PANDEMIA

Estudo preliminar avalia se variantes do coronavírus podem infectar camundongos

Pesquisa, que ainda precisa ser analisada pela comunidade científica, analisa risco de camundongos transmitirem a doença diretamente para humanos. Objetivo é descobrir se esses animais podem atuar como vetores do vírus, principalmente das novas cepas

Um grupo de pesquisadores franceses publicou um estudo que avalia se camundongos seriam possíveis transmissores de novas cepas do Sars-CoV-2, causador da covid-19. A avaliação, que tem como foco as variantes brasileira (P.1) e sul-africana (B1.351), trata-se de um preprint. Por isso, encontra-se em fase preliminar e precisa passar por avaliação da comunidade científica.

Publicadas na plataforma bioRxiv.org, do laboratório estadunidense Cold Spring Harbor, as primeiras análises buscavam descobrir se as cepas do Sars-CoV-2 que surgiram após o surto inicial podem ou não infectar camundongos.

"O vírus que causa a covid-19, para entrar nas células hospedeiras dos seres humanos, precisa de um receptor, pois ele age por meio de um mecanismo chave-fechadura. Esse receptor é o ACE-2 humano, que não está presente em camundongos. Por essa razão, eles não se infectam com as primeiras cepas do Sars-CoV-2", explica a professora e pesquisadora Kelly Magalhães, doutora em biologia celular e molecular, pós-doutora pela Universidade de Harvard e coordenadora do Laboratório de Imunologia e Inflamação (Limi) da Universidade de Brasília (UnB).

A pesquisadora afirma que o estudo francês mostrou que as variantes brasileira (P.1) e sul-africana (B1.351) conseguem infectar os camundongos. "Essa descoberta é incrível e pode mudar como entendemos a infecção do Sars-CoV-2 nas células hospedeiras, porque ficará provado que ele pode entrar de outras maneiras, que não por meio do receptor ACE-2 humano, em nossas células", comenta Kelly.

"Se o estudo for comprovado, significa que estamos convivendo com reservatórios naturais do vírus na natureza, considerando que estamos repletos de ratos e camundongos à nossa volta", observa a professora.

Riscos

A leitura preliminar da pesquisa revelou que os camundongos se infectam com novas variantes da covid-19, mas não desenvolvem a doença da maneira clássica, como percebida em seres humanos. "Isso é muito sério. Aumenta ainda mais nossa preocupação sanitária e epidemiológica", alerta Kelly Magalhães.

"As perguntas secundárias que surgem, e que a comunidade científica está preocupada em entender, envolvem a descoberta (da possibilidade) de transmissão da doença para os seres humanos a partir de um camundongo infectado. Isso pioraria nossa situação e a pandemia se tornaria ainda mais grave", ressalta.

Diante da possibilidade, a especialista menciona a necessidade de acelerar a vacinação: "Com as novas variantes circulando livremente, além de inúmeras mortes, os impactos envolvem a possibilidade de as novas cepas do vírus infectarem outros animais e, posteriormente, os animais passarem para nós. Precisamos urgentemente frear a circulação dessas novas variantes e impedir que o vírus desenvolva ainda mais cepas.  E não há outras formas de evitar que isso aconteça sem ser por meio da vacinação e do distanciamento social", finaliza a professora.