte da Inglaterra com grandes comunidades asiáticas, à relutância à vacinação.
Espanha
Também em ritmo acelerado de flexibilização das medidas restritivas, a Espanha anunciou, ontem, que permitirá a entrada em seu território de todos os imunizados contra a covid, a partir de 7 de junho. “Todas as pessoas vacinadas e suas famílias são bem-vindas ao nosso país, Espanha, independentemente do local de origem”, afirmou o primeiro-ministro Pedro Sánchez.
Já na segunda-feira, a Espanha permitirá a entrada dos britânicos, que representam o maior número de turistas em períodos normais, “sem restrições e sem exigências sanitárias”, segundo Sánchez. Até o momento, os britânicos podiam ingressar no país apenas em casos de extrema necessidade.
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Tubo de ensaio / Fatos científicos da semana
Segunda-feira, 17
Groenlândia escurecida
A falta de neve fresca escurece Groenlândia e acelera seu aquecimento, segundo estudo publicado na revista especializada Geophysical Research Letters. De acordo com o trabalho, a redução das tempestades é a responsável por essa situação. A rápida mudança de tonalidade, com consequente redução de área branca, fez com que a superfície da capa de gelo da Groenlândia tenha aqueccido ao menos 2,7° C desde 1982, o que apressou seu derretimento, destacam os especialistas. Para desenvolver o estudo, pesquisadores da Universidade de Darmouth viajaram centenas de quilômetros no território dinamarquês autônomo, localizado entre o Atlântico Norte e o Oceano Ártico, nos verões de 2016 e 2017. O tamanho dos flocos de neve no solo, a maneira como refletem a luz e as impurezas da neve foram medidos em dezenas de locais. “Tudo isso está ajudando a Groenlândia a derreter cada vez mais rápido”, afirmou Erich Osterberg, professor associado em Dartmouth e principal pesquisador.
Terça-feira, 18
Afrescos devolvidos a Pompeia
Roubados na década de 1970 de antigas vilas romanas, seis afrescos foram resgatados pela polícia e devolvidos a Pompeia, perto de Nápoles, no sul da Itália. Três das peças — um representando um querubim; outro, um dançarino (foto); e o terceiro, a cabeça de uma mulher — vieram de dois antigos quartos romanos em Stabia, uma cidade a poucos quilômetros das escavações do parque arqueológico. Acredita-se que eles tenham sido contrabandeados para fora da Itália e vendidos a colecionadores nos Estados Unidos, Suíça e Grã-Bretanha. Agentes especializados em bens de arte os descobriram e confiscaram no ano passado como parte de “uma investigação mais ampla sobre o tráfico internacional de bens arqueológicos”. Pompeia, a cidade romana que foi soterrada por uma erupção vulcânica há 2 mil anos, é considerada uma das maiores maravilhas arqueológicas do mundo.
Químicos ganham “Nobel da Tecnologia”
O prêmio de Tecnologia do Milênio deste ano saiu para dois químicos da Universidade Britânica de Cambridge, que desenvolveram uma técnica ultrarrápida de sequenciamento de DNA, usada em particular, para identificar mutações relacionadas ao covid-19. Shankar Balasubramanian e David Klenerman, do Reino Unido, receberam o prêmio de um milhão de euros (US$ 1,22 milhão) — batizado de Nobel do século XXI — pelo trabalho, realizado nos últimos 27 anos, que busca encontrar maneiras cada vez mais rápidas e baratas de sequenciar o genoma humano. Em um comunicado, a Academia de Tecnologia da Finlândia destaca que a tecnologia de sequenciamento de DNA de próxima geração (NGS) da dupla “tem enormes benefícios para a sociedade, desde ajudar a combater doenças mortais como covid-19 ou câncer, até compreender melhor as doenças de plantações ou melhorar a produção de alimentos”. Criado em 2004, o prêmio é concedido a cada dois anos. O do ano passado foi adiado devido à pandemia do coronavírus.
Quarta-feira, 19
A origem de Colombo
A Universidade de Granada, na Espanha, decidiu reativar, após anos de interrupção, um estudo do DNA dos restos mortais de Cristóvão Colombo para esclarecer o mistério sobre a origem do explorador. Muitos historiadores asseveram que Colombo era genovês. Outros, porém, apostam que ele seria catalão, português ou galego, entre outras, desde que o navegador morreu, em 1506, 14 anos depois de chegar à América e descobrir um novo mundo para os europeus. A princípio, os resultados do estudo serão divulgados em 12 de outubro, aniversário de seu desembarque no continente americano, anunciou o professor de medicina legal José Antonio Lorente, durante entrevista coletiva nesta cidade da Andaluzia. Em 2003, ele mandou exumar os restos mortais atribuídos a Colombo na Catedral de Sevilha e começou a analisar o seu DNA, mas suspendeu o estudo dois anos depois porque a tecnologia da época não permitia obter muitas informações. Ele acredita que agora terá as respostas que almeja.
Quinta-feira, 20
Constelação de satélites europeus na Lua
A Europa quer lançar uma constelação de satélites ao redor da Lua e posicionar-se como um ator incontornável no mercado, prevendo que, com as futuras missões lunares, as necessidades de navegação e comunicação crescerão enormemente. Com esse objetivo, a Agência Espacial Europeia (ESA) contratou dois consórcios industriais para estudar se seria viável colocar na órbita lunar entre três a cinco corpos celestes até 2028. Até o fim da década, mais de 20 missões estão planejadas ao redor ou na própria Lua, incluindo as missões americanas Artemis, destinadas a enviar astronautas ao satélite terrestre. “Para todas, será preciso conectividade e navegação”, explicou Elodie Viau, diretora da seção da ESA que lida com telecomunicações e aplicativos integrados. Ela assinalou que uma constelação “reduzirá o custo” das empreitadas, uma vez que não será necessário o envio de sistemas de navegação e comunicações muito complexos.