Entrevistada nesta quinta-feira (1º/4) no programa CB.Saúde, uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília, a médica intensivista Adele Vasconcelos diz que os casos entre jovens de 20 a 30 anos têm tido aumento significativo. "Muitas vezes os pacientes chegam em estado grave nos hospitais e pela capacidade de lutar mais tempo pela vida, ocupam muitos leitos por muito mais tempo. Isso cria um problema de giro de UTI", alerta a médica, que é chefe do pronto-socorro do Hospital Santa Marta, em Taguatinga.
Adele afirma que têm muitos jovens internados com caso grave. Ela acredita que a volta aos trabalhos presenciais e aglomerações em festas clandestinas, aniversários ou reuniões familiares contribuíram para a propagação do novo coronavírus. "As pessoas não param de se aglomerar, infelizmente elas não têm esse medo, acham que com ela não vai acontecer, e vai acontecer...Muitos jovens chegam em estado grave e não há leitos imediatos para colocar o paciente. Estamos vendo muitos pacientes jovens morrer", afirma.
A intensivista comenta que a situação atual não é deixar de trabalhar e, sim, se prevenir no trabalho e evitar aglomerações. "Há varias formas de se prevenir mesmo trabalhando. Não tirar a máscara em momento algum, não tomar café junto, não almoçar junto, permanecer em distanciamento mesmo no trabalho, sempre lavar as mãos", enumera. Quando perguntada sobre a aglomeração no transporte público, Adele responde que há diferenças entre a necessidade em utilizar o transporte para trabalhar e ir em uma festa clandestina por não aguentar mais ficar em casa.
Culpa
Muitos pacientes têm enfrentado a culpa após contrair o vírus e passar para a família. Adele comenta que, em muitas ocasiões, familiares responsabilizam os mais novos pela morte de algum parente por ter transmitido a doença ou o próprio jovem se responsabiliza pelo ocorrido.
Sequelas
Segundo estudo do Coalizão Covid-19 Brasil, de cada 10 pessoas que contraíram a doença, quatro ficam com alguma sequela. A médica afirma que o trabalho de conscientização ao paciente é de que deve se preocupar com o pós-covid, pois as sequelas podem ser físicas, motoras ou mentais.
"Alguns pacientes entram em diálise e, às vezes, vão precisar dela pelo resto da vida. Alguns voltam sem caminhar por atrofia da musculatura. Voltam com depressão e ansiedade por medo de morrer, mesmo depois de recuperados. Temos casos de amputação de membros por trombose, essa é uma doença trombogênica", afirma Adele.
Reinfecções
Os casos de reinfecção têm aumentado e isso se dá pela baixa imunidade do paciente recém-recuperado da covid-19, já as mortes por reinfecção, apesar de raras, estão relacionadas muitas vezes a bactérias ou pneumonia. Geralmente os casos de reinfecção são tratados com mais facilidade sendo menos comum o agravamento da doença.
Covid-19 por faixa etária
A predominância ainda são por pessoas entre 40 e 60 anos. A médica diz que houve uma diminuição nos casos acima dos 70 anos por conta da vacina, mas que existe um grande fluxo de casos o tempo todo entre diversas faixas etárias.
Crianças também têm sido afetadas pelo vírus, geralmente com quadros leves. Quando o caso é grave, muitas vezes tem tratamento igual a de um adulto nos leitos, em total isolamento.
Saiba Mais
Confira a íntegra do programa: