
O Distrito Federal segue enfrentando desafios na gestão de resíduos, sejam eles sólidos ou orgânicos, mesmo após avanços importantes, como o fechamento do Lixão da Estrutural em 2018 e a inauguração do Aterro Sanitário de Brasília. A destinação correta do lixo, o incentivo à reciclagem e a recuperação ambiental da antiga área de descarte são questões centrais a serem trabalhadas pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU).
Segundo dados do SLU, em 2024, o DF gerou mais de 730 mil toneladas de resíduos domiciliares, enquanto a Coleta Seletiva recolheu cerca de 58 mil toneladas de materiais recicláveis. A Unidade de Recebimento de Entulho (URE), instalada no antigo Lixão da Estrutural, recebeu mais de 1,6 milhão de toneladas de resíduos da construção civil (RCC). O SLU está desenvolvendo um projeto para lançar a licitação de uma nova URE, que será construída no Recanto das Emas.
Mais de 760 mil toneladas de resíduos foram colocadas no Aterro Sanitário de Brasília no último ano. O local foi inaugurado em 2017, com área total de 32 hectares e previsão de vida útil de 13 anos.
Hoje, a operação na área está prevista para ir até 2027. A expansão do aterro está sendo planejada para uma área adjacente à atual, de 67 hectares. Com isso, será possível a extensão da vida útil por mais 20 anos, a partir de 2027.
Coleta seletiva
Para que o potencial máximo de reciclagem seja atingido no DF, o SLU tem firmado contratos com cooperativas de catadores, que separam e recuperam materiais recicláveis que vêm misturados na coleta convencional e que chegam às Usinas de Tratamento Mecânico Biológico (UTMBs), medida que permitiu a ampliação do serviço de coleta seletiva. Em 2024, mais de 41 mil toneladas de recicláveis foram recuperados por meio dessa iniciativa.

Outro avanço é a reciclagem de resíduos orgânicos nas Usinas de Tratamento Mecânico Biológico (UTMBs), que transformam restos de alimentos em adubo. No último ano, foram produzidas 85 mil toneladas de composto orgânico. O SLU também busca promover a orientação porta a porta para os moradores, sobre descarte correto e dias e horários das coletas.
"O maior desafio é o protagonismo da população. Muitas pessoas são engajadas, cuidam do próprio resíduo, fazendo a separação correta e dispondo nos dias e nos horários informados pelo SLU, mas ainda há uma parcela da população que não participa", destaca a instituição.
Conscientização
Muitas pessoas não realizam a separação adequada, o que reduz a eficiência do processo. Segundo Beatriz Barcelos, professora de Gestão de Resíduos Sólidos na Universidade Católica de Brasília (UCB), o apoio das pessoas é essencial para mudar essa realidade. "A criação de campanhas permanentes de educação ambiental contribuiria para diminuir o descarte inadequado de resíduos. A segregação do material na origem é frequentemente malfeita, exigindo ações urgentes", afirma.
Segundo a especialista, entre os principais problemas enfrentados, estão o descarte inadequado de resíduos em geral e da construção civil; a coleta seletiva ineficiente; a falta de campanhas educativas para sensibilizar a população; a ausência de indústrias de reciclagem; e os problemas no aterro sanitário. "Esses desafios impactam não apenas o meio ambiente, mas também a saúde pública e a qualidade de vida dos moradores do DF", avalia.
Iniciativas
A participação ativa da população e das empresas é importante para o sucesso da gestão de resíduos. Como é o caso da hamburgueria Geléia Burger, que realiza a separação correta do lixo em suas unidades e envia óleo usado para a produção de biodiesel e detergente. "Separar os resíduos corretamente reduz o impacto ambiental e promove a reciclagem. Além disso, buscamos minimizar desperdícios e incentivar a conscientização ambiental", destaca Wagner Barreto, supervisor geral da rede.

O supervisor explica como funciona o processo de transformação dos resíduos em materiais recicláveis. "Coletamos, em média, 550 litros de óleo por mês, com base nos dados de março de 2025. Esse volume pode variar de acordo com a demanda e o uso do óleo ao longo do mês. O óleo coletado é enviado para uma empresa que o transforma, de maneira sustentável, em biodiesel e/ou detergente", detalha.
Outro exemplo de boas práticas é o Buffet Banqueteria Rio 40 Graus, que adota práticas sustentáveis e busca se tornar o primeiro buffet lixo zero do Brasil. "Nosso compromisso com o meio ambiente nos levou a dar um passo além. Isso significa que adotamos práticas rigorosas para reduzir, reutilizar e reciclar ao máximo, minimizando o impacto ambiental e garantindo uma operação mais responsável e eficiente", ressalta Marcelo Ferreira, sócio da empresa.
Os resíduos orgânicos passam por um processo de compostagem de 18 horas, gerando adubo utilizado no cultivo de temperos próprios. "O processo do lixo orgânico acontece dentro do próprio buffet. Ele vem dos buffets e fazemos uma triagem na área de descarte, encaminhamos para a máquina de compostagem, que suporta, em média, de 200 a 300 quilos de material, adubo esse que usamos para cultivar nossos próprios temperos", acrescenta.
Dificuldades
A gestão de resíduos sólidos no DF ainda enfrenta dificuldades estruturais e operacionais. O engenheiro Paulo Celso dos Reis Gomes, do Departamento de Engenharia de Produção (EPR) da Universidade de Brasília (UnB) enumera os principais desafios:
- Recuperação ambiental do antigo Lixão da Estrutural – O solo, subsolo e mananciais de água precisam de tratamento para mitigar os impactos ambientais deixados pelo lixão;
- Aproveitamento do biogás gerado no aterro sanitário – O gás poderia ser convertido em biometano ou eletricidade, reduzindo impactos ambientais;
- Aumento da reciclagem – Hoje, apenas 5% dos resíduos sólidos urbanos são reciclados. O objetivo é atingir as metas do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares);
- Maior aproveitamento da fração orgânica – Apenas 8% dos resíduos orgânicos são tratados e transformados em insumos para a agricultura;
- Reciclagem de resíduos da construção civil – Hoje, apenas 20% desse material é reaproveitado, sendo necessário ampliar esse índice;
- Uso obrigatório de materiais reciclados em obras públicas – Medida que pode estimular a reciclagem e reduzir custos ambientais;
- Fortalecimento das cooperativas de catadores – Linhas de crédito específicas e benefícios tributários são alternativas para apoiar essas iniciativas;
- Incentivo à indústria da reciclagem – O DF precisa atrair empresas para transformar resíduos em novos produtos, gerando empregos e renda;
- Educação ambiental efetiva – Programas com gamificação e inteligência artificial podem engajar a população no descarte correto;
- Fiscalização rigorosa – O uso de tecnologias como Internet das Coisas (IoT) e inteligência artificial pode melhorar a supervisão da gestão de resíduos.
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