Em meio a brigas na Justiça pela volta às aulas presenciais nas escolas particulares e um cronograma já fixado para o retorno da rede pública, pais e alunos ficam em dúvida sobre a segurança da retomada agora. Para Jonas Brant, epidemiologista e professor da Universidade de Brasília (UnB), a situação é clara: não é o momento. “Voltam as atividades escolares, aumenta o número de casos”, determinou.
Em conversa com o jornalista Vicente Nunes no CB.Saúde — parceria do Correio e da TV Brasília — desta quinta-feira (13/8), o epidemiologista questionou: “Onde estão esses especialistas que defendem que esse momento já é adequado para o retorno?”. Para o ele, vários fatores impedem a volta às aulas agora, especialmente, o alto número de novos casos e a baixa disponibilidade de recursos hospitalares. Além disso, segundo Brant, as atividades presenciais nas escolas permitem que centenas de pessoas entrem em contato indiretamente entre si — facilitando a disseminação do vírus.
“Um estudo feito na Espanha mostra que se eu colocar vinte crianças numa sala de aula, sendo que dez delas têm irmãos, no primeiro dia eu já tenho mais de 70 interações, porque eu não estou colocando em contato uma criança com a outra, estão entrando em contato bolhas familiares, ou seja, redes de contato dentro dessa sala. No segundo dia já são 800 pessoas, no terceiro dia já são mais de mil. Então, a possibilidade de interação que se coloca no retorno das atividades escolares é muito grande”, exemplificou.
Biossegurança
Esse cenário, de vários contatos interpessoais associado ao baixo controle da epidemia, levaria a um rápido aumento do número de casos e, possivelmente ao surgimento de dezenas de surtos nas comunidades escolares e, ainda que eles possam ser minimizados pelas medidas de higienização e distanciamento adotadas pelas instituições, haveria um aumento de demanda para a qual o sistema de saúde do DF não está preparado para lidar agora, segundo o professor.
“As nossas escolas, por sua vez, têm uma infraestrutura muito deficitária para poder dar conta dessas questões de biossegurança, limpeza e de orientação a essas crianças. Então, o que a gente tem que discutir, e todos os documentos internacionais apontam, é que qualquer atividade de retorno escolar deve ser pensada somente quando os níveis epidêmicos estiverem baixos. O cenário atual do Distrito Federal não é esse, então não dá para imaginar um cenário de retorno escolar no Distrito Federal. É uma decisão política e não técnica”, comentou.
Retorno gradual
Para Brant, o ideal é que os planos de retorno fossem feitos com a participação de diversos especialistas e da comunidade escolar — pais, professores e funcionários — para que a volta às atividades presenciais ocorresse de maneira gradual, conforme o controle epidêmico fosse avançando no território, acompanhando a diminuição do número de novos casos, por exemplo.
“O retorno, quando ele ocorrer, deve priorizar esses pais que precisam trabalhar e que não têm onde deixar as crianças e que eu consiga atender a esse público mais vulnerável, que não tem internet em casa, que tem alguma necessidade especial. Eu vou atender a esse público para ter um número pequeno de crianças na escola, mas que eu tenha um critério de priorização”, ponderou.
O professor ainda detalhou como seria a construção desse plano de retorno: “Um plano de contingência normalmente envolve fases. Uma fase atual, por exemplo, sem a atividade presencial, uma fase com a primeira atividade presencial, qual o critério de priorização eu vou ter, para que eu possa gradativamente ir voltando essas atividades”.
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