Existem vários fatores que influenciam a suscetibilidade de uma pessoa para desenvolver uma reação grave à infecção por Sars-CoV-2, como a idade e condições médicas preexistentes. Mas a genética também desempenha um papel e, aparentemente, heranças de genes neandertais podem estar envolvidas nesse risco.
Um estudo publicado na revista Nature revelou que uma região do cromossomo 3 do homem moderno é praticamente idêntica à de um neandertal que viveu há 50 mil anos no sul da Europa. Esse mesmo local foi identificado, em pesquisas recentes, como influenciador da gravidade da covid-19.
Trata-se de uma região genética muito longa, abrangendo 49,4 mil pares de base. Segundo Hugo Zeberg, pesquisador do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha, variantes nesse local aumentam o risco de um indivíduo desenvolver covid-19 severa. De acordo com o cientista, pessoas que carregam essas variantes neandertais têm risco até três vezes maior de depender de ventilação mecânica. “Obviamente, fatores como a idade e outras doenças que você tenha também afetam o quão severamente você é afetado pelo vírus. Mas, entre os fatores genéticos, esse é o mais forte”, destaca.
Os pesquisadores também descobriram que existem grandes diferenças na prevalência dessas variantes em diferentes partes do mundo. No sul da Ásia, cerca de 50% da população as carregam. No entanto, no leste asiático, eles quase não existem. Ainda não se sabe por que a região do gene neandertal está associada ao aumento do risco de adoecimento grave.
“Isso é algo que nós e outros estamos investigando o mais rápido possível”, diz Svante Pääbo, pesquisador do Max Planck é responsável pelo primeiro sequenciamento genético total de um espécime de Homo neanderthalensis. As descobertas de Pääbo na última década foram fundamentais para derrubar o mito de que a extinta espécie era inferior ao Homo sapiens. “É impressionante que a herança genética dos neandertais tenha consequências tão trágicas durante a atual pandemia”.