Horas depois de o Centro para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a principal agência federal de saúde pública dos EUA, fazer o anúncio do fim da obrigatoriedade do uso de máscaras para os norte-americanos que completaram o ciclo de vacinação contra a covid-19, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, celebrou a façanha. “Se você está totalmente imunizado, não precisa mais usar máscara!”, declarou o democrata, em discurso televisionado nos jardins da Casa Branca. Pouco depois, ele usou o Twitter para comentar o avanço. “Hoje, é um grande dia para a América em nossa longa batalha contra a covid-19. Isso foi possível graças ao sucesso extraordinário que tivemos em vacinar tantos americanos, tão rapidamente.” Até o fechamento desta edição, os EUA tinham administrado 266,5 milhões de doses da vacina.
O CDC atualizou uma recomendação emitida pela primeira vez há um ano e relaxou a obrigatoriedade do uso de máscara. “Qualquer pessoa que esteja totalmente vacinada pode participar de atividades internas e externas, pequenas ou grandes, sem usar máscara ou (respeitar) a distância física”, declarou Rochelle Walensky, diretora da agência. “Se você estiver totalmente vacinado, pode começar a fazer as coisas que tinha parado por causa da pandemia”, acrescentou em um comunicado.
Em entrevista ao Correio, Marc Lipsitch — epidemiologista e diretor do Centro de Dinâmica de Doenças Transmissíveis da Universidade de Harvard — avalia que a decisão do CDC é “uma boa mudança para um lugar em que as taxas de vacinação são comparativamente altas e em que os casos estão diminuindo”. “Isso tem ocorrido nos Estados Unidos. Tenho certeza de que haverá monitoramento para avaliar se a situação mudará. No entanto, será muito difícil a implementação da não obrigatoriedade da máscara, pois a vacinação é uma informação privada. Será difícil saber quem foi vacinado realmente”, disse.
Robert Charles Gallo — cofundador do Instituto de Virologia Humana da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland e da Rede Global de Vírus, e um dos cientistas que isolaram o HIV na década de 1980 — também atribui o fim da obrigatoriedade de máscaras a imunizados ao sucesso da vacinação. “O número de infecções e de casos graves da covid-19 está caindo, à medida que mais pessoas são imunizadas. A curto prazo, isso é uma boa noticia, com certeza”, afirmou à reportagem.
Morador de Washington desde 2019 e nos EUA há cinco anos, o consultor goiano Gabriel Moura vê a decisão do CDC com otimismo e cautela. “Parece que estamos chegando num ponto em que a reabertura é realmente possível. Mas o controle do número de infecções e de óbitos somente ocorreu porque a vacinação foi associada ao uso de máscara e ao distanciamento social. Para mim, ainda não está claro o quanto a vacina conseguirá segurar a pandemia sem outros controles”, afirmou à reportagem. Por isso, ele não pretende deixar de usar máscaras em ambientes fechados, ao menos por enquanto. “Acho o uso de máscara um pequeno incômodo individual que causa grande impacto na saúde pública. Por enquanto, me sinto seguro tirando a máscara em ambientes externos, ou em locais fechados por curto espaço de tempo, como para comer e recolocá-la.”
» Pontos de vista
Por Marc Lipsitch
Sucesso da vacinação
“Este é um sinal de que, pelo menos no cenário atual de clima primavera-verão e ante a mistura de cepas do coronavírus presentes nos EUA, a vacinação reduziu os números de casos, de hospitalizações e de mortes. O sucesso a longo prazo está para ser visto, mas há motivos para ficarmos otimistas de que esses desenvolvimentos positivos continuarão.” Epidemiologista e diretor do Centro de Dinâmica de Doenças Transmissíveis da Universidade de Harvard.
Por Robert Gallo
Confiança no imunizante
“É um passo adiante. Ele ilustra a confiabilidade da vacina. Suspender o uso de máscaras em ambientes internos é um grande passo. A vacina não previne contra a infecção, e uma pessoa ainda pode transmitir o Sars-Cov-2, apesar de ter baixa carga viral, a um indivíduo não vacinado. No entanto, nos EUA, a maior parte da população será vacinada.” Cofundador do Instituto de Virologia Humana da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland e da Rede Global de Vírus, e um dos cientistas que isolaram o HIV nos anos 1980.
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