Apesar do descontrole da pandemia de covid-19 na Índia, com hospitais superlotados, pacientes sem oxigênio e filas para cremar corpos, o Brasil ainda tem uma taxa de mortos diária quase seis vezes maior que a do país asiático - ao menos em números oficiais.
Segundo dados da plataforma Our World in Data, ligada à Universidade Oxford (Reino Unido), a média móvel de mortes confirmadas nos sete dias imediatamente anteriores no Brasil foi de 11,44 por milhão de habitantes na terça-feira (27/04). Na Índia, essa taxa foi de 1,93.
Essa comparação é mais adequada, pois leva em conta o tamanho da população dos dois países. A Índia, o segundo país mais populoso do mundo, tem 1,37 bilhão de habitantes. Já o Brasil, 210 milhões.
Na quarta-feira (28/04), a nação asiática registrou seu recorde de mortes em 24h: 3.293. Ainda assim, menor do que o registrado pelo Brasil (4.249 em 8 de abril).
Vale ressaltar que tanto Índia e Brasil sofrem com subnotificação de casos e mortes.
Mas especialistas destacam que os números indianos são substancialmente maiores que os divulgados oficialmente, em grande parte devido às deficiências do sistema de saúde.
Apenas em Nova Déli, uma investigação de uma emissora de TV local identificou mais de mil mortes por covid-19 que não foram registradas, no intervalo de uma semana.
Para se ter uma ideia, a Índia registrou um recorde mundial de novos casos de Covid: 361 mil, depois de uma semana inteira registrando mais de 300 mil novos casos por dia. Mas uma projeção da Universidade de Washington (Estados Unidos) aponta que esse número seria de 14 milhões.
Evidentemente, quanto mais casos confirmados, mais numerosas tendem a ser as mortes.
Também na quarta, o país se tornou o quarto do mundo a superar a marca dos 200 mil mortos pela doença (junto com EUA, Brasil e México).
Os índices nunca vistos antes de contaminação por covid-19 e cenas de desespero diante do colapso da rede de saúde colocam a Índia como novo foco da atenção global na luta contra o novo coronavírus, provocando uma onda de reações internacionais.
As consequências do descontrole da pandemia na nação asiática vão muito além das fronteiras indianas, com reverberações em todo o planeta - e podem ser particularmente sentidas no Brasil, ainda fragilizado por uma segunda onda de covid-19 que não terminou e pelos índices insuficientes de vacinação.
Uma reportagem recente da BBC News Brasil apontou três desdobramentos diretos e curto prazo da crise indiana.
Segunda onda 'devastadora'
Para especialistas, a nova onda de casos na Índia pode ter sido causada por grandes concentrações de pessoas e pela falta de medidas preventivas, como uso de máscaras ou distanciamento social.
Jeffrey Barrett, do Wellcome Sanger Institute, no Reino Unido, diz que pode haver uma relação de causa e efeito com a nova variante, mas faltam evidências.
Ele observa que a variante é conhecida desde o final do ano passado: "Se ela está por trás da onda na Índia, demorou vários meses para chegar a este ponto, sugerindo que é provavelmente menos transmissível do que a variante Kent B117."
Estimativas
Projeções do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME, na sigla em inglês), ligado à Universidade de Washington (EUA), apontam que a Índia vai atingir o pico de mortes diárias por covid no próximo dia 16 de maio, com mais de 13 mil mortes em um único dia.
Apesar disso, o Brasil seguirá tendo, proporcionalmente, mais mortes por covid por dia do que a Índia.
Nesse dia, a Índia deve registrar 13.078 óbitos, enquanto o Brasil, 2.592.
Mas, na comparação por 100 mil habitantes, que leva em conta o tamanho da população, a taxa brasileira é de 1,22 mortes, enquanto a indiana, 0,94.
De acordo com as estimativas, que vão até agosto, em nenhum momento a Índia vai ultrapassar o Brasil nessa base comparativa.
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