Pesquisadores estão cada vez mais interessados em entender como o fator raça influencia no acesso dos cidadãos à direitos básicos, como a saúde. E já há alguns indícios que comprovam que a cor da pele influencia nos cuidados recebidos pelos pacientes, explica a coordenadora do Observatório da Saúde da População Negra (PopNegra), vinculado ao Núcleo de Estudos de Saúde Pública da Universidade de Brasília (UnB), Marjorie Chaves.
"A gente tem um problema grave no Brasil, por exemplo, que é a violência obstétrica e a morte materna. Essas violências atingem especificamente mulheres negras, em sua maioria. Isso significa, então, que, em algum momento, na gestação, no parto, essas mulheres são negligenciadas nesses serviços. Recebendo menos anestesia, menos atenção médica no momento do parto", detalhou em entrevista ao programa CB.Saúde — parceria do Correio com a TV Brasília.
Chaves lembrou que esse tipo de problema tem uma de suas raízes em um mito racista bastante difundido no país. "As mulheres negras são consideradas fortes, existe um estereótipo, existe uma representação de mulheres negras que elas aguentam a dor, que elas são parideiras. Isso faz com que elas recebam, por exemplo, menos analgesia. Isso também é uma violência", colocou.
Mas o problema ultrapassa as mulheres. De acordo com a pesquisadora, esse tipo de postura se repete com toda a população negra de formas diferentes e é reflexo de um tipo de racismo ainda mais difícil de combater que a ofensa pessoal, o racismo institucional. Para ela, uma forma de diminuir o impacto das desigualdades raciais e econômicas no acesso das pessoas à saúde é a ampla participação da sociedade civil.
“Isso necessita principalmente de uma mobilização das organizações da sociedade civil, dos cidadãos e cidadãs, de cobrar das instituições públicas esse melhor serviço porque isso não é um favor. Isso é um direito. Um direito que está na constituição, é um direito que está na própria política, no próprio desenho do SUS (Sistema Único de Saúde)", instigou.