ASTRONOMIA

Observatório mineiro flagra Marte em proximidade máxima com a Terra; veja vídeo

Distância entre o planeta vermelho e a Terra no início desta semana foi a menor prevista para os próximos 14 anos

Quem tem o hábito de olhar para o céu durante à noite provavelmente reparou, nos últimos dias, uma estrela bem brilhante ao lado da lua. Essa "estrela", na verdade, é o planeta Marte, que esteve em proximidade recorde com a Terra durante esta semana. E foi por isso que o Observatório Zênite, de Monte Carmelo, no Triângulo Mineiro, conseguiu captar detalhes incríveis do planeta vermelho em uma gravação realizada na última terça-feira (7).

"Este é o melhor momento do ano para observar e fotografar Marte. Os planetas estão girando e se cruzando em suas órbitas e foi a maior aproximação de Marte dos próximos 14 anos". comenta o técnico em Tecnologia da Informação e entusiasta pela astronomia Carlos Alberto Palhares, responsável pela captação.

"O ápice do ciclo foi em 2018, mas ainda está bem próximo. A tendência é que se afaste até 2027, volte a se aproximar e só fique visível dessa forma novamente em 2034", completa. Na captação, o planeta estava a cerca de 62,7 milhões de km de distância daqui.

A gravação, que durou cinco horas, conseguiu captar com detalhes a rotação do planeta vermelho e algumas estruturas geológicas. "No vídeo dá para ver que o planeta girou bastante e conseguimos ver Syrtis Major, uma estrutura geológica que, na imagem, é uma mancha preta que parece o continente africano invertido", explica. "É muito legal ver esse trânsito. A mancha percorrendo todo o período de rotação com a face visível".

Distância entre o planeta vermelho e a Terra no início desta semana foi a menor prevista para os próximos 14 anos

"Ao Sul, podemos observar uma capa polar bem pequena. Só o que sobrou dela devido ao verão no hemisfério sul marciano", completa. "Ao Norte, temos um tom mais branco-azulado. É o polar hood, uma nuvem de cristais de água que se forma e precede o crescimento da capa polar".

A gravação foi feita com o telescópio SCT Celestron C8, montagem CG5 GT, câmera ASI290mc, entre 22h38 do último dia 6 e 03h42 do último dia 7, no Horário de Brasília.

Ocultação de Marte

No último dia 9 de agosto, o Observatório também conseguiu um flagra raro: a ocultação de Marte pela Lua.

"Conforme a Lua navega em torno da Terra, ela acaba passando em frente de estrelas e planetas. Às 05h38 do dia 09/08, dia dos pais, aconteceu a ocultação de Marte, um raro fenômeno natural onde a Lua encobre o planeta por alguns instantes", detalha Palhares. "Momento muito emocionante e de rara beleza".

A última vez em que o fenômeno havia sido vísivel no Brasil foi em 2012. "Neste ano, por sorte e coincidência, tivemos duas seguidas, em agosto e setembro, e mais uma vez passou apenas o rasante em outubro", completa.

O Observatório

Carlos Alberto é um entusiasta pela astronomia desde criança. Começou a observar o céu com mais detalhes em 2007, quando comprou um binóculo. "Comecei a aprender a dinâmica do céu ali. Em 2009, comprei um telescópio, comecei a fotografar", relembra.

O Observatório Zênite veio de uma necessidade de manter os equipamentos de forma fixa. "É trabalhoso ficar montando e desmontando. E como eu comecei a vislumbrar observações melhores, fui adquirindo equipamentos e montei", conta.

O observatório fica em um cômodo da casa de Carlos Alberto, que é técnico em Tecnologia da Informação na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e realizou o investimento do próprio bolso. "Eu e minha esposa estávamos construindo a casa aqui e fiz um espaço".

Palhares conta que aprendeu a observar o céu com a prática. "A gente vai aprendendo tudo sozinho. Hoje tem tudo no Youtube, né? E a gente tem um grupo muito bacana de astrônomos aqui no Brasil. Por ser muito difícil, o pessoal se une", narra.

Apesar de a astronomia ser um hobbie, Palhares não esconde a paixão pela ciência. "A relação com o meu trabalho é estar envolvido com a tecnologia de alguma forma, mas não é uma atuação profissional. Ainda!".


*Estagiário sob supervisão do subeditor Frederico Teixeira