Uma equipe de historiadores, cientistas, especialistas em inteligência artificial e perfumistas anunciou nesta terça-feira (17) o lançamento de um ambicioso projeto para identificar, recriar, arquivar e expor ao público os aromas do passado histórico da Europa do século XVI.
Do fedor das primeiras indústrias aos odores perdidos dos perfumes usados no combate a certas doenças, o projeto ODEUROPA utilizará a inteligência artificial para identificar em obras de arte como pinturas e livros os aromas que flutuaram no continente até ao início do século XX.
"Queremos ensinar o computador a ver um cheiro", explicou Peter Bell, professor de humanidades digitais na Universidade Alemã de Erlangen-Nuremberg.
"Nosso objetivo é desenvolver um 'olfato informático' capaz de rastrear cheiros e experiências olfativas", disse ele.
Em seguida, químicos e perfumistas em uma equipe que reúne especialistas de seis países reproduzirão as fragrâncias, que serão apresentadas ao público em museus de todo o continente a partir de 2021.
O cheiro esteve no centro de importantes transições na história da Europa, explica William Tullett, historiador da Universidade Anglia Ruskin em Cambridge e membro da ODEUROPA.
"A colonização, a urbanização, a industrialização, o nacionalismo, a comercialização, quase todos os processos históricos importantes influenciaram o que cheiramos", assegura ele.
O arquivo será armazenado online, à disposição de todos, por meio da primeira enciclopédia histórica de odores do mundo, que fornecerá informações sensoriais altamente incomuns sobre o passado.
Com um orçamento de 2,8 milhões de euros (3,32 milhões de dólares) financiado pela União Europeia, a investigação "vai mergulhar nas coleções do patrimônio digital para descobrir os principais cheiros da Europa e as histórias que contam e isso nos trará de volta aos nossos olfatos atuais", diz Inger Leemans, professora de história cultural da Vrije Universiteit de Amsterdã.
Na opinião de Tullet, "a covid-19 ilustrou os efeitos profundamente negativos que a perda do olfato - um sintoma e efeito colateral da doença - pode ter em nosso bem-estar físico e mental".
"A pandemia revelou a fragilidade do nosso ambiente sensorial e a necessidade de preservar os odores que têm significado para as comunidades", afirma.