A tese de que Marte já abrigou formas de vida acaba de ganhar um reforço. Dois cientistas britânicos anunciaram que detectaram vapor d’água escapando da atmosfera do Planeta Vermelho. É amplamente aceito entre os estudiosos da área que Marte teve água abundante na forma líquida, assim como lagos e rios. Hoje, porém, toda a água do planeta estaria bloqueada em suas calotas ou no subsolo. Segundo o estudo publicado ontem na revista Science Advances, parte está evaporando, na forma de hidrogênio, da atmosfera marciana.
A descoberta foi feita graças a um pequeno aparelho chamado Nomad — colocado a bordo da sonda ExoMars, da Agência Espacial Europeia (ESA) e da russa Roscosmos —, que mede a luz que passa pela atmosfera do planeta. Segundo Manish Patel, coautor do estudo e pesquisador da Open University, o instrumento “está mudando fundamentalmente nossa compreensão da evolução da água em Marte” ao permitir “um conhecimento sem precedentes” dos isótopos de água na atmosfera do planeta em função do tempo e de sua localização.
“É um elemento crucial para entender como Marte perdeu sua água ao longo do tempo e, portanto, como a sua habitabilidade mudou ao longo da sua história”, justificou Patel. Para Sue Horne, chefe de exploração espacial da Agência Espacial Britânica, os resultados constituem “um elemento-chave em nossa busca para desvendar os mistérios do Planeta Vermelho”. “Entender o vapor d’água em Marte nos ajudará a responder à pergunta essencial: havia vida lá?”, acrescentou.
Sondas em órbita
O anúncio da descoberta de vapor d’água se deu no mesmo dia em que a sonda chinesa Tianwen-1 foi inserida na órbita do planeta. O dispositivo foi lançado em 23 de julho, na Ilha de Hainan, no sul do país asiático. No mesmo mês, Emirados Árabes e Estados Unidos lançaram missões parecidas.
Em comunicado oficial, a Agência Espacial Chinesa (CNSA) informou que a frenagem da sonda e a sua inserção na órbita marciana foram bem-sucedidas. O dispositivo “percorreu uma distância de cerca de 475 milhões de quilômetros e, atualmente, está a cerca de 192 milhões de quilômetros da Terra”, informa o documento.
Trata-se de uma grande conquista do programa espacial da China e o primeiro passo de uma missão que, em poucos meses, pretende pousar um pequeno robô no Planeta Vermelho. A descida a Marte está planejada para acontecer entre maio e junho deste ano.
As próximas fases da jornada de Tianwen-1, porém, tendem a ser muito mais complexas. “Os procedimentos e as operações são complicadas, já que tanto a atmosfera quanto a superfície de Marte são muito pouco conhecidas, principalmente para os chineses”, analisou Chen Lan, integrante do site GoTaikonauts.com, que analisa o programa espacial chinês constantemente.
A sonda tirou sua primeira foto de Marte na semana passada. A imagem, em preto e branco, mostrou parte do relevo, desfiladeiros, uma cratera e uma planície. Os chineses pretendem colocar a sonda em órbita, pousar um dispositivo robótico no planeta e controlá-lo remotamente — um feito ainda inédito em missões especiais.
Conjunção
Os três países aproveitaram um período chamado conjunção do final de 2020 — momento em que Terra e Marte ficam mais próximos um do outro. Esse fenômeno ocorre a cada 26 meses. A sonda da primeira missão interplanetária árabe entrou na órbita de Marte na última terça-feira. Al-Amal (esperança, em português) permanecerá em órbita por todo um ano marciano, ou seja, 687 dias. A americana Perserverance (Perseverança) deverá entrar em cena no próximo dia 18.