Alimento que salva vidas

No mês da conscientização da prematuridade, a Secretaria de Saúde alerta para a queda nos estoques dos bancos de leite do DF. Quantidade mensal ideal é de 3 mil litros


Na unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal, medo e alegria confundem-se. Isso porque as mães acompanham apreensivas o desenvolvimento do bebê fora do útero, antes do tempo completo de gestação, contabilizado entre a 37ª e 42ª semana. O leite materno, um dos fatores essenciais para garantir o desenvolvimento do recém-nascido, também é um motivo de preocupação das mães, que, muitas vezes, não conseguem produzir grande quantidade do alimento e precisam recorrer aos bancos de leite humano (BLH) das redes de saúde do Distrito Federal.

Mas, isso nem sempre é tarefa fácil. Com a pandemia do novo coronavírus, os estoques do alimento, ao longo do ano, permaneceram mais baixos do que o normal. Até agosto, a Secretaria de Saúde (SES-DF) contabilizou estoque de 11.806,8 litros de leite, uma média de 1.475,85 litros por mês. A quantidade mensal ideal, porém, é de 3 mil, de acordo com a coordenadora de Políticas de Aleitamento do DF, Miriam dos Santos. “Essa baixa nos estoques preocupa, pois cada vez mais os bebês prematuros sobrevivem e ficam, pelo menos, quatro meses internados”, observa.

De acordo com a SES-DF, há, em média, 30 litros de leite por dia para cerca de 250 bebês, que se alimentam diariamente na rede pública de saúde. É o caso da Alice Vitória Ribeiro. Internada no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) há mais de dez dias, a bebê precisa tomar cerca de 10ml de leite, diariamente. Ao lado da mãe, Gabriela Ribeiro Faer, 25 anos, a pequena vai ganhando força com a amamentação. “Ela nasceu de 26 semanas e quatro dias, pesando 875 gramas. Ela toma leite de três em três horas e estou sempre a acompanhando. Nos próximos dias, irão pesá-la para verificar quantas gramas a mais ela ganhou”, conta Gabriela. A recém-nascida recebe uma quantidade do leite extraído pela mãe e o restante é complementado com as doações enviadas para o banco de leite do HRT.

Mãe de mais dois filhos, esta foi a primeira experiência da moradora de Recanto das Emas com a prematuridade. “Quando me contaram, fiquei com bastante medo, chorei muito, porque deram 50% de chance de que ela não sobreviveria”, relembra Gabriela. Hoje, com os cuidados recebidos, a mãe já está mais confiante. “Cada dia eu a vejo melhor e isso me deixa muito feliz”.

Doação

Toda mulher saudável e que esteja em período de amamentação é uma potencial doadora de leite materno, independentemente da idade da criança. No DF, o recolhimento de leite humano pode ser feito em casa e doado para as 13 unidades de saúde do DF (veja Para doar leite). A coleta é realizada em domicílio com o apoio do Corpo de Bombeiros, que há 31 anos dá suporte ao programa da Secretaria de Saúde. As unidades também aceitam doações de potes de vidros com tampas plásticas (semelhantes a de cafés solúveis) para comportar o líquido.

Uma vez por semana, Taís Senna, 30, costuma entregar aos militares o leite coletado. O alimento, além de nutrir a filha Diana, de três meses, também ajuda outros bebês do DF. Esse é um dos motivos de felicidade da nutricionista. “Quando fiz estágio obrigatório na graduação, acabei caindo na área dos bancos de leite. A experiência foi muito apaixonante, porque eu tinha contato com os nenéns que estavam na UTI e via a evolução deles durante o processo nutritivo. Então, era um desejo que tinha desde que eu trabalhei lá. Sempre quis fazer isso antes mesmo de engravidar”, relata Taís.

Mãe de primeira viagem, a amamentação, para ela, é um processo de doação e descoberta. “É uma experiência desafiadora e de criar vínculo com a criança. A gente se doa por inteiro”, comenta. A moradora de Águas Claras também considera importante ter profissionais que ajudem nas informações e comentem os desafios e cuidados na amamentação. “Serve como uma rede de apoio durante o processo”, aconselha.

Os bancos de leite da rede de saúde do DF, por exemplo, oferecem apoio para quem tiver dificuldades para amamentar. “Muitas vezes, a mãe produz o leite, mas, por problemas no manejo na hora de dar de mamar, acha que não tem leite suficiente para o filho”, alerta a coordenadora das Políticas de Aleitamento Materno do DF, Miriam Santos. “A nossa função é fazer com que a vida dessas mães seja menos árduas e ajudá-las a conseguir extrair o próprio leite”, acrescenta a pediatra.

 


Bancos de leite
Além do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), o Distrito Federal conta com bancos de leite nos hospitais regionais da Asa Norte (Hran), de Sobradinho (HRS), de Samambaia (HRSam), de Brazlândia (HRBraz), de Ceilândia (HRC), do Guará (HRG), de Taguatinga (HRT), de Planaltina (HRP), Leste, do Paranoá (HRL) e de Santa Maria (HRSM), além da policlínica do Riacho Fundo e do posto de coleta de São Sebastião.

 

Estoques de leite
A Secretaria de Saúde informa que, até o mês de agosto, o Banco de Leite Humano (BHL) possuía 11.806,8 litros de leite. A coleta por mês, em 2020, dividiu-se da seguinte forma:

Janeiro1.113,7 litros

Fevereiro1.130,6 litros

Março1.391,3 litros

Abril1.528,5 litros

Maio1.642,5 litros

Junho1.917,1 litros

Julho1.588,2 litros

Agosto1.494,2 litros

 

Para doar leite
• Cadastre-se em http://amamentabrasilia.saude.df.gov.br/2056/QueroDoar/
• Procure qualquer um dos bancos de leite do DF
• Ligar para 160, opção 4 (Corpo de Bombeiros busca em domicílio)