Sonda começa a explorar a Lua

Missão espacial chinesa tem início com a perfuração da superfície lunar para a coleta de amostras que poderão ajudar a entender a origem do satélite. Objetivo também é testar novas tecnologias espaciais. Retorno à Terra deve acontecer ainda neste mês

Um dia depois de ter pousado, com sucesso, na Lua, a sonda não tripulada Chang’e-5 conseguiu perfurar a superfície lunar, segundo a CNSA, a Agência Espacial da China. Essa é a primeira vez, em 40 anos, que se tenta trazer amostras de lá para a Terra. Com a poeira e o material coletado de rochas, os cientistas pretendem compreender melhor as origens e a formação do satélite, assim como estudar a atividade vulcânica.

Se tudo der certo, a China será o terceiro país a extrair amostras do satélite natural da Terra, depois dos Estados Unidos e da antiga União Soviética, nas décadas de 1960 e 1970, respectivamente. Essa missão é muito delicada tecnicamente e constitui uma nova etapa do ambicioso programa espacial chinês, que levou um robô teleguiado à face oculta da Lua no começo de 2019 — algo inédito no mundo.

A sonda Chang’e-5, assim chamada por causa de uma deusa da Lua na mitologia chinesa, entrou na órbita lunar no sábado, após 112 horas de viagem. Ela foi lançada da província de Hainan, no sul do país, na semana passada. A China tem investido bilhões de dólares em seu programa espacial, com a esperança de contar com uma estação tripulada em 2022 e, eventualmente, enviar seres humanos à Lua.

Inexplorada

O equipamento vai coletar 2kg de material da superfície em uma zona inexplorada, conhecida como oceanus procellarum (oceano das tempestades), que consiste em uma vasta planície de lava, de acordo com a revista Nature. Espera-se que a nave colete o material em um dia lunar, o equivalente a cerca de 14 dias na Terra.

As amostras serão enviadas à Terra em uma cápsula, que deverá aterrissar na região chinesa da Mongólia Interior (norte), em meados de dezembro. Na terça-feira, a televisão pública chinesa CCTV difundiu uma sequência na qual se vê o módulo espacial de 8,2t pousando sobre o solo lunar.

De máscara, os diretores da missão aplaudiam em frente às telas de monitoramento. Ao fundo, na imensa sala, um telão mostrava as primeiras imagens enviadas por Chang’e 5: as de uma paisagem lunar cinza repleta de crateras. O chefe científico da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), Thomas Zurbuchen, parabenizou a China pela aterrissagem da sonda.

O módulo Chang’e 5 é composto de quatro partes: um orbitador, que permanecerá em órbita lunar; um aterrissador, que pousou sobre a Lua; um módulo de subida, do solo até a órbita lunar, e uma cápsula de retorno à Terra. A missão é a primeira tentativa de recuperar rochas lunares desde uma realizada com sucesso pela antiga União Soviética em 1976.

Superpotência

Diferentemente do programa soviético, quando a sonda realizou diretamente o trajeto entre a Lua e a Terra depois de coletar amostras, a China utilizará um método bem mais complicado. As rochas serão, primeiro, colocadas no módulo de subida — que terá de chegar à órbita lunar Antes de serem transferidas para a cápsula de regresso à Terra. Essa operação ambiciosa também permitirá ao gigante asiático testar novas tecnologias, cruciais para enviar astronautas à Lua até 2030.

Os planos para o “sonho espacial” da China, como o denomina o presidente Xi Jinping, foram lançados durante seu governo. A meta é se equiparar com Europa, Rússia e Estados Unidos em feitos espaciais. Essa não foi a primeira vez que o país enviou uma sonda à Lua no âmbito do programa Chang’e. Um robô teleguiado chinês pousou na face oculta do satélite em janeiro de 2019, um feito inédito que impulsionou as aspirações de Pequim de se tornar uma superpotência espacial.

Os objetivos ambiciosos estabelecidos pelo governo chinês incluem a criação de um foguete superpotente capaz de levar cargas mais pesadas do que as que a Nasa e a empresa privada SpaceX podem levar, uma base lunar e uma estação espacial tripulada permanentemente. Astronautas e cientistas chineses também abordaram a possibilidade de enviar missões tripuladas a Marte.

2kg
Quantidade de material que será coletado, na Lua, pela Chang’e-5 ao longo de 14 dias