Os problemas do Sistema Único de Saúde (SUS) ganharam atenção por conta do estado de calamidade pública instalado pela pandemia, mas não foram criados por ela. É o que ressalta o médico oncologista e diretor-geral do hospital Sírio-Libanês em Brasília, Gustavo Fernandes. “Hoje, 75% da população brasileira depende exclusivamente do SUS. E essa necessidade que a gente enxergou no SUS agora, na verdade, só foi iluminada por uma cena de doenças e de saúde coletiva que sensibilizou a todo mundo”, pontuou.
Em entrevista ao CB.Saúde — parceria do Correio com a TV Brasília — nesta quinta-feira (17/9), ele falou sobre um dos maiores gargalos do sistema: o orçamento. “Nós temos um Ministério da Saúde que tem um orçamento que não é imenso para cuidar do país inteiro, pouco mais de 100 bilhões (de reais). Naturalmente, tem os orçamentos dos estados e municípios. Mas o SUS é subfinanciado”, ponderou.
O médico lembrou que, em termos absolutos, o Brasil investe muito em saúde, mas a maioria dos recursos é colocada pelo sistema privado — que atende apenas cerca de 20% da população. “Quando a gente olha o investimento global, no Brasil, em saúde, o país investe 8,9%, 9%, do PIB (Produto Interno Bruto) em saúde. Esse é um investimento alto para um país de renda média, como o Brasil é classificado. Mas mais da metade desse investimento vem dos 20% da saúde suplementar, ou seja, do privado. Ou seja, mais da metade é investido pelo setor privado, na verdade pelo cidadão. O cidadão que arca com a despesa do setor privado. E a outra metade, ou menos da metade, vai para 80% (dos usuários do sistema de saúde). Então, é metade para 20% e metade para 80%. Daí dá para entender as dificuldades de acesso que nós temos”, detalhou.
Importância histórica
Mas Fernandes também fez questão de ressaltar a relevância da sistematização das políticas públicas na área de saúde no país. “Alguém que nasceu quarenta anos atrás, como eu, nasceu em uma época em que a gente não tinha uma assistência do Estado estruturada para a saúde. As estruturas estatais para atendimento de saúde eram esporádicas, não tinham uma lógica central. Então, a estruturação do SUS em 1988 é um marco imenso para o país”, comentou.
Para ele, é importante, agora, avançar no entendimento das diferenças regionais e também nas desigualdades existentes dentro do próprio sistema para que a qualidade do serviço oferecida seja menos díspar. “Uma das coisas que faltam é a gente entender a complexidade que isso tem dentro de um país com a dimensão do Brasil, uma dimensão classificada como continental, com a população que a gente tem e com as desigualdades que a gente carrega. Então, é um continente tanto em números de pessoas, quanto em extensão, quanto, de fato, em subgrupos de pessoas que estão dentro desse país”, colocou.
Confira a entrevista completa em vídeo:
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