Uma equipe de astrônomos avistou uma rara explosão de luz de uma estrela sendo dilacerada por um buraco negro supermassivo. O registro do momento em que o astro é “espaguetificado" foi feito por telescópios do Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês, para European Southern Observatory) em Garching, na Alemanha.
O estudo com a observação feita por 45 pesquisadores foi publicado na segunda-feira (12/10) pela Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, uma das principais revistas de pesquisa primária em astronomia e astrofísica.
Segundo a pesquisa, este fenômeno, nomeado AT2019qiz e conhecido como evento óptico de interrupção de maré (TDE), é o mais próximo da Terra ocorrido até o momento, a pouco mais de 215 milhões de anos-luz do planeta. “Sua proximidade permitiu uma detecção muito precoce e o acionamento de múltiplos comprimentos de onda e acompanhamento espectroscópico muito antes da luz máxima”, diz o estudo.
Em entrevista ao Observatório Europeu do Sul, Matt Nicholl, professor e pesquisador da Royal Astronomical Society na Universidade de Birmingham, no Reino Unido, e principal autor do novo estudo, explicou o fenômeno: “A ideia de um buraco negro 'sugando' uma estrela próxima parece ficção científica. Mas isso é exatamente o que acontece em um evento de interrupção da maré”.
“Quando uma estrela azarada vagueia muito perto de um buraco negro supermassivo no centro de uma galáxia, a extrema atração gravitacional do buraco negro fragmenta a estrela em finos fluxos de material”, explica Thomas Wevers, autor do estudo e bolsista do ESO no Chile.
Os estudiosos observaram o fenômeno por 6 meses. Segundo a pesquisadora Kate Alexander, bolsista Einstein da Nasa na Universidade Northwestern nos EUA, a descoberta foi possível porque o evento de interrupção de maré que a equipe estudou, AT2019qiz, foi encontrado pouco tempo depois que a estrela foi destruída. “Esta 'espiada atrás da cortina' única forneceu a primeira oportunidade de localizar a origem do material obscurecedor e acompanhar em tempo real como ele engolfa o buraco negro.”
A pesquisadora Samantha Oates, também da Universidade de Birmingham, explicou que ao explodir, o material criava uma cortina de poeira que dificultava a visão do clarão de luz. “Descobrimos que, quando um buraco negro devora uma estrela, ele pode lançar uma poderosa explosão de material que obstrui nossa visão”, afirma. Isso acontece porque a energia liberada conforme o buraco negro devora o material estelar impulsiona os detritos da estrela para fora.
A pesquisa desta explosão ajuda a entender melhor os buracos negros supermassivos e como a matéria se comporta nos ambientes de extrema gravidade ao seu redor.
Prêmio Nobel 2020
Este ano, duas pesquisas por estudos relacionados aos buracos negros ganharam o Prêmio Nobel de Física. Os cientistas Roger Penrose, Reinhard Genzel e Andrea Ghez ganharam o prêmio e dividiram o valor de 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,3 milhões).
Andrea Ghez é a quarta mulher a vencer o Nobel de Física, a categoria com o maior predomínio masculino entre as seis que integram o prêmio.
*Estagiária sob supervisão de Fernando Jordão
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