Primeiro laboratório a ter uma vacina para a covid-19 aprovada internacionalmente, o alemão BioNTech, parceiro da norte-americana Pfizer no desenvolvimento do imunizante, tranquilizou a população mundial afirmando que, caso a nova mutação do Sars-CoV-2 identificada neste mês seja resistente à substância, é possível adaptá-la em seis semanas. “A beleza da tecnologia do RNA mensageiro é que podemos começar a conceber uma vacina que imita fielmente a nova mutação”, disse Ugur Sahin, cofundador da BioNTech, em uma entrevista coletiva, no dia seguinte à aprovação do imunizante na União Europeia.
O executivo insistiu, porém, que a probabilidade de a vacina atual ser totalmente eficaz contra a nova cepa é muito grande. “Cientificamente, é muito provável que a resposta imunológica provocada pela vacina possa servir para essa variante do vírus”, afirmou. De acordo com ele, a vacina desenvolvida em parceria com a Pfizer “contém mais de 1 mil aminoácidos e apenas nove deles sofreram mutação, o que significa que 99% da proteína é sempre a mesma”. Sahin acrescentou que, em duas semanas, serão publicadas as conclusões dos primeiros estudos realizados com a nova variante do vírus.
Identificada primeiramente no sudeste da Inglaterra, a nova cepa é até 70% mais infectante que as demais, segundo o Ministério da Saúde do Reino Unido. Porém, não há evidências científicas de que ela agrave o quadro da doença nem que seja mais letal. “Quando se trata da eficácia das vacinas, os diretores médicos e científicos do Reino Unido afirmam que as mudanças na proteína spike da nova variante provavelmente não reduzirão o efeito protetor das vacinas”, diz o farmacoepidemiologista Saad Shakir, diretor da Unidade de Pesquisas de Medicamentos, no Reino Unido, que participou de uma coletiva virtual com jornalistas, organizada pela organização não governamental Science Social Media.
Porém, Saad Shakir diz que é preciso esperar os resultados dos estudos para confirmação. “Uma vez que a vacina tem como alvo a proteína spike, a forma como a variante responde a ela e a proteção que oferecerá ainda precisam ser examinadas em detalhes, e os cientistas estão trabalhando sem parar para responder a essas perguntas”, justifica.
Sem suspensão
De acordo com Shakir, cientistas da unidade de pesquisa em Porton Down, no Reino Unido, estão cultivando a variante do vírus e examinarão a interação entre as vacinas já aprovadas no mercado e o vírus. Já os ensaios clínicos ou estudos epidemiológicos para examinar a questão em vacinados levarão muito mais tempo. O especialista insiste, porém, que ninguém deixe de se vacinar. “Todos devem se proteger com as vacinas se tiverem a sorte de consegui-las, a menos que sejam aconselhados a não fazê-lo por um profissional de saúde.”
“No momento, não há indícios de que essa nova cepa seja imune a tratamentos e vacinas. No entanto, a mutação é um lembrete do poder do vírus para se adaptar, e isso não pode ser descartado no futuro. Agir com urgência para reduzir a transmissão é fundamental”, diz Jeremy Farrar, diretor do Instituto Wellcome Trust, que elogiou, na coletiva, as medidas do governo britânico para evitar uma explosão de contágios. As restrições de circulação estão mais rígidas e o comércio não essencial será fechado em Londres e no sudeste da Inglaterra. “Ainda existem muitas incógnitas sobre o vírus da covid-19, e ele continua sendo uma grave ameaça para todos nós. Não há nenhuma parte do Reino Unido e nenhum país que não devam se preocupar.”