O britânico Roger Penrose, o alemão Reinhard Genzel e a americana Andrea Ghez foram anunciados nesta terça-feira (6) como os vencedores do Prêmio Nobel de Física de 2020, por suas pesquisas sobre os buracos negros do Universo, dos quais nada escapa, sequer a luz.
Metade do prêmio foi atribuída a Penrose, de 89 anos, por demonstrar "que a formação de um buraco negro é uma previsão sólida da teoria da relatividade geral", enquanto a outra metade será dividida entre Genzel, de 68, e Ghez, de 55, pela descoberta de um "objeto compacto e extremamente pesado no centro de nossa galáxia", explicou o júri do Nobel.
Andrea Ghez é a quarta mulher a vencer o Nobel de Física, a categoria com o maior predomínio masculino entre as seis que integram o prêmio. "Estou muito feliz por poder servir de exemplo para as jovens que planejam seguir nesta área", disse Ghez à AFP.
"Não sabemos o que um buraco negro contém, não temos ideia, por isso é algo tão exótico, é algo que nos intriga, que nos faz seguir além dos limites da compreensão", afirmou a premiada, localizada por telefone pela Fundação Nobel.
Próximo de Stephen Hawking
Penrose utiliza a matemática desde 1965 para provar que os buracos negros podem se formar e virar uma entidade da qual nada, nem mesmo a luz, pode escapar. Seus cálculos demonstraram que os buracos negros são uma consequência direta da teoria da relatividade geral de Einstein.
O cientista britânico era próximo de seu famoso compatriota astrofísico Stephen Hawking, que morreu em 2018. Um Nobel para ele teria sido "bastante merecido", reconheceu o professor em coletiva de imprensa.
Juntos, eles "provaram matematicamente que quando uma estrela muito massiva entra em colapso, ela termina em um buraco negro. Seu trabalho mostrou que o estado final da matéria retorna a um único ponto", explicou à AFP Luc Blanchet, do Instituto de Astrofísica de Paris.
"É uma pena que não tenham dado o Prêmio Nobel a Penrose e Hawking antes de ele falecer. Este prêmio chega dois anos depois de sua morte e seu trabalho remonta aos anos 1960", lamentou.
Desde os anos 1990, Genzel e Ghez pesquisam em conjunto uma zona que recebeu o nome Sagitário A*, no centro da Via Láctea. Usando os maiores telescópios do mundo, eles descobriram um objeto pesado e invisível, quase quatro milhões de vezes maior que a massa do nosso sol, que atrai as estrelas próximas e dá a nossa galáxia sua aparência característica de redemoinho.
"O segredo mais sombrio da Via Láctea", elogiou o júri. A chanceler alemã, Angela Merkel, por meio de seu porta-voz, expressou sua "grande gratidão" ao compatriota Genzel por seu "trabalho pioneiro".
No Instituto Max Planck de Física Extraterrestre (MPE), Genzel disse que derramou "algumas lágrimas", pensando que teria que esperar muitos anos pela distinção. "Uma das qualidades que um pesquisador precisa para ganhar um Nobel é viver muito", brincou.
Os buracos negros supermassivos são um enigma da astrofísica, sobretudo, pela maneira como se tornam tão grandes. Sua formação é objeto de muitas pesquisas. Os cientistas acreditam que devoram, a uma velocidade sem precedentes, todos os gases emitidos pelas galáxias muito densas que os cercam.
Como são invisíveis, os buracos negros podem ser observados somente por contraste, com a análise dos fenômenos que geram a seu redor. Uma primeira imagem revolucionária foi revelada ao mundo em abril de 2019 por uma equipe internacional do Event Horizon Telescope, que registrou as radiações emitidas pelo disco de acreção ao redor do buraco negro no centro da Galáxia M87, a mais de 50 milhões de anos-luz da Terra.
"É a era de ouro para a pesquisa sobre os buracos negros, e é espantoso que estejam chegando", declarou Shep Doeleman, diretor do projeto, à AFP. A astrofísica e a física quântica, que se concentra no estudo do infinitamente pequeno, eram consideradas favoritas para o Nobel de 2020.
Em 2019, o Nobel de Física premiou três cosmólogos, o canadense-americano James Peebles, que seguiu os passos de Einstein para tentar explicar as origens do universo, e os suíços Michel Mayor e Didier Queloz, que revelaram a existência de um planeta fora do sistema solar.
Os vencedores do Prêmio Nobel de 2020 estão sendo anunciados esta semana, como estava previsto. Mas a cerimônia presencial de entrega dos prêmios, em 10 de dezembro em Estocolmo, foi cancelada, devido à pandemia do novo coronavírus.
Os laureados, que compartilham quase um milhão de euros (US$ 1,17 milhão), receberão os prêmios em seus países de residência.