Segurança para pular etapas

postado em 06/09/2020 07:00

Produzir um medicamento da estaca zero é uma tarefa difícil e demorada. Com a velocidade que a covid-19 se espalhou pelo mundo, pesquisadores resolveram encurtar esse caminho. Uma técnica chamada reposicionamento de fármacos tem sido uma das ferramentas usadas para reduzir essa espera. Nessa estratégia, medicamentos criados para o tratamento de uma determinada doença são testados no combate a outras enfermidades. Anterior à pandemia, a estratégia foi impulsionada nos últimos meses.

“Primeiro, nós testamos esses remédios em laboratório. Eles são expostos ao vírus e, caso a resposta seja boa, passamos para a fase de análise em animais e, depois, em humanos. Esse é um processo bem mais curto, geralmente demoramos 10 anos para desenvolver uma droga pelas vias tradicionais”, explica Lucio Freitas, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) que trabalha com a técnica há 15 anos.

O cientista explica que seu grupo de pesquisa conseguiu encontrar quatro moléculas com potencial para tratar o Sars-CoV-2, o vírus da covid-19. “Tivemos resultados muito animadores, mas não gostamos de divulgar muito porque algumas pessoas correm para as farmácias para estocar os remédios, queremos evitar isso. Entre as drogas promissoras há um fitoterápico que, geralmente, é um remédio muito seguro”, conta.

Lucio Freitas enfatiza que o reposicionamento de fármacos é uma técnica promissora e, possivelmente, com os novos avanços, proporcionará tratamentos para outras doenças. “Com certeza, teremos mais opções terapêuticas. O meu grupo de pesquisa dedica-se a 22 enfermidades, e temos dados também relacionados à chikungunha. O importante é conseguir organizar essas pesquisas e mantê-las, para não ter que esperar que uma situação grave como a atual aconteça e, só depois, colocar o trabalho em prática. É preciso se adiantar”, defende.

Ambiente virtual

Outra ferramenta que tem sido mais explorada é a telemedicina. O atendimento médico realizado em ambiente virtual era bastante discutido antes da crise sanitária. Em abril, o governo autorizou a prestação do serviço para ajudar no cumprimento das medidas de isolamento. “A telemedicina é um recurso tecnológico imensurável neste momento, principalmente em países como o Brasil, que tem regiões distantes de centros e com pouco acesso a profissionais da saúde. Ela já era muito usada na área de pesquisa clínica por universidades, por exemplo, mas, agora, vai se expandir”, acredita Margareth Dalcolmo, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Segundo a pneumologista, a prática poderá ajudar também no acompanhamento de outras enfermidades. “É claro que nada substitui o contato humano e um exame físico bem-feito, mas, considerando as dificuldades do mundo moderno, é importante usar as vantagens proporcionadas por essa plataforma. Por exemplo, podemos receber uma radiografia de um local distante e analisá-la em pouco tempo”, ilustra. (VS)

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