A volta às aulas presenciais nas redes pública e particular do Distrito Federal (DF) tem causado discussões entre entidades que representam pais, professores e instituições de ensino. Para Valéria Paes, infectologista, professora da Universidade de Brasília (UnB) e médica da linha de frente no combate à pandemia, o retorno inspira cuidados. "Eu vejo com preocupação", colocou.
Segundo Paes, a experiência de outros países mostra que o retorno é delicado e que é preciso ter consciência de que muitas pessoas ficarão expostas à contaminação.
"Naturalmente, as crianças vão ficar expostas, vão entrar em contato entre si. É um ponto de encontro de muita gente e depois todo mundo volta para casa. Então, isso tem que ser muito bem monitorado para que a gente tenha agilidade. Se houve essa decisão de retornar às aulas, a gente tem que ter uma capacidade de identificar muito rápido se estão acontecendo surtos em determinadas escolas, isolar, proteger os profissionais, proteger as crianças, os pais", pontuou.
A médica foi a convidada desta quinta-feira (6/7) do CB.Saúde e conversou com o jornalista Humberto Rezende, destacando também que a busca por soluções fáceis para a covid-19 pode colocar os pacientes em risco.
Um dos pontos sensíveis da volta às aulas destacados pela médica é a situação dos funcionários. “Eu sei que não são todos (os pais), mas muitos têm uma opção ‘vou mandar’, ‘não vou mandar’, mas aquele funcionário da escola não tem essa opção. Ele trabalha naquele local, está funcionando, ele tem que ir trabalhar. Como é que eu vou proteger aquele profissional, é uma situação delicada. A gente tem que ter toda uma responsabilidade com essa decisão”, cobrou.
Para a especialista, o fortalecimento das equipes de vigilância epidemiológica também é fundamental nesse retorno. “A gente vai ter que contar muito com os núcleos de vigilância epidemiológica. Eles vão ter que estar extremamente atuantes. Na universidade, nós estamos também nos organizando dessa forma para montar um núcleo de vigilância epidemiológica na nossa comunidade acadêmica. A gente fala muito das crianças, mas eu tenho 50 mil pessoas por dia na UnB”, disse.