A capacidade de as plantas absorverem dióxido de carbono está chegando ao fim, segundo um estudo publicado na revista Science Advances. Ao examinar dados sobre taxa de fotossíntese referentes a mais de duas décadas e os relacionarem com as medições de temperatura, pesquisadores norte-americanos e neozelandeses calculam que, entre 20 e 30 anos, não será mais possível armazenar CO2 em diversos biomas, incluindo a Floresta Amazônica. De estocadoras, as florestas passarão a lançar o gás na atmosfera.
Graças à biosfera — a atividade das plantas e dos micróbios do solo —, quase um terço das emissões de CO2 causadas por atividades humanas é absorvida. Os ecossistemas sequestram o dióxido de carbono, importante para o crescimento das espécies vegetais, por meio da fotossíntese. À noite, “respiram”, lançando de volta para a atmosfera parte desse gás. Nas últimas décadas, mais carbono foi absorvido do que liberado, o que ajuda a mitigar o efeito estufa. Porém, devido ao aumento das temperaturas globais, a Terra está próxima ao ponto de mudança, argumenta o artigo.
Para descobrir quando as temperaturas atingirão esse limite, a equipe liderada por Katharyn Duffy, da Universidade do Nordeste do Arizona, analisou registros de 1991 a 2015 da rede global Fluxnet, responsável por monitorar o movimento de dióxido de carbono entre os ecossistemas e a atmosfera. Trata-se de centenas de torres de medição instaladas em biomas de todo o mundo, sendo uma dezena delas na Amazônia Brasileira.
Os pesquisadores calcularam alterações no processo de fotossíntese e na respiração da biosfera atribuídas apenas às mudanças na temperatura em cada local da torre de fluxo e, então, agregaram essas informações no bioma e em níveis globais. Os dados sugerem que, com a tendência atual de aquecimento, até metade dos ecossistemas terrestres pode atingir o ponto crítico em 2100, em um cenário de emissões usual.
Limites distintos
Atualmente, menos de 10% da biosfera terrestre está sujeita a temperaturas além desse máximo fotossintético. Mas, na taxa atual de emissões, até metade de plantas e micróbios do solo pode estar exposta a temperaturas que ultrapassam esse limite de produtividade em meados do século — e alguns dos biomas mais ricos em carbono do mundo, incluindo florestas tropicais na Amazônia e no sudeste da Ásia e a taiga na Rússia e no Canadá, serão um dos primeiros a atingir esse ponto de inflexão.
“Sabemos que a temperatura ótima para os humanos está em torno de 37ºC, mas nós, na comunidade científica, não sabíamos quais eram essas temperaturas para a biosfera terrestre”, diz Duffy. Esses picos são 18°C para plantas C3 (sazonais frias) e 28ºC para as C4 (sazonais quentes), que têm diferentes vias metabólicas de fotossíntese — e eles já estão sendo excedidos. Isso significa que, em muitos biomas, o aquecimento contínuo fará com que a fotossíntese diminua, enquanto as taxas de respiração aumentam exponencialmente, alterando o equilíbrio dos ecossistemas de sumidouro de carbono para fonte de carbono e acelerando as mudanças climáticas. Diferentes tipos de plantas variam nos detalhes de suas respostas à temperatura, mas todas mostram declínios na fotossíntese quando fica muito quente”, explica o coautor George Koch.
“A coisa mais surpreendente que nossa análise mostrou é que a temperatura ótima para a fotossíntese em todos os ecossistemas era muito baixa”, afirma, em nota, Vic Arcus, biólogo da Universidade de Waikato, na Nova Zelândia, e coautor do estudo. “Combinado com o aumento da taxa de respiração do ecossistema ao longo das temperaturas que observamos, nossos resultados sugerem que qualquer aumento de temperatura acima de 18ºC é potencialmente prejudicial para o sumidouro de carbono terrestre. Sem reduzir o aquecimento para permanecer nos níveis estabelecidos pelo Acordo de Paris, o estoque de carbono da Terra não vai continuar a compensar nossas emissões e nos fazer ganhar tempo.” Assinado em 2015, o acordo estabeleceu a meta de manter o aumento da temperatura global abaixo de 2 °C acima dos níveis pré-industriais até o fim do século.