SAÚDE

OMS considera cepa descoberta na Índia como preocupante

Quanto à possibilidade de a B.1.617 afetar a efetividade dos imunizantes disponíveis, a cientista ressaltou que isso não significa que as fórmulas deixaram de cumprir a função protetora contra as formas mais graves da covid-19 e de prevenir mortes

Correio Braziliense
postado em 11/05/2021 06:00
Pacientes atendidos em um ginásio: estimativa oficial indica 4 mil mortes por dia -  (crédito: Tauseef Mustafa/AFP - 2/5/21)
Pacientes atendidos em um ginásio: estimativa oficial indica 4 mil mortes por dia - (crédito: Tauseef Mustafa/AFP - 2/5/21)

Aparentemente mais contagiosa e com maior grau de resistência às vacinas, a cepa do novo coronavírus identificada inicialmente na Índia tem preocupado governantes e autoridades sanitárias. Ontem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a variante B.1.617 é “preocupante” e representa uma ameaça não apenas ao país asiático.

“Nós a classificamos como uma variante preocupante em nível global (…) Existe alguma informação disponível que indica uma transmissibilidade acentuada”, afirmou Maria Van Kerkhove, responsável técnica pela luta contra a covid-19 na agência das Nações Unidas. Um relatório epidemiológico do órgão com mais detalhes sobre essa variante está previsto para ser divulgado hoje.

Na coletiva, Kerkhove adiantou que a B.1.617 precisa ser estudada com mais profundidade. “Não temos nada que sugira que nossos diagnósticos, nossos medicamentos e nossas vacinas não estejam funcionando. E isso é importante”, frisou. Segundo ela, mais análises de sequenciamento genético ajudarão autoridades a saber a quantidade circulante dessa cepa e o grau de intensidade com que ela atenua a eficácia das vacinas disponíveis.

Quanto à possibilidade de a B.1.617 afetar a efetividade dos imunizantes disponíveis, a cientista ressaltou que isso não significa que as fórmulas deixaram de cumprir a função protetora contra as formas mais graves da covid-19 e de prevenir mortes. A Índia, um dos maiores produtores mundiais de vacinas, imunizou com duas doses apenas 2% de sua população.

Subnotificações

Em entrevista à agência France-Presse de notícias (AFP), Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS, disse que a B.1.617 foi detectada, pela primeira vez, na Índia, em outubro, e que, sem dúvidas, é um fator que agravou a epidemia. Segundo a cientista, a nova variante “apresenta mutações que aumentam a transmissão e também podem torná-la potencialmente resistente aos anticorpos desenvolvidos por vacinação ou contaminação natural.”

Estatísticas oficiais indicam que cerca de 4 mil pessoas morrem diariamente no país em decorrência da covid-19, somando quase 250 mil óbitos. Há fortes suspeitas, porém, de que os registros estejam subnotificados. Para especialistas, as vítimas não contabilizadas são especialmente numerosas agora. Isso porque o Sars-CoV-2 se espalhou para fora das grandes cidades, onde os hospitais são escassos e seus registros, mal atualizados.

Infecção fúngica

Os profissionais de saúde também têm lidado com uma complicação inusitada da infecção pelo Sars-CoV-2: uma mortal infecção fúngica. Médicos relataram à AFP um aumento nos casos de mucormicose nas últimas semanas. “Os casos em pacientes com a covid-19 após a recuperação são quase quatro ou cinco vezes mais numerosos do que aqueles detectados antes da pandemia”, disse Atul Patel, especialista em doenças infecciosas de Ahmedabad e membro da equipe de enfrentamento à pandemia nesse estado.

No domingo, o Ministério da Saúde indiano divulgou um informe sobre como tratar a doença, que costuma ser mais grave em pacientes cujo sistema imunológico está enfraquecido por uma ou mais infecções. Pelo Twitter, o Conselho Indiano de Pesquisa Médica (ICMR), agência científica responsável por fornecer respostas ao governo, alertou que “a mucormicose, se não tratada, pode ser fatal”.

Diretor denuncia “manobras geopolíticas”

Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus denunciou a ocorrência de “manobras geopolíticas” na diplomacia de vacinas. Segundo eles, essas estratégias têm comprometido o combate à pandemia. “Diplomacia de vacinas não é cooperação, é manobra geopolítica (…) Não podemos vencer esse vírus competindo. Se competirmos por recursos ou por uma vantagem geopolítica, é o vírus que tira vantagem”, insistiu. Ghebreyesus deu a declaração ao ser questionado por jornalistas sobre práticas adotadas por alguns países, como China e Rússia, de dar acesso às vacinas desde que recebam compensação das nações interessadas nas doses.


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