O registro de cinco novos casos suspeitos da síndrome de Haff, em Pernambuco, acende o alerta para os cuidados efetivos com a alimentação. Ainda pouco conhecido pelo grande público, este mal, chamado popularmente como “doença da urina preta”, é caracterizado por um quadro agudo de dores musculares, associado a um aumento significativo das enzimas, além de extrema fadiga e agressão direta ao aparelho renal. Os sintomas são, geralmente, registrados após a ingestão de peixe contaminado por toxinas, sendo, até então, apontadas espécies como a arabaiana e o badejo.
De acordo com o infectologista, Gabriel Serrano, a síndrome sinaliza um quadro de mialgia aguda, sendo capaz de causar uma forma invasiva de degradação dos músculos, chegando a necrose. “O problema evolui de forma rápida, com os primeiros sintomas surgindo entre duas a 24 horas após o consumo. Apesar de contaminados, os alimentos não sinalizam nenhuma modificação na aparência ou no sabor, algo que dificulta a identificação”, explica o médico, lembrando que também pode ser apresentada falta de ar, vermelhidão na pele e dormência pelo corpo.
O diagnóstico da síndrome é feito a partir da dosagem da enzima TGO, que reflete o status de funcionamento do fígado, além da creatinofosfoquinase (CPK), elemento que atua nos músculos e que tem seus níveis elevados quando ocorre esta alteração no tecido. “O escurecimento da urina surge em razão da destruição do músculo, que acaba liberando uma quantidade anormal de substâncias, incluindo a miogobina, responsável pelo carregamento de oxigênio. Quadros mais graves podem levar a uma insuficiência renal severa, com adoção de hemodiálise. É de extrema importância a hidratação e o início imediato do tratamento”, reforça Serrano.
Nos casos recentes, na capital pernambucana, a empresária Flávia Andrade, de 36 anos, e sua irmã, a veterinária Pryscila Andrade, 31, seguem internadas, em quadro estável, no Real Hospital Português, localizado no bairro do Paissandu, na área central da cidade. Segundo a mãe, Betânia Andrade, os sintomas tiveram início cerca de quatro horas após um almoço de família, onde foram servidas porções do peixe arabaiana. “Elas começaram a sentir o corpo ficar completamente duro, sem conseguir andar ou se mexer”, relatou os momentos de pavor. De acordo com a genitora, outras três pessoas que participaram da refeição, incluindo uma criança, também apresentaram algum tipo de sinal, como dores de cabeça ou de coluna.
Conforme especialistas, a síndrome é considerada rara, não sendo motivo para descartar por completo a ingestão de peixes. No entanto, pode-se adotar cautela e evitar as espécies que já apresentaram casos na literatura médica. Entre as teorias aceitas para o acometimento está a do peixe se alimentar por algas tóxicas presentes no mar, além de outra tese que atribui a acomodação irregular dos pescados, do barco até a mesa, sem o devido tratamento e refrigeração. A recomendação é de sempre observar as condições do produto e do local onde o peixe é vendido, prezando pelo mais saudável.
Estudo
O número de casos da síndrome de Haff apresentou um crescimento, superior a 200%, no vizinho estado da Bahia, saltando de 13, em todo o ano passado, para mais de 40, apenas neste mês de fevereiro. O cenário tem levado pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) a desenvolverem pesquisas permanentes para monitorar a proliferação destas toxinas nas algas e o seu desenvolvimento nos peixes e outros crustáceos. Em Pernambuco, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que tem prestado apoio técnico para a investigação epidemiológica dos casos no Recife. Conforme o órgão, também deve ser feito o encaminhamento de fragmentos do alimento para análise laboratorial. Segundo a pasta, o estado registrou 15 casos da doença, desde 2017, sendo dez confirmados.
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