Se você ainda não sabe o que são as "hard seltzers", fique atento, pois é provável que logo eles apareçam em algum supermercado perto de você.
As hard seltzers são uma bebida cuja composição principal é água gaseificada com sabor e álcool. Ou seja, eles são uma espécie de refrigerante com baixo teor alcoólico — entre 3 e 5 por cento —, e baixa concentração de calorias.
Nos Estados Unidos, eles estão na moda. Somente entre a primavera e o outono de 2019, essas bebidas atraíram mais de 7,5 milhões novos consumidores, e geraram US$ 1,5 bilhão em vendas no mesmo ano, de acordo com a consultoria de dados norte-americana Nielsen CGA.
Muitos fabricantes mergulharam neste negócio em crescimento.
A Corona, popular marca de cerveja do conglomerado mexicano Grupo Modelo, começou a vender hard seltzers nos Estados Unidos no início de 2020.
E a Coca-Cola, uma das marcas de bebidas mais poderosas do mundo, já anunciou sua intenção de entrar nesse mercado em breve.
O grupo Heineken México, por outro lado, também fará sua estreia nessa categoria no país latino-americano, vendendo essas bebidas aromatizadas "com 4,5% de álcool e 99 calorias".
No entanto, nutricionistas consultados pela BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, pedem cautela sobre essa nova campanha de marketing que tanto atrai "jovens e pessoas que querem desfrutar de bebidas alcoólicas sem acrescentar tantas calorias à alimentação".
Afinal, dizem eles, "é uma bebida alcoólica como qualquer outra", com todos os danos à saúde que isso acarreta.
A BBC News Mundo solicitou entrevistas com vários fabricantes de seltzer para discutir o assunto, incluindo Heineken México, Grupo Modelo e White Claw, mas não obteve resposta.
O 'melhor pior' marketing do mundo
Mais da metade das vendas de seltzer no ano passado nos Estados Unidos foi monopolizada pela fabricante de bebidas White Claw, introduzida no país em 2016 pelo conglomerado Mark Anthony Brands.
Desde então, eles tinham mantido um crescimento estável, mas que explodiu no ano passado.
Outros fabricantes, sejam multinacionais ou empresas locais, já comercializam a bebida em várias partes do mundo.
Os anúncios dessas bebidas em geral usam os clichês associados a diversão e alto astral: praias, festas, sol, frescor. As mensagens aparecem continuamente em redes sociais como YouTube ou Instagram.
Elas são comercializadas em formatos semelhantes ao da cerveja ou de refrigerantes, em lata ou engarrafadas.
Mas seus fabricantes insistem na naturalidade de seus sabores (geralmente frutas), seu efeito refrescante, número reduzido de calorias e a possibilidade de combiná-lo com uma dieta sem glúten.
"Este é o 'melhor pior' marketing do mundo: vestir o lobo com pele de cordeiro", disse Juan Revenga, nutricionista e professor da Universidade San Jorge, em Zaragoza, na Espanha.
Segundo o especialista, a forma como se faz propaganda das hard seltzers é comum na indústria alimentícia, principalmente quando se tenta encontrar "conotações positivas para um produto que faz mal à saúde".
Porque este produto, diz Revenga, pertence "sem dúvida à categoria de bebida alcoólica".
"O que chamamos de hard seltzer é puro marketing, um esforço publicitário para introduzir um produto que, aliás, também não é novo. A novidade é só o nome", acrescenta Revenga.
A terminologia seltzer, pelo menos nos Estados Unidos, é frequentemente usada para se referir à água com gás.
Ao adicionar hard ("forte") à frente, funciona como uma espécie de eufemismo "para evitar chamá-lo do que é: álcool", concorda Julio Basulto, do Colégio de Dietistas e Nutricionistas da Catalunha, Espanha.
Menos calorias e mais nutrientes?
As empresas de hard seltzers afirmam que o produto tem poucas calorias, cerca de 100 para cada 355 mililitros ou mais.
Para efeito de comparação, a mesma quantidade de cerveja tem cerca de 150 calorias. Já uma lata de refrigerante padrão tem em torno de 140.
"Ser um produto de baixa caloria ou não calórico depende, sobretudo, da comparação com outro produto. Sim, os hard seltzers podem ter menos calorias do que um refrigerante convencional ou outra bebida alcoólica, mas isso não significa que a qualidade dessas calorias seja boa", explica Basulto, que escreveu recentemente um livro sobre a indústria de bebidas.
"Outra forma de mascarar esses produtos é anunciar que foram adicionados potássio, magnésio ou outros nutrientes a eles. É irritante, porque são componentes que podem ser encontrados sem recorrer a essas bebidas. Dizem que dão saúde, mas elas cobram muito mais saúde do que os que vendem a você", acrescenta Revenga.
Inundação de propaganda
Tanto Basulto quanto Revenga expressaram preocupação com a poderosa campanha publicitária que os fabricantes dessas bebidas realizam.
Ambos estão preocupados que o tipo de marketing implantado pelas empresas acabe atraindo os mais jovens, principalmente pelo alcance dos anúncios nas redes sociais.
"Dentro do sindicato dos nutricionistas nos preocupamos com o risco que essa moda pode representar para os mais jovens. Os fabricantes, com toda a consciência, estão voltados para o público mais jovem porque, quanto mais cedo os recrutam, mais fidelidade eles geram para a vida", Revenga diz.
Basulto, por outro lado, é cauteloso quando se trata de afirmar que a mania pela bebida está conseguindo capturar as pessoas mais cedo.
"É difícil saber com certeza, mas, na minha opinião, o Instagram está inundado de mensagens voltadas para públicos vulneráveis, como adolescentes que consomem bebidas açucaradas, energéticas e alcoólicas", diz o especialista.
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