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Grávidas com forma severa de covid-19 têm risco 13 vezes maior de morrer, diz pesquisa

Dois estudos mostram que grávidas com Sars-CoV-2 grave têm risco aumentado de problemas como hipertensão e embolia pulmonar. Taxa de hospitalização e mortalidade também é maior, mesmo nos casos moderados

Paloma Oliveto
postado em 29/01/2021 06:00
 (crédito: Pedro Pardo/AFP - 7/9/20)
(crédito: Pedro Pardo/AFP - 7/9/20)

No início da pandemia de Sars-CoV-2, estudos sobre o impacto do vírus em gestantes foram inconclusivos. Agora, duas pesquisas — uma delas, apresentada ontem, na reunião anual da Sociedade de Medicina Materno Fetal, nos EUA — mostram que a forma grave da covid está associada a um maior índice de complicações e de mortalidade, comparado aos casos leves, moderados ou assintomáticos. Além disso, grávidas com a forma severa da doença têm um risco 13 vezes maior de morrer, em comparação com pessoas da mesma faixa etária com a enfermidade, mostrou um artigo publicado na véspera.

No estudo apresentado ontem, liderado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), foram avaliados os prontuários de 1.219 grávidas atendidas em 33 hospitais de 14 estados norte-americanos, entre 1º de março a 31 de julho. Todas testaram positivo para a covid-19: 47% eram assintomáticas; 27% tinham casos leves; 14%, moderadas; 8%, graves, e 4% estavam em condições críticas.

Os resultados mostraram que, nas gestantes com Sars-CoV-2 leve e moderado, não houve complicações associadas à doença. Porém, 6% das que tiveram covid-19 grave e crítica sofreram de tromboembolia pulmonar, quando um coágulo se forma no pulmão, podendo levar à morte. Além disso, enquanto não houve letalidade no grupo das grávidas com as formas mais leves da infecção, 0,3% (quatro casos) das que tiveram quadro clínico severo morreram de causas diretamente ligadas ao vírus.

Segundo Torri D. Metz, especialista em medicina fetal da Universidade de Utah e principal autora do estudo, as mulheres com covid-19 grave também tiveram mais hemorragias pós-parto e hipertensão. “Nossa pesquisa mostra que complicações graves na gravidez parecem ocorrer em mulheres que têm casos graves ou críticos de covid-19, e não naquelas que têm casos leves ou moderados”, apontou Metz, em uma breve apresentação on-line para a imprensa.

Porém, a médica destacou que as gestantes com infecção severa tinham mais comorbidades associadas à gravidade geral do Sars-CoV-2, como índice de massa corporal (IMC) alto, asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica, diabetes e hipertensão.

Internações

Na quarta-feira, um outro estudo, publicado no American Journal of Obstetrics and Gynecology, com 240 gestantes de Washington, encontrou uma forte associação entre aumento de internações hospitalares e de mortalidade, independentemente do grau de severidade da covid-19 — embora aquelas com casos graves tenham apresentado os piores resultados. Aqui, a comparação foi feita com pessoas não gestantes e também positivas para Sars-CoV-2 da mesma faixa etária das participantes do estudo — média de 28 anos.

Segundo essa pesquisa, no geral (contando todos os casos, dos assintomáticos a graves), as grávidas com covid-19 apresentaram taxa de hospitalização três vezes e meia maior associada à doença do que as pessoas de idades semelhantes e também infectadas pelo vírus. O que mais impressionou os pesquisadores, porém, foi a mortalidade: 13 vezes maior.

“Foi uma taxa chocantemente alta”, disse Kristina Adams Waldorf, professora da Universidade de Washington e principal autora do estudo. “Ficamos muito surpresos com isso.” Segundo ela, a maior parte das participantes hospitalizadas — quase 80% — teve covid severa.

Das 240 gestantes, três morreram em decorrência da enfermidade. A maioria delas tinha outras condições, como obesidade e hipertensão. A médica afirmou que as descobertas deveriam ter sido incluídas nas pesquisas clínicas das vacinas para a doença — nenhum dos imunizantes que estão sendo utilizados no mundo foram testados em gestantes. “A exclusão de pacientes grávidas dos ensaios da vacina foi um erro”, opinou, acrescentando: “Esse é um grupo importante, no geral altamente vulnerável a infecções virais e, ainda assim, foi excluído.”

A mesma opinião tem Jonathan Zipursky, professor da Universidade de Toronto e autor de um comentário publicado no Canadian Medical Association Journal, no qual critica duramente o fato de as gestantes não terem participado dos ensaios clínicos. De acordo com ele, embora os dados não indiquem se os imunizantes são seguros nesse grupo, não há evidências de que a vacinação durante a gravidez seja um risco para a amamentação ou a tentativa de concepção.

“Nas 23 participantes do estudo Pfizer-BioNTech que conceberam após a vacinação, nenhum efeito adverso foi observado. Os testes em animais também não mostram efeitos adversos”, explicou. Segundo o médico, porém, estão se acumulando evidências de que as gestantes com covid-19 têm risco aumentado de complicações, como mostram os dois estudos norte-americanos.

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Menos anticorpos eficazes aos bebês

 (crédito: Emory School of Medicine/Divulgação)
crédito: Emory School of Medicine/Divulgação

Um estudo apresentado, ontem, na reunião anual da Sociedade de Medicina Materno-Fetal dos Estados Unidos, revelou que mulheres que contraem covid-19 durante a gravidez são capazes de produzir anticorpos, mas que a transferência dessas substâncias para os bebês é menor do que o esperado. Os anticorpos são produzidos pelo sistema imunológico para ajudar a combater as infecções. Especificamente, a pesquisa analisou a imunoglobulina G (IgG) e a atividade de neutralização, uma medida da potência da resposta de anticorpos, no sistema imunológico materno.

Os anticorpos IgG constituem, aproximadamente, 75% a 80% de todos do corpo e podem atravessar a placenta até o feto. Os neutralizantes bloqueiam a infecção e tornam os vírus menos ativos. “Um estudo recente analisou a resposta materna de anticorpos à infecção, mas nosso estudo é o primeiro a observar a resposta imune materna e os anticorpos neutralizantes”, disse, em nota, uma das principais autoras do estudo, Naima Joseph, pesquisadora da Faculdade de Medicina Emory. “Também observamos a transferência desses anticorpos através da placenta para o feto”, especificou.

O estudo analisou amostras de sangue materno e do cordão umbilical de 32 mulheres com teste positivo para covid-19 durante a gravidez. Das amostras maternas coletadas, 100% continham IgG e 94% apresentavam anticorpos neutralizantes. Das amostras de sangue do cordão, 91% continham IgG, mas somente 25% eram anticorpos neutralizantes.

“Uma das principais formas de proteger os bebês da infecção é pelos anticorpos que recebem no útero, então, quer a mulher fosse assintomática ou não, seria de se esperar uma porcentagem maior de anticorpos transferidos da mãe para o bebê, especialmente anticorpos neutralizantes”, disse a coautora Martina L. Badell. “O próximo passo é entender por que a transferência de anticorpos é diferente na infecção por covid-19 de outras infecções e se a transferência desses anticorpos aumenta quando vacinamos uma mulher grávida.”

 

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