Conviver com um animal de estimação, como um cachorro ou um gato, pode ajudar a combater o estresse psicológico provocado pelo confinamento social imposto pela pandemia da covid-19, mostra um estudo científico publicado ontem, na revista especializada Plos One. Os pesquisadores avaliaram mais de 5 mil voluntários e constataram que pessoas que dividiam a casa com bichinhos de qualquer espécie mostraram melhor saúde mental e menores índices de solidão.
As análises, feitas entre abril e junho, consideraram informações sobre moradores do Reino Unido com 18 anos ou mais. Os participantes responderam a um questionário com itens sobre saúde mental, bem-estar e solidão, além de informações sobre vínculo e interações com os pets. Dos 5.926 participantes, 5.323 (89,8%) tinham pelo menos um animal de companhia.
Os pesquisadores observaram que mais de 90% dos entrevistados disseram que o bicho de estimação os ajudou a lidar emocionalmente com o isolamento social. Para 96% dos participantes, foi possível se manter em forma e ativo com o auxílio dos pets. No entanto, 68% dos tutores relataram ter ficado preocupados com seus animais durante o confinamento. Entre as apreensões estavam as restrições no acesso a cuidados veterinários e a dúvida sobre quem poderia cuidar dos bichos caso seu tutor adoecesse.
“Outro ponto importante foi que parâmetros que usamos para medir a força do vínculo humano/animal foram maiores entre as pessoas que tiveram pontuações mais baixas relacionadas à saúde mental no início do estudo. Ou seja, o grupo que mostrou, no fim das análises, laços ainda mais fortes com os bicho apresentou uma condição psicológica melhor do que no inicio das análises”, destaca, em comunicado, Elena Ratschen, pesquisadora do Departamento de Ciências da Saúde da Universidade de York, no Reino Unido, e uma das autoras do estudo.
Qualquer espécie
A equipe de pesquisa também observou que a força do vínculo não diferiu significativamente conforme a espécie do bicho de estimação. Os mais comuns eram cães e gatos, seguidos por pequenos mamíferos e peixes. “Isso significa que as pessoas da amostra analisada se sentiam tão próximas emocionalmente de, por exemplo, um porquinho-da-índia quanto se sentiam de um cão”, ilustra Ratschen.
Os pesquisadores acreditam que os resultados mostram como os animais podem contribuir para um maior bem-estar durante o isolamento social. “Esse trabalho é particularmente importante no momento atual, pois indica como ter um pequeno bicho em casa pode amortecer parte do estresse psicológico associado às restrições sociais. No entanto, é importante que todos valorizem as necessidades dos animais de estimação também. Isso porque, em outro trabalho, observamos que deixar de atendê-las pode ter um efeito prejudicial para os animais e para os seus tutores”, enfatiza Daniel Mills, pesquisador da Escola de Ciências da Vida da Universidade de Lincoln, na Nova Zelândia, e um dos autores do estudo. A interação com animais silvestres também pode fazer diferença. Quase 55% das pessoas entrevistadas relataram observar e alimentar pássaros em seu jardim e se sentirem bem com esse contato.
Apoio profissional
Apesar do impacto positivo dessa interação, os cientistas destacam que, em caso de problemas psicológicos, é preciso buscar especialistas da área para receber um tratamento adequado. “Embora nosso estudo tenha mostrado que ter um animal de estimação pode atenuar alguns dos efeitos psicológicos prejudiciais dos bloqueio sociais, é importante entender que essa descoberta, provavelmente, não terá significância clínica. Ela não justifica qualquer sugestão de que as pessoas devem adquirir animais de estimação para proteger a saúde mental durante a pandemia”, frisam os autores.
Eles também destacam que mais pesquisas são importante para entender melhor os resultados obtidos até o momento. “É necessária uma investigação mais direcionada sobre o papel das relações e das interações entre humanos e animais para a saúde humana. É importante também garantir que os donos de animais de estimação tenham o apoio adequado para cuidar de seus animais durante a pandemia”, afirma Ratschen.
96%
dos entrevistados consideram que se mantiveram em forma e ativos durante a pandemia com a ajuda dos pets