SAÚDE

Covid-19: risco de morrer é 36% maior em jovens obesos

Condição também aumenta a possibilidade de agravamento da covid-19, mostram cientistas americanos. No estudo, 80% dos pacientes com menos de 50 anos hospitalizados devido à infecção pelo Sars-CoV-2 estavam com sobrepeso ou obesidade

Desde o início da covid-19, foi estabelecido que pacientes acima dos 50 anos e com condições preexistentes estavam em maior risco de evolução da doença. Porém, os mais jovens não estão isentos da possibilidade de um quadro mais grave e até de óbito, especialmente caso apresentem sobrepeso ou obesidade. O alerta é de um estudo publicado na revista Circulation que teve como base dados de mais de 7,6 mil internos, atendidos em 88 hospitais norte-americanos e diagnosticados com a infecção por Sars-CoV-2.


Atualmente, 2,3 bilhões de pessoas estão com sobrepeso ou obesidade em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa classificação é estipulada pelo índice de massa corporal, um cálculo que leva em consideração o peso e a altura do indivíduo. Estão acima do peso aqueles com IMC maior que 25. Já a obesidade refere-se a um índice superior a 30. Estudos vinculam o excesso de gordura corporal a uma série de doenças, que vão de diabetes a câncer.


“Em geral, os indivíduos obesos são mais propensos a serem hospitalizados com covid-19 do que aqueles com peso normal”, afirma Nicholas Hendren, cardiologista da Universidade do Texas em Southwestern e principal autor do estudo. “Quando internados, os com obesidade têm maior risco de morte ou de necessidade de ventilação mecânica para ajudá-los a respirar, mesmo se forem jovens”, diz, com base nos dados pesquisados, que serão apresentados na Conferência Anual da Associação Norte-Americana do Coração. “Se você é jovem e obeso, está em alto risco, apesar da sua idade”, confirma Justin Grodin, autor sênior do artigo.


A análise das estatísticas hospitalares mostrou que 85% dos pacientes com menos de 50 anos estavam com sobrepeso ou obesidade. Entre eles, aqueles com obesidade grave (IMC acima de 40) tiveram um risco 36% maior de morrer, em comparação com indivíduos com peso normal. No geral, adultos com obesidade grave apresentaram risco 26% maior de óbito.


Observando todos os pacientes adultos, ou seja, incluindo os com mais de 50 anos, o risco de adoecer o suficiente para exigir um ventilador aumentou paralelamente à medida que o peso evoluía de sobrepeso para a obesidade III, de acordo com o estudo. A chance de morrer da doença também foi maior entre essas pessoas.


Segundo Hendren e Grodin, as descobertas do estudo devem alertar as pessoas com sobrepeso ou obesas — incluindo aquelas com menos de 50 anos, que podem se sentir seguras por causa da idade — que elas correm um risco maior de covid-19. “Pessoas na categoria mais grave de obesidade devem ser consideradas de alto risco e podem justificar a priorização de uma vacina, quando ela estiver disponível”, defende Hendren.

Comorbidades

Embora os números não expliquem por que a obesidade piora o prognóstico dos pacientes com covid-19, o estudo sugere várias possibilidades. “Em primeiro lugar, a obesidade está associada a doenças que foram relacionadas ao agravamento da covid-19, como hipertensão e diabetes. Em segundo lugar, o vírus Sars-CoV-2 usa uma enzima, a ACE2, para entrar e infectar células humanas, e essa enzima é abundante no tecido adiposo”, diz Grodin. Além disso, ter mais peso no peito pode dificultar a respiração dos pacientes.


Segundo o cardiologista, os efeitos negativos ligados à obesidade podem ser mais aparentes em pacientes jovens porque os mais velhos têm muitos outros fatores de risco, que se sobrepõem a esse. Uma outra possibilidade, levantada pelo imunologista Durga Singer, da Universidade de Michigan, é a interação entre excesso de peso e sistema imunológico. “Evidências recentes destacaram como um componente do sistema imunológico, o macrófago, pode ser o culpado pela gravidade da covid-19”, diz Singer, que não participou do estudo texano e é autor de uma revisão sobre os efeitos da obesidade no agravamento da infecção por Sars-CoV-2.


Os macrófagos são células do sistema imunológico que liberam citocinas para convocar outras células do organismo no combate a invasores, como vírus e bactérias. Essas importantes substâncias pró-inflamatórias são essenciais na orquestração da defesa contra o Sars-CoV-2, mas, quando em excesso, provocam a chamada “tempestade de citocinas”, que está associada à gravidade da doença. “A obesidade causa uma ativação crônica de baixo grau de algumas partes do sistema imunológico. Quando alguém com essa condição preexistente se depara com uma infecção, isso pode levar à hiperativação do sistema imunológico, mas de uma forma prejudicial, que não combate a infecção, e apenas piora o quadro”, destaca.

 

Revisão confirma que CoronaVac é segura

Resultados de um ensaio clínico da vacina chinesa CoronaVac divulgados na The Lancet Infections Diseases apontam que o imunizante, que vem sendo testados em diversas cidades do mundo, incluindo Brasília, é seguro. O estudo preliminar, conduzido entre abril e maio com 700 pessoas, não foi desenhado para averiguar a eficácia da substância, mas constatou também que ela induz uma resposta de anticorpos. A informação havia sido antecipada pelos criadores da fórmula. Agora, os resultados foram revisados por pares e divulgados na revista científica.


Segundo o artigo, a produção das proteínas neutralizantes (capazes de destruir o vírus) ocorreu dentro de 28 dias após a primeira imunização, administrada em duas doses da vacina candidata, com 14 dias de intervalo entre elas. A pesquisa também identificou a dose ideal para gerar as respostas de anticorpos mais altas, de 3g?, e isso será estudado mais detalhadamente nos testes de fase três, que já estão em andamento.


Os títulos médios de anticorpos neutralizantes induzidos pela CoronaVac variaram de 23,8 a 65,4 — mais baixos do que os níveis observados em pessoas que tiveram covid-19 anteriormente (nível médio de 163,7). No entanto, os pesquisadores acreditam que a vacina pode fornecer proteção suficiente contra a covid-19, com base na experiência com outras vacinas e dados dos estudos pré-clínicos, em macacos.


“Nossas descobertas mostram que a CoronaVac é capaz de induzir uma resposta rápida de anticorpos dentro de quatro semanas de imunização, dando duas doses da vacina em um intervalo de 14 dias. Acreditamos que isso torna a vacina adequada para uso de emergência durante a pandemia”, diz Fengcai Zhu, coautor do estudo e pesquisador do Centro Provincial de Controle e Prevenção de Doenças de Jiangsu, em Nanjing, na China. “A longo prazo, quando o risco de covid-19 for menor, nossos resultados sugerem que administrar duas doses com um intervalo de meses, em vez de uma pausa de duas semanas, pode ser mais apropriado para induzir respostas imunes mais fortes e, potencialmente, mais duradouras. No entanto, mais estudos são necessários para verificar quanto tempo a resposta de anticorpos permanece após qualquer esquema de vacinação.”

Mais testes

Como o ensaio não foi desenhado para avaliar a eficácia, os resultados dos estudos de fase 3 serão cruciais para determinar se a resposta imune gerada pela CoronaVac, da companhia chinesa Sinovac, é suficiente para proteger da infecção por Sars-CoV-2. Além disso, a persistência da resposta dos anticorpos precisa ser verificada em estudos futuros para se descobrir a duração de qualquer proteção. Por fim, o trabalho incluiu apenas adultos saudáveis, com idade entre 18 e 59 anos, e mais testes serão necessários para avaliar a vacina candidata em outras faixas etárias, bem como em pessoas com condições médicas preexistentes.

A CoronaVac é uma das 48 vacinas candidatas para covid-19 que estão em ensaios clínicos. É um imunizante de vírus inativado, baseado em uma cepa de Sars-CoV-2 que foi originalmente isolada de um paciente na China. Uma das vantagens desse protocolo é que ele dispensa refrigeração a temperaturas extremas, como é o caso das vacinas genéticas, tornando a distribuição mais realista.

Os autores, porém, observam algumas limitações no estudo. O ensaio de fase dois não avaliou as respostas das células T, que são outro braço da resposta imunológica às infecções por vírus. Isso será avaliado nos testes de fase três em andamento.
Escrevendo em um comentário vinculado, Naor Bar-Zeev, da Universidade Johns Hopkins, que não esteve envolvido no estudo, pediu cautela. “Como todos os ensaios de fase dois, os resultados devem ser interpretados com cautela até que os da fase três sejam publicados.”