A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou o uso da vacina para a covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca em idosos com mais de 65 anos e também nas regiões em que as novas variantes do Sars-CoV-2 estão circulando. A decisão foi tomada após os especialistas da agência das Nações Unidas avaliarem uma série de pesquisas conduzidas com o imunizante britânico. Apesar de já ter sido aprovada para uso em vários países, a fórmula foi alvo de discussões devido à pequena quantidade de dados que comprovem a sua eficácia em idosos. Devido a essa lacuna, algumas nações europeias decidiram não recomendar o uso da vacina na população mais velha — entre elas, França, Alemanha e Portugal.
O posicionamento da OMS é, de certa forma, uma tentativa de sanar esse impasse. O anúncio se deu em uma reunião realizada, ontem, em Genebra, na sede da OMS, quando também foi apresentado um documento com uma série de recomendações sobre o uso da vacina. O material foi elaborado pelo Grupo de Especialistas em Assessoria Estratégica sobre Imunização (SAGE) e reúne informações sobre a análise de estudos realizados durante o desenvolvimento do fármaco.
Segundo Alexandre Cravioto, que lidera o SAGE, faltam dados relacionados à eficácia do imunizante em pessoas mais velhas, mas que, após as análises, os especialistas “concluíram que a resposta desse grupo não pode ser diferente da de pessoas mais jovens”. “Levando em consideração todas as evidências disponíveis, a OMS recomenda o uso da vacina em pessoas com 65 anos de idade ou mais”, declarou o SAGE.
Cravioto também afirmou que, com base nos dados analisados, eles recomendam “que a vacina seja usada por indivíduos com 18 anos ou mais, sem limite máximo de idade”. O grupo sugeriu ainda que o intervalo de aplicação entre a primeira e a segunda dose deve ser de dois a três meses, o que já tem sido feito por orientação dos desenvolvedores da vacina.
Quanto à eficácia da fórmula contra as novas cepas do coronavírus, Cravioto informou que a recomendação é de que o imunizante siga sendo aplicado em países que apresentam casos ligados a essas variantes. No último domingo, pesquisadores da África do Sul divulgaram um estudo que mostrou uma eficácia reduzida da vacina de Oxford contra a versão do coronavírus detectada recentemente no país. Porém, o grupo da OMS indicou ontem que a investigação foi feita com dados de poucas pessoas e, por isso, não conseguiu avaliar a eficácia do imunizante contra as formas graves da covid-19.
A vacina apresentou eficácia média de 70% — menor do que as desenvolvidas pelas empresas americanas Pfizer e Moderna, que induzem uma imunidade acima de 90%. A fórmula britânica, porém, é produzida de forma mais barata, além de ter um armazenamento mais simples, por utilizar uma tecnologia tradicional. “É um dos imunizantes que podem ser conservados em refrigeradores normais. Por isso, será muito útil”, destacou a responsável científica da OMS, Soumya Swaminathan.
Futuros ajustes
César Carranza, infectologista do Hospital Anchieta de Brasília, explica que o posicionamento da OMS entra em sintonia com o que outros especialistas vêm defendendo sobre a vacina britânica. Além disso, lembra o especialista brasileiro, dados observados após o início da aplicação da fórmula na população em geral devem ser levados em conta nesse tipo de avaliação. “O receio se justifica devido à quantidade pequena de dados das análises feitas em idosos, mas temos visto que, nas regiões em que o imunizante vem sendo usado, há diminuição de casos graves e mortes, apesar disso não ter sido avaliado minuciosamente ainda”, contextualizou.
Certificação de emergência
Nos próximos dias, a OMS focará na certificação de emergência da vacina desenvolvida em conjunto pela AstraZeneca e a Universidade de Oxford e produzida na Índia e na Coreia do Sul. A decisão está prevista para meados deste mês. Esse procedimento, previsto em caso de emergência sanitária, permite aos países com dificuldades para, sozinhos, determinar rapidamente a eficácia e segurança de uma vacina terem acesso mais rápido as novas abordagens.
O procedimento também permitirá que a Unicef, a agência das Nações Unidas encarregada por uma parte importante da logística de distribuição das vacinas contra o HIV, comece a distribuição dos imunizantes contra a covid-19. A vacina Pfizer/BioNTech é, até o momento, a única que recebeu a aprovação de emergência da OMS, em 31 de dezembro.
A vacina britânica representa a grande maioria das 337,2 milhões de doses de imunizantes que o sistema das Nações Unidas, o Covax, quer distribuir no primeiro semestre deste ano. Graças a essa iniciativa, quase 100 países poderão começar a imunizar os profissionais de saúde e as pessoas mais vulneráveis, estima a OMS.