Pacientes com insuficiência cardíaca aguda praticamente dobram o risco de morrer se contraírem a covid-19, de acordo com pesquisa publicada na ESC Heart Failure, um jornal da Sociedade Europeia de Cardiologia. O estudo, que incluiu 238 pacientes internados no Hospital North Bristol NHS Trust, na Inglaterra, destaca a necessidade de pessoas com essa condição preexistente tomarem precauções extras para evitar serem infectadas pelo Sars-CoV-2.
“Nossos resultados apoiam a priorização de pacientes com insuficiência cardíaca para a vacinação contra a covid-19 no início das campanhas de imunização”, diz o pesquisador principal do estudo, Amardeep Dastidar, cardiologista intervencionista consultor do North Bristol NHS Trust e do Instituto do Coração de Bristol. “Enquanto isso, pacientes com insuficiência cardíaca de todas as idades devem ser considerados um grupo de alto risco e aconselhados a manter distância social e a usar máscara facial para prevenir infecções”, acrescenta.
A insuficiência cardíaca refere-se ao enfraquecimento progressivo da função de bombeamento do coração e inclui sintomas como falta de ar, inchaço do tornozelo e fadiga. A piora súbita e grave desses sinais é chamada insuficiência cardíaca aguda — uma emergência médica que requer internação hospitalar para medicação intravenosa e monitoramento intensivo.
O estudo divulgado ontem analisou as taxas de encaminhamento para a insuficiência cardíaca aguda durante a pandemia, assim como a mortalidade pela doença, em 30 dias. Dois terços dos pacientes tinham insuficiência cardíaca crônica e apresentavam deterioração aguda. A data da primeira morte por coronavírus no Reino Unido, 2 de março de 2020, foi o ponto de corte para definir dois grupos: antes da covid-19 (de 7 de janeiro a 2 de março, oito semanas) e após a covid (de 3 de março a 27 de abril, oito semanas).
Isolamento
Houve queda substancial, mas estatisticamente não significativa, nas admissões por insuficiência cardíaca aguda durante a pandemia. Um total de 164 pacientes foram admitidos nas oito semanas antes da pandemia, em comparação com 119 pessoas após o primeiro caso de covid-19 — uma redução de 27%.
“Essa descoberta pode refletir as preocupações do público sobre o distanciamento social no início do lockdown nacional, relato tardio de sintomas e ansiedade em relação ao atendimento hospitalar”, diz Dastidar. “Em consonância com essas explicações, nossos dados demonstram um aumento nos atendimentos durante as últimas semanas de bloqueio, em linha com os relatos da mídia britânica, que encorajam os pacientes a procurarem atendimento médico se necessário.”
A taxa de mortalidade em 30 dias de pacientes com insuficiência cardíaca aguda quase dobrou durante a pandemia. Cerca de 11% das pessoas incluídas no grupo antes da covid morreram em um mês, em comparação com 21% do grupo após a covid — um risco relativo de 1,9. Os pesquisadores examinaram quais fatores podem ter sido responsáveis pela alta taxa de mortalidade.
Mais testes
Idade avançada e admissão durante a pandemia foram associadas à morte após o ajuste para outros fatores que poderiam influenciar essa relação, com taxas de risco de 1,04 e 2,1, respectivamente. Quando os pacientes com teste positivo para a covid-19 foram removidos da análise, não houve diferença na mortalidade entre os grupos, indicando que os indivíduos com insuficiência cardíaca aguda e covid-19 tinham um prognóstico pior. “Isso pode sugerir uma interação direta ou suscetibilidade a resultados piores para pacientes com insuficiência cardíaca aguda com infecção por covid”, diz Dastidar. “É digno de nota que nossa região (Bristol) teve taxas muito baixas de infecção por Sars-CoV-2 durante o estudo e, ainda assim, a conexão com a maior mortalidade ainda era aparente”.
Dastidar aponta que os testes de rotina para detectar o novo coronavírus não estavam disponíveis no momento do estudo. “Seria informativo revisar as admissões mais recentes, quando o teste já estão mais amplamente implementados, para dar suporte às nossas descobertas. Como esse foi um estudo de centro único, uma análise nacional seria valiosa. Além disso, nós estamos ansiosos para revisar os dados de longo prazo e, então, procurar padrões de prognóstico nessa população de pacientes.”