A deputada federal cassada Carla Zambelli (PL-SP) compartilhou em suas redes sociais o vídeo no qual um grupo de jovens que se autointitula "de direita" promete realizar uma "limpeza" contra o que consideram mensagens de “cristofobia” e “apoio ao terrorismo” na Universidade de Brasília (UnB).
Na última sexta-feira (14/3), o grupo pede anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro e espalhou pela instituição de ensino panfletos em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — que será julgado em 25 de março em um processo em que é denunciado como o líder de uma trama golpista que incluia o assassinato do presidente Lula e do ministro do STF, Alexandre de Moraes.
Além disso, o grupo apagou com tinta branca, frases e símbolos que associaram ao "comunismo" em espaços acadêmicos.
No vídeo compartilhado por Zambelli, um dos estudantes, identificado como Victor Jansen, questiona o uso de dinheiro público para financiar centros acadêmicos e acusam os alunos de espalhar mensagens de ódio na instituição. Em outro trecho, Davi Bertoldo, outro integrante do grupo, afirma que novas ações serão realizadas no dia 24 de março, primeiro dia de aulas na UnB. Veja:
Ao Correio, Zambelli saiu em defesa do grupo. Para a parlamentar, não é correto classificar o ato como vandalismo. "O que esses jovens fizeram foi exatamente o oposto: preservaram o patrimônio público ao remover pichações ilegais, muitas delas contendo mensagens de cunho antissemita, antirreligioso e ideológico”, afirmou.
A deputada também criticou o financiamento de centros acadêmicos com verba pública. “Muitas vezes, os centros acadêmicos utilizam dinheiro público para promover pautas político-partidárias, sem qualquer prestação de contas séria à comunidade acadêmica e à sociedade. Esse dinheiro deveria ser investido em benefícios diretos para os estudantes, como projetos de pesquisa, infraestrutura e assistência estudantil”, disse.
Repúdio
Sobre o posicionamento da UnB, que repudiou o ato e reafirmou seu compromisso com os valores democráticos, Zambelli afirmou que a universidade adota um tratamento parcial ao caso. “Democracia não se sustenta na imposição de uma única visão de mundo dentro do espaço universitário. Pelo contrário, o verdadeiro ataque aos valores democráticos acontece quando estudantes são perseguidos ou intimidados por terem opiniões divergentes”, argumentou.
A atitude do grupo gerou reações de repúdio entre entidades estudantis, que denunciaram os atos como vandalismo e tentativa de intimidação política. A principal área atingida foi o Centro Acadêmico de Artes Visuais (Cavis), onde os jovens apagaram mensagens e picharam a porta de branco.
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A vice-presidente do centro, Carolina Paz, 21 anos, aluna do curso de Bacharelado em Artes Visuais repudiou a ação, a qual, segundo a jovem, criou um clima de insegurança na comunidade acadêmica. “Estão ganhando espaço, mas isso tem se traduzido em ficarem confortáveis para infringir regras da instituição”, disse.
Em nota, o Diretório Central dos Estudantes (DCE-UnB Honestino Guimarães) reafirmou seu compromisso na luta contra o avanço da extrema-direita, dentro e fora da universidade. “Com o ódio, a violência e mentira do fascismo e da extrema-direita não há qualquer tipo de diálogo. É urgente a nossa mobilização! A tentativa de golpe de Estado, liderada pelo terrorismo bolsonarista, mostrou que a extrema-direita não se importa com o povo nem com a democracia”, escreveram.
Luiz Philipe, estudante de Ciência Polícia e membro do DCE-UnB, relacionou os atos de vandalismo a um movimento mais amplo de extrema-direita, que, segundo ele, busca sufocar a diversidade e a liberdade de expressão na universidade. Philipe citou o caso de um estudante que gravou aulas sem autorização para expor professores, gerando conteúdo polêmico nas redes sociais. "Isso faz parte de um movimento político que não busca conhecimento, mas sim causar conflitos e disseminar desinformação", criticou.
Diante da escalada de tensões, a UnB repudiou os atos e anunciou medidas para reforçar a segurança no campus. “É hora de nos unirmos para garantir um ambiente universitário seguro, plural e comprometido com a liberdade e a diversidade. A UnB não se intimida diante de tentativas de ataque aos seus valores e reafirma seu compromisso inegociável com a democracia”, declarou a instituição.
Confira a nota da UnB na íntegra:
A Universidade de Brasília (UnB) repudia qualquer ato de vandalismo e intolerância dentro de seus campi. A instituição preza pelo respeito à diversidade, à liberdade de expressão e ao debate democrático, pilares fundamentais de uma universidade pública e plural.
Desde a sua recente posse, a Reitoria vem implementando ações em defesa da democracia e da sua comunidade, tais como a criação do Comitê de Enfrentamento à Desinformação, a regulamentação sobre direitos autorais e de imagem no contexto acadêmico a ser submetida ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE), estudos para a ampliação do sistema de videomonitoramento dos campi, e notificações à Polícia Federal sobre ameaças veiculadas pelas redes. Desde a reunião realizada na última quinta-feira com os estudantes, a Reitoria vem adotando um conjunto de medidas para reforçar a segurança e proteger a comunidade acadêmica.
Historicamente, a luta contra o fascismo e o autoritarismo exige um compromisso coletivo da sociedade e de toda a comunidade acadêmica. É hora de nos unirmos para garantir um ambiente universitário seguro, plural e comprometido com a liberdade e a diversidade.
A UnB não se intimida diante de tentativas de ataque aos seus valores e reafirma seu compromisso inegociável com a democracia. Com uma história marcada pela resistência, a Universidade reafirma seu papel como espaço de construção do conhecimento, do pensamento crítico e da promoção dos valores democráticos, essenciais para a manutenção de uma educação pública, gratuita e de qualidade.