O mundo de hoje pode parecer caótico e imprevisível, mas por trás da aparente desordem há uma série de fórmulas matemáticas que regem nossa vida em sociedade, desde nossos relacionamentos até nossas finanças.
É o que afirma o britânico David Sumpter, professor de matemática aplicada da Universidade de Uppsala, na Suécia.
Em outubro passado, Sumpter — que escreveu uma série de obras sobre a matemática e sua aplicação na vida real, incluindo Soccermatics, sobre futebol — publicou um livro sobre essas regras: The Ten Equations that Rule the World: And How You Can Use Them Too ("As dez equações que regem o mundo: e como você também pode usá-las", em tradução livre).
Segundo o autor, não se trata de fórmulas secretas que organismos supranacionais sombrios usam para controlar o mundo, como acreditam alguns seguidores de teorias da conspiração.
São, de acordo com Sumpter, equações que os matemáticos conhecem, mas que, devido à sua complexidade, não são acessíveis à maioria da população.
"Estão escondidas à vista de todos", afirmou o acadêmico em palestra no Royal Institution, em Londres, após lançar seu livro.
No entanto, ele destacou que alguns dos homens mais poderosos do mundo, como Jeff Bezos (da Amazon), Bill Gates (Microsoft), Elon Musk (Tesla), Mark Zuckerberg (Facebook) e os criadores do Google, Serguei Brin e Larry Page, utilizam essas fórmulas para fazer sua fortuna.
Um deles até patenteou uma das equações (falaremos sobre isso mais adiante).
De acordo com Sumpter, compreender como elas funcionam permitirá que você "entenda melhor o que está acontecendo tanto no mundo, quanto em sua vida" e poderá te ajudar a "ser mais feliz, uma pessoa melhor e até mesmo mais rica ou bem-sucedida."
A seguir, confira três equações que, segundo o autor, permitirão que você "recupere o controle de sua vida".
1. A equação da aposta
É como Sumpter chama a primeira das 10 equações que aparecem em seu livro.
É uma fórmula desenvolvida por vários matemáticos — incluindo ele — com o intuito de ganhar dinheiro no mundo do jogo.
Tudo começou em 2018, antes da Copa do Mundo na Rússia, quando dois jovens noruegueses, Marius Norheim e Jan Runo, entraram em contato com Sumpter para ver se eles poderiam usar a matemática para decifrar e dominar o mundo das apostas.
Juntos, eles desenvolveram uma fórmula que acabou fazendo sucesso, e Norheim e Runo conseguiram acumular mais de US$ 1 milhão.
Durante sua pesquisa, Sumpter descobriu que outros matemáticos já haviam descoberto a mesma equação.
Um deles, chamado William Benter, se tornou milionário na década de 1990 graças a um programa de computador que desenvolveu, usando o algoritmo, para ter sucesso no mercado de apostas de corridas de cavalos.
Mas Sumpter não recomenda essa equação para todos nós ficarmos ricos jogando.
O que ele percebeu é que o que torna essa fórmula bem-sucedida também se aplica a outras áreas da vida, desde buscar um amor até a abertura de um negócio.
Basicamente, ela consiste de dois elementos-chave: "pense probabilisticamente" e tente "encontrar vieses nas probabilidades".
O segredo, diz o matemático, não é tentar adivinhar quem vai ganhar algo e apostar uma fortuna no suposto vencedor. Em vez disso, ele afirma, você terá uma chance muito maior de ganhar dinheiro se apostar pouco, mas muitas vezes, em quem você acha que tem uma ligeira vantagem sobre os outros.
Veja o caso de Norheim e Runo como exemplo:
"Eles ganharam 838 mil euros ao fazer mais de 100 mil apostas de 100 euros. Seus ganhos eram inferiores a 1% por aposta", explica.
Mas, no longo prazo, eles fizeram uma fortuna.
Sumpter acredita que essa equação "serve para repensar como imaginamos o sucesso".
"Acreditamos que teremos sucesso se tivermos uma grande ideia e passamos muito tempo tentando ter essa grande ideia. Mas não funciona assim", afirmou ele na palestra do Royal Institution.
Para melhorar suas chances, ele aconselha, você deve tentar uma ideia após a outra, mesmo que elas não funcionem.
"Esta deve ser a sua abordagem na vida: se você tentar muitas coisas diferentes, uma delas acabará dando certo."
O matemático afirma que também funciona para relacionamentos.
"Eu sei por pessoas mais jovens que o Tinder é muito estressante, ter que trocar mensagens como um monte de gente, mas no fim das contas é isso que você deve fazer: aprender com todas as experiências negativas que teve, e um dia você terá uma experiência positiva em que as coisas finalmente funcionam."
"Embora pareça algo cármico, não é apenas uma visão cármica da vida, é também uma maneira matematicamente correta de encarar a vida", acrescentou.
2. A equação de recompensa
Essa equação tem a ver com nossos hábitos, e Sumpter diz que usá-la pode nos ajudar a decidir se queremos mantê-los ou mudá-los.
"Isso se aplica a qualquer coisa que fazemos, desde ir à academia, encontrar amigos ou assistir a uma série no Netflix", explicou ele em palestra a alunos da Universidade London School of Economics (LSE), no Reino Unido.
Basicamente, o objetivo é usar essa equação — que, aliás, existe desde os anos 1950 — para nos impedir de continuar a fazer coisas por inércia, mesmo que elas não nos acrescentem muito.
O segredo da fórmula é aplicar o que Sumpter chama de "variável de acompanhamento".
Trata-se, segundo ele, de "um número que descreve o quanto você gosta dessa atividade".
Para explicar como funciona, ele dá como exemplo uma série que estamos assistindo, e que não sabemos se valerá a pena acompanhar até o final, sabendo que há tantas outras disponíveis.
"Dê a cada capítulo uma pontuação de 0 a 10", ele sugere.
Cada vez que você assistir a um novo capítulo, você dá sua pontuação, soma o total e divide pelo número de capítulos que você viu.
Essa equação dirá se vale a pena continuar assistindo.
O acadêmico recomenda parar de assistir "se a variável de acompanhamento for menor que 7".
"A equação da recompensa é amplamente usada pelas redes sociais, que a utilizam para decidir que tipo de recompensas e informações nos oferecer", explica.
"Se descobrem que gostamos muito de algo, nos oferecerão mais dessa coisa, para que sigamos a clicar nessa rede."
Sabendo disso, Sumpter recomenda "aplicar a engenharia reversa" e usar essa fórmula para monitorar nosso uso desses e de outros aplicativos, para ver se eles realmente contribuem para nossa felicidade.
O conselho que ele dá:
"Utilize a equação de recompensa para criar uma abordagem mais equilibrada para as redes sociais."
3. A equação do 'influenciador'
Essa equação também tem a ver com as redes sociais e como elas podem distorcer a realidade e nos manipular.
Trata-se do algoritmo usado pelo Instagram, Facebook, Google e outras empresas para classificar a importância de diferentes pessoas na internet.
Segundo Sumpter, a fórmula gerou "uma visão muito exagerada" da popularidade.
Basicamente, assim como a equação de recompensa faz com que te ofereçam coisas semelhantes às que você já gosta, a equação do influenciador torna as pessoas populares mais populares.
Ao destacar os perfis das pessoas com mais seguidores, eles fazem com que mais pessoas vejam esses perfis e os sigam.
Assim, "nas redes sociais a popularidade é retroalimentada, fazendo muitas vezes com que seja exagerada", explica o autor.
Isso não acontece apenas com as pessoas, ele adverte.
"A mesma coisa acontece na Amazon com a compra de certos itens."
"E uma das coisas mais importantes é que também acontece com as notícias", destaca.
"As notícias, como aquelas sobre covid, Brexit ou Trump, se tornam notícias exageradas."
"É claro que são histórias importantes, mas há muitas notícias acontecendo no mundo. Por causa de como as redes sociais funcionam, certas notícias decolam", acrescenta.
Segundo Sumpter, a matemática por trás desse fenômeno é muito antiga.
"Você pode encontrar a equação do influenciador em documentos que têm mais de 100 anos."
No entanto, ele diz que Larry Page, do Google, patenteou a equação em uma das licenças do mecanismo de busca.
O conselho dele, sobretudo para aqueles que anseiam por popularidade na internet, é que usemos essa informação "para colocar em perspectiva nosso próprio lugar nas redes sociais".
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