Com o passar do tempo, o asfalto sofre inúmeros problemas em sua estrutura, provocando buracos, rachaduras e deformações — complicações que devem aumentar ainda mais devido aos efeitos das mudanças climáticas. Cuidar precocemente desses desgastes, com uma manutenção constante, evita que essas adversidades tornem-se mais graves e, também, reduz a poluição ao meio ambiente. Segundo os especialistas, gastar mais em pequenos reparos impede a emissão de partículas poluentes disseminadas pelos veículos que trafegam em estradas danificadas, além de gerar mais segurança para os motoristas.
As rodovias sofrem com diversos problemas à medida que envelhecem, e, para entender melhor esses prejuízos causados pelo tempo, pesquisadores da Universidade de Rutgers, nos Estados Unidos, decidiram analisar a qualidade e o desempenho de estradas do país, levando também em consideração o impacto ambiental dos reparos adotados ao longo dos anos. Para essa tarefa, a equipe usou dados coletados pelo Departamento de Transporte americano durante mais de uma década.
Por meio das análises, os especialistas observaram que medidas de manutenção feitas mais cedo, ou seja, quando as estradas tinham apenas pequenos danos, resultaram em uma redução maior das emissões de dióxido de carbono, que são poluentes ambientais. “Quando o pavimento está em seu estágio inicial de falha, a manutenção preventiva pode restaurar o desempenho e estender a vida útil do asfalto com custos mais baixos”, explicou ao Correio Hao Wang, professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Rutgers e principal autor da pesquisa.
No estudo dos dados, os cientistas constataram que a aplicação de uma camada fina de até duas polegadas no asfalto foi a medida que mais gerou redução do poluente (2%), seguida de um método de vedação de trincas do asfalto (0,5%). De acordo com os cálculos dos pesquisadores, a manutenção precoce de pavimentos pode gerar até 30% de economia para as empresas responsáveis pelas estradas (que evitam medidas de correção mais dispendiosas no futuro), além de 5% de redução no consumo de combustível dos motoristas, devido a uma maior rugosidade do asfalto reformado.
“A preservação do pavimento leva a benefícios ambientais significativos devido à melhoria das condições da superfície, o que resulta em um pavimento liso, que economiza energia e reduz, também, os custos do usuário”, assinalou o estudo, publicado no International Journal of Sustainable Transportation.
Também com o objetivo de entender melhor a durabilidade da pavimentação, outro grupo de pesquisadores analisou o desgaste do asfalto em rodovias de uma região localizada na costa do estado de New Hampshire, também nos EUA. Os especialistas levaram em consideração os danos gerados pelas mudanças climáticas características da região durante todo o ano, projetando cenários com possíveis aumentos de temperatura previstos para os próximos cinco anos.
Com base nos cálculos, a equipe chegou à conclusão de que um aumento de 7% a 32% na espessura da camada de asfalto seria a melhor maneira de manter o pavimento com maior qualidade para o tráfego. “É tudo uma questão de ser estratégico com a manutenção de nossas rodovias e acessos”, disse Jo Sias, professor de engenharia civil e ambiental da Universidade de New Hampshire, e autor do estudo, publicado na revista Transportation Research Record. “Assim como uma troca regular de óleo pode ajudar a prolongar a vida útil de um carro, nossa pesquisa mostra que a manutenção regular, como aumentar a espessura da camada de asfalto de algumas estradas, pode ajudar a protegê-los de maiores danos relacionados às mudanças climáticas”, acrescentou.
Segurança
O engenheiro civil Dickran Berberian, professor da Universidade de Brasília (UnB), explicou porque pequenos danos no asfalto são a porta de entrada para complicações ainda mais graves. “O primeiro sinal de que um pavimento está ruim e precisa de socorro é uma trinca. Ela é a abertura para uma infecção, digamos assim. Ali, pode entrar água e gerar ainda mais deformações. É aí que temos o perigo, pois aumentam as chances de acontecer acidentes”, descreveu. Ele destacou que esses riscos podem ser evitados com a aplicação de camadas mais grossas e manutenção constante.
De acordo com o professor, mesmo que pareçam caras e trabalhosas, essas medidas valem a pena pois podem evitar problemas muito mais graves. “É preciso contratar mais equipes, usar um material de mais qualidade, incluindo essas novas tecnologias que têm como premissa serem menos poluentes. E, principalmente, é importantíssimo realizar os checapes, pois só eles podem nos proteger”, frisou.
Berberian apresentou, como exemplo, o desabamento do viaduto no Eixão Sul, em 2018. “O viaduto de Brasília só caiu porque não teve essa avaliação. O mesmo ocorreu em um de São Paulo e acontece também em outros países, tivemos algo semelhante em uma ponte em Gênova”, completou.
Coordenadora do curso de Engenharia Civil da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Patrícia Barboza da Silva concordou que manutenção precoce e constante é uma medida que pode gerar danos positivos, mas ressaltou que a tarefa é difícil de ser realizada em zonas urbanas. “Reparos frequentes podem gerar muitos benefícios. O difícil é aplicá-los em todas as estradas. É mais complicado você conseguir fechar rodovias em locais mais urbanos, com muito movimento, onde não temos muito controle. Quando paramos o trânsito temos muitas complicações”, observou.
A engenheira apontou, ainda, a importância de monitoramento. “Para executar essas atividades preventivas, nós precisamos estar de olho constantemente, fazer avaliações periódicas, percorrer todas as vias para saber o cenário que temos. Mas, isso também é mais fácil de ser feito em regiões menos urbanas, como as cidades menores”, ressalvou.
Patrícia Silva lembrou que há uma mobilização em defesa do meio ambiente que impulsionará novos estudos sobre o tema. “Com certeza, existe um compromisso dos líderes mundiais em reduzir os malefícios gerados à natureza, e isso será levado em consideração por empresas que trabalham com as estradas e cuidam da manutenção desses espaços”, opinou.