AVANÇO

Vem aí o satélite mais moderno de monitoramento da Terra; veja detalhes

Com lançamento previsto para 10 de novembro, o satélite de observação da Terra monitorará de perto o nível do mar e fornecerá dados atmosféricos para apoiar a previsão do tempo e modelos climáticos

Em 10 de novembro, o mais recente e moderno satélite de observação da Terra será lançado da Base da Força Aérea de Vandenberg, na Califórnia (EUA). Em uma parceria histórica entre Estados Unidos e Europa, o satélite Sentinel-6 Michael Freilich terá como missão principal coletar dados sobre o nível do mar em todo o mundo, a fim de monitorar como os oceanos estão subindo em resposta às mudanças climáticas.

A missão, com previsão de pouco mais de cinco anos, também coletará dados de temperatura e umidade atmosférica que ajudarão a melhorar as previsões meteorológicas e modelos climáticos (entenda mais abaixo).

Para a chefe do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), professora dra. Marcia Yamasoe, o novo dispositivo é um marco para a ciência moderna. “É claro que os benefícios para a sociedade e os ecossistemas só serão percebidos se, aliado ao conhecimento científico, houver políticas públicas que visem a mitigar os impactos observados”, afirma. 

Dr. Michael Freilich

O Sentinel-6A foi renomeado para homenagear o cientista da Agência Espacial dos Estados Unidos (Nasa), Dr. Michael H. Freilich, que se aposentou no começo de 2019, depois de 12 anos de contribuições como diretor da Divisão de Ciências da Terra. O objeto recebe, então, o nome oficial de Sentinel-6 Michael Freilich.

O cientista foi responsável por revitalizar a frota de satélites observadores da Terra, além de comandar 16 missões e lançamentos instrumentais com sucesso, e oito lançamentos de satélites menores, incluindo alguns do tipo CubeSat. Segundo a Agência, Freilich é “um defensor incansável do avanço das medições de satélite do oceano”.

Legado

Sentinel-6 Michael Freilich é uma herança da missão Copernicus Sentinel-3 da ESA — Agência Espacial Europeia —, bem como um legado das séries TOPEX/Poseidon e Jason-1, 2 e 3 dos satélites de observação do nível do mar.

Lançado em 2016, Jason-3 está atualmente fornecendo dados iniciados com as observações do TOPEX/Poseidon, em 1992.

Os dados desses satélites se tornaram “o padrão ouro”, na definição da Nasa, para estudos do nível do mar nos últimos 30 anos. E, para 2025, está programado o lançamento do gêmeo do Sentinel-6 Michael Freilich, o Sentinel-6B, que avançará nessas medições por pelo menos mais meia década.

"Este registro contínuo de observações é essencial para rastrear o aumento do nível do mar e compreender os fatores que contribuem para isso", disse Karen St. Germain, diretora da Divisão de Ciências da Terra da Nasa, em nota.

"Com o Sentinel-6 Michael Freilich, garantimos que essas medições avançam tanto em número quanto em precisão. Esta missão homenageia um cientista e líder excepcional e continuará o legado de Mike de avanços em estudos oceânicos", completa.

Entenda

Os oceanos e a atmosfera estão conectados. O mar, de acordo com os cientistas da Agência, absorve mais de 90% do calor retido pelo aumento dos gases de efeito estufa, o que faz com que haja a expansão térmica da água.

Essa expansão é responsável por cerca de 1/3 do aumento do nível do mar moderno, enquanto o derretimento das geleiras e mantos de gelo é responsável pelo restante.

Futuramente, o aumento do nível do mar mudará os litorais e aumentará as inundações de marés e tempestades. Para entender melhor como a elevação do mar afetará a humanidade, os pesquisadores precisam de longos registros climáticos — algo que o Sentinel-6 Michael Freilich ajudará a fornecer.

O cientista da Nasa Josh Willis ressalta que o Sentinel-6 Michael Freilich é um feito histórico para tais medições. "É a primeira vez que conseguimos desenvolver vários satélites que abrangem uma década completa, reconhecendo que as mudanças climáticas e a elevação do mar vieram para ficar", afirma.

Sentinel-6 Michael Freilich x Satélites Jason

A série de satélites Jason, desde 2001, tem sido capaz de rastrear grandes feições oceânicas, como a Corrente do Golfo, e fenômenos climáticos como El Niño e La Niña, que se estendem por milhares de quilômetros. No entanto, medir variações menores do nível do mar perto da costa — o que pode afetar a navegação de navios e a pesca comercial — está além de suas capacidades.

O Sentinel-6 Michael Freilich coletará as medições em resolução mais alta. Além disso, incluirá nova tecnologia no instrumento Advanced Microwave Radiometer (AMR-C) que, junto com o altímetro radar Poseidon-4 da missão, permitirá que os pesquisadores percebam características oceânicas menores e mais complicadas, especialmente perto da costa.

Mudanças atmosféricas

A mudança climática não afeta apenas os oceanos e a superfície da Terra, mas todos os níveis da atmosfera, da troposfera à estratosfera.

O satélite também poderá ser usado por cientistas para medir mudanças mínimas na densidade atmosférica, temperatura e teor de umidade.

Quando os pesquisadores adicionarem essas informações aos dados existentes de instrumentos semelhantes atualmente no espaço, eles serão capazes de entender melhor como o clima da Terra está mudando ao longo do tempo.

"Como as medições de longo prazo do nível do mar, também precisamos de medições de longo prazo de nossa mudança de atmosfera para entender melhor os impactos totais das mudanças climáticas", disse Chi Ao, cientista de instrumentos GNSS-RO do JPL, também por nota.

Esforços conjuntos

O dispositivo é o primeiro esforço conjunto Nasa-ESA em uma missão de satélite de ciências da Terra, e marca o primeiro envolvimento internacional no Copernicus, o Programa de Observação da Terra da União Europeia.

Ele continua uma tradição de décadas de cooperação entre a Nasa, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) e parceiros europeus, incluindo a ESA, a Organização Europeia intergovernamental para a Exploração de Satélites Meteorológicos (EUMETSAT) e o Centro Nacional de Estudos Espaciais da França (CNES).

Análise

A cientista da USP explica que o satélite medirá, por exemplo, as variações do nível do mar, a partir de um sinal de radar. Então o objeto analisa o tempo que esse sinal emitido demora para retornar. “Como o sinal tem velocidade conhecida, a velocidade da luz, o tempo entre ida e volta permite determinar a distância percorrida, explica Marcia Yamasoe.

“Como grande parte da população mundial se estabeleceu próximo à costa, monitorar o quão rápido o nível do mar está subindo será importante para que decisões mais precisas e rápidas possam ser tomadas para minimizar o impacto a essa população.”

A doutora ressalta que tal avanço tecnológico que permite monitorar o meio ambiente em consonância com as atividades humanas é de grande importância. Contudo, apesar da tecnologia, os benefícios só serão percebidos pela sociedade e ecossistemas caso haja políticas públicas que miguem os impactos observados. “É um grande avanço para a ciência, os ecossistemas e a humanidade”, finaliza.