Administrada em apenas uma dose, a vacina desenvolvida pelo grupo Johnson & Johnson é eficaz contra duas novas variantes do causador da covid-19 — a sul-africana e a brasileira — e evita significativamente os quadros graves da doença. A taxa protetiva chega a 85%, segundo documento divulgado pela Agência de Regulação de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, em inglês). Também ontem, o grupo Pfizer/BioNTech publicou o estudo mais amplo sobre os impactos da fórmula que desenvolveram em parceria: 94% dos imunizados não desenvolveram a doença, conforme observação, “no mundo real”, de vacinados em Israel.
O órgão regulador americano analisou dados de estudos clínicos com a fórmula da Johnson & Johnson conduzidos em um grupo de 44 mil pessoas nos Estados Unidos, na África do Sul e em alguns países da América Latina, incluindo o Brasil. A pesquisa é, no momento, a em estágio mais avançado dos testes com o uso de dose única de um imunizante contra o Sars-CoV-2. Somam-se às vantagens da fórmula americana o não registro de reações alérgicas graves durante os ensaios clínicos e a facilidade de armazenamento — pode ser feito em geladeiras tradicionais.
Na análise dos dados gerais, o imunizante mostra-se 85,4% eficaz contra as formas graves da covid-19, mas a proteção cai para 66,1% em relação às manifestações mais moderadas da infecção. Considerando os dados locais, a eficácia em casos graves é de 85,9% nos EUA, 81,7% na África do Sul e 87,6% no Brasil, por exemplo. Segundo a FDA, a proteção foi considerada 14 dias depois da vacinação.
Os testes também revelaram que não foram registradas mortes em decorrência da covid-19 entre aqueles que receberam o imunizante. “Os dados apoiam a existência de um perfil de segurança favorável, sem preocupações específicas que possam impedir que uma autorização de uso emergencial seja emitida”, informou a agência estadunidense, em um comunicado.
O imunizante americano de dose única também é 100% eficaz contra a hospitalização 28 dias após ser aplicado. A taxa de 14 dias é de 85%. Não foram detectadas diferenças de eficácia em relação a idade, sexo ou raça dos participantes, incluindo pessoas mais velhas. No grupo de voluntários, 34% (14.672) tinham mais de 60 anos, um número considerado alto por especialistas. A expectativa é de que o FDA decida, ainda nesta semana, se a fórmula receberá um registro de emergência para uso no país.
Vetor viral
A vacina utiliza uma estratégia explorada em outros imunizantes para gerar proteção contra a covid-19: o uso de um vetor viral enfraquecido. No caso do fármaco americano, os desenvolvedores escolheram um adenovírus da gripe comum, que carrega uma proteína-chave do Sars-CoV-2. Ao entrar em contato com o organismo humano, ela desperta a produção de anticorpos protetores.
Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), avalia que os dados da vacina estadunidense são animadores. “É uma ótima notícia também pela alta eficácia observada na prevenção de casos graves, porque isso já desafoga o sistema de saúde, que é o nosso principal objetivo. Outro ponto a se comemorar é o fato de esse imunizante ser aplicado apenas em uma dose. É muito mais fácil imunizar toda a população dessa forma, nos poupará muito tempo”, justifica. “É interessante destacar ainda que essa empresa realiza testes com duas doses da mesma fórmula justamente para ter análises mais consistentes do seu efeito protetivo”, completa.
Para o imunologista, outro ponto que merece destaque é a eficácia do imunizante em regiões distintas, demonstrando, assim, a sua eficácia para diferentes cepas. A inclusão de um grande número de pessoas idosas nas análises é outro destaque, avalia Juarez Cunha. “Temos uma alta diversidade de analisados, de regiões diferentes que estão expostas a variantes distintas, e também uma quantidade considerável de indivíduos idosos. É muito bom observar que o efeito protetor nesse grupo que é mais suscetível ao vírus também foi alto, isso gera uma maior confiança.”