O cantor pernambucano Chico Science ganhou uma homenagem um tanto quanto inusitada. O artista, que morreu em 1997, nomeia agora uma espécie de camarão encontrada no litoral sul de Pernambuco, o Chicosciencea pernambucensis. Pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) estiveram envolvidos na descoberta.
A pesquisa, realizada com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe), chegou a ganhar destaque de 11 páginas quando foi divulgada na revista científica Journal of Crustacean Biology, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, na edição de setembro deste ano.
O estudo de identificação da espécie partiu de um trabalho de pós-doutorado do pesquisador Gabriel Bochini e contou com a colaboração de Andressa Cunha e Alexandre Oliveira, que são da UFPE, e Mariana Terossi, da UFRGS.
Os pesquisadores analisaram amostras de camarões recolhidas em instrumentos que eram parecidos com armadilhas que foram colocados nas regiões de Suape e Praia dos Carneiros. Nessas regiões, foi encontrado um camarão com cerca de 1 cm, que os pesquisadores pensaram se tratar de uma nova espécie.
“Para identificar se era ou não uma nova espécie tivemos que comparar com as espécies que já foram descobertas não só no Brasil como no mundo, é um trabalho bem minucioso de descrição de cada parte do animal, que a gente chama de taxonomia tradicional”, explica Gabriel Bochini.
Com esse primeiro estudo, os pesquisadores perceberam que partes como a boca eram diferentes das espécies já catalogadas. Para comprovar que se tratava de uma nova espécie, amostras do tecido muscular do camarão foram enviadas para análise molecular no Laboratório de Carcinologia da UFRGS. “Após essa análise com o apoio da professora Mariana Terossi, foi possível descobrir que também se tratava de um novo gênero”, afirma Gabriel.
A ideia do nome
O pesquisador Gabriel Brochini diz que o nome escolhido não foi por acaso. Ele conta que a ideia é uma tentativa de aproximar a ciência da cultura popular. Chicosciencea pernambucensis foi o nome dado ao camarão.
“O professor Alexandre sugeriu que a gente homenageasse Chico Science por tudo o que ele representa e por conta da região em que a espécie foi encontrada também”, esclarece Gabriel Brochini.
O nome faz referência ao músico pernambucano que ficou conhecido como líder do movimento manguebeat - que mistura ritmos como o maracatu, rock, hip hop, funk e música eletrônica - que tinha outro crustáceo, o caranguejo, como seu símbolo. O primeiro nome, Chicosciencea, identifica o gênero. Já o segundo nome, pernambucensis, identifica a espécie.
A coleta dos camarões para a pesquisa foi encerrada em 2018, segundo Gabriel Brochini, por isso não abrangeu o período em que houve derramamento de óleo na região Nordeste - fato que teve início em setembro de 2019 e até agora não tem culpados identificados. Sendo assim, as consequências desse desastre ambiental não puderam ser percebidas pela pesquisa, mas, de acordo com o pesquisador, estão sendo estudadas por outros pesquisadores da região.
Pequenos e raros
De acordo com Brochini, esses camarões não são utilizados como alimento para seres humanos por serem muito pequenos e raros. "Como eles foram descobertos agora, nós não sabemos muito sobre esses animais. Precisamos de mais pesquisas para conhecê-lo melhor", conta.
A princípio a espécie é encontrada somente no litoral sul de Pernambuco e só nas duas áreas específicas que fizeram parte do estudo. No entanto, os pesquisadores acham que é muito provável que a espécie exista em todo o litoral nordestino, onde são encontradas as formações dos arrecifes.
Quanto ao aspecto do novo camarão, o cientistas relata que eles são translúcidos com faixas vermelhas alaranjadas pelo corpo. Seus possíveis predadores são peixes, e outros animais maiores, como caranguejos, polvos e lulas.
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