O diretor-executivo do laboratório britânico AstraZeneca, Pascal Soriot, afirmou nesta quinta-feira (26) que é necessário fazer mais estudos sobre sua vacina contra a covid-19, em função dos questionamentos sobre a proteção que ela pode oferecer contra o coronavírus.
"Agora que chegamos ao que parece ser uma maior eficácia, temos que validar isso, por isso, precisamos de um estudo adicional", disse Soriot em entrevista à agência Bloomberg.
O laboratório britânico e a Universidade de Oxford, com quem desenvolve este projeto, anunciaram na segunda-feira que segundo os resultados dos ensaios clínicos realizados no Reino Unido e Brasil, sua vacina apresenta uma eficácia média de 70%.
No entanto, este dado procede de dois grupos distintos.
Um grupo menor, o qual recebeu primeiro meia dose e um mês depois uma dose completa, apresentou uma eficácia de 90%.
Um segundo grupo muito maior, que recebeu duas doses da vacina com um mês de diferença, mostrou uma eficácia de 62%.
Andrew Pollard, cientista da Universidade de Oxford, explicou que a diferença pode ser explicada porque "ao dar uma primeira dose menor, estamos preparando o sistema imunológico de um modo diferente, estamos preparando-o melhor para responder".
Entretanto, os cientistas reconheceram que a quantidade menor administrada inicialmente ao primeiro grupo partiu de um erro na dose que os pesquisadores decidiram aproveitar depois.
Concluiu-se depois que, além de ser muito menor, este grupo tinha um limite máximo de idade de 55 anos.
- Não deve atrasar a aprovação -
O incidente levantou dúvidas sobre a eficácia da vacina em idosos, o que fez com que a ação da AstraZeneca caísse na bolsa, mas aparentemente não preocupou os médicos do governo britânico, que investiu alto nesse projeto.
"Sempre há um debate científico sobre tudo", disse o conselheiro médico-chefe, Chris Whitty, em uma entrevista coletiva com o primeiro-ministro Boris Johnson.
"A resposta consiste em deixar nas mãos dos reguladores, é sempre um erro fazer muitas interpretações cedo demais”, acrescentou.
Sendo assim, para confirmar os resultados, quando uma meia dose é administrada e, em seguida, uma completa, provavelmente será realizado um outro "estudo internacional", afirmou Soriot.
"Mas pode ser mais rápido porque sabemos que a eficácia é alta e precisamos de um número menor de pacientes", acrescentou, destacando que a pesquisa adicional não deve atrasar a aprovação da vacina pelas reguladoras de saúde que o laboratório se dispõe a solicitar.
As outras duas vacinas em estágio muito avançado, desenvolvidas pelos laboratórios americanos Pfizer e Moderna, mostraram eficácia superior a 90% em ensaios clínicos.
No entanto, o projeto AstraZeneca tem a vantagem de usar uma tecnologia tradicional que o torna muito mais barato: custaria 4 dólares a dose contra mais de 25 para as demais.
O laboratório também se comprometeu a distribuí-la a preço de custo para os países mais pobres.
A vacina britânica também tem a vantagem de poder ser mantida pelo menos seis meses refrigerada entre 2ºC e 8ºC, o que facilita a distribuição para todo o mundo, em comparação com a Pfizer que deve ser mantida a -70ºC, temperatura bem inferior à de um freezer normal.
Saiba Mais
- Política Aras defende que estados podem impor vacinação obrigatória
- Mundo O desafio de levar a vacina do coronavírus a todos os cantos da América Latina
- Ciência e Saúde AstraZeneca admite erro de dosagem em vacina e enfrenta crítica de cientistas
- Brasil Pfizer envia primeiros dados de testes clínicos da vacina à Anvisa
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.