
Professor de artes do Centro de Ensino Fundamental 01 de Planaltina, Jean Fernando encontrou na arte o seu caminho. Sua jornada no mundo artístico está profundamente entrelaçada com a própria história de vida. Desde a infância, ele demonstrava uma criatividade marcante, inventando brincadeiras e jogos pelas ruas do bairro.
Após 15 anos dedicados ao ensino de artes para crianças, Jean Fernando, 43, foi selecionado para expor suas obras no Salão Internacional de Arte Contemporânea do Carrousel du Louvre, em Paris. A seleção foi realizada pela Vivemos Arte, com assessoria de Lisandra Miguel, e o evento aconteceu em outubro deste ano, com a participação de centenas de artistas de todo o mundo no museu mais visitado da Europa.
Jean está pintando duas obras para a exposição que estarão disponíveis para compra durante a mostra. No entanto, apesar da conquista, Jean ainda não tem certeza se poderá participar do evento pois precisa arcar com os custos da viagem. Para viabilizar sua ida a Paris, o artista lançou uma campanha de arrecadação nas redes sociais, buscando apoio para acompanhar de perto esse momento tão importante da trajetória.
Trajetória
Na escola, o talento já se destacava. Os trabalhos artísticos chamavam a atenção dos professores, que frequentemente o elogiavam. "Tanto na escola quanto na igreja, os professores sempre me diziam: 'Você pinta muito bem, seus desenhos são lindos'. Mas minha verdadeira paixão pela arte surgiu mesmo na adolescência", diz.
Em 1998, após a morte do pai, Jean recorreu ao mundo das artes como um refúgio para enfrentar o momento difícil que estava vivendo. "Eu me fechei para o mundo e a maneira que encontrei de me soltar foi desenhando", conta. Ele diz que passou a retratar o que sentia e, muitas vezes, na escola, deixava de prestar atenção no conteúdo das aulas para ficar em "seu mundo", rabiscando nos cadernos.
O ponto de virada aconteceu quando uma das professoras notou seus desenhos. "Ela me perguntou: 'Você já pensou em pintar? Em se desenvolver mais nas artes?'", relembra Jean. Vendo seu talento, a professora sugeriu que ele procurasse uma colega que dava aulas de pintura em tecido e conseguiu uma bolsa para que aprendesse a técnica e se aprofundasse no mundo artístico.
Com algumas aulas, Jean passou a demonstrar desenvoltura com as tintas e os pincéis. Assim, pediu à professora para começar a pintar em telas e, então, iniciou de vez a trajetória no mundo artístico. "Com 17 anos, comecei realmente a pintar. Foi minha primeira experiência com a pintura de verdade e onde comecei a enxergar isso como um futuro profissional", lembra.
Junto do ensino médio, Jean também cursava o magistério, um curso técnico profissionalizante de nível médio que formava professores para a educação básica. "Foi aí que começou minha experiência com crianças e em dar aulas. Foi um período incrível, que marcou minha vida." No entanto, ao concluir o curso, uma das professoras o aconselhou: "Agora você precisa ter um nível superior." Ela explicou que ele poderia seguir com pedagogia ou escolher uma licenciatura. "Foi, então, que decidi estudar artes", conta.
Assim, Jean começou a cursar Educação Artística na Faculdade de Arte Dulcina de Moraes, localizada no Conic. "Foi lá que realmente aprendi o que é a pintura. Tive acesso a obras que desconhecia e entrei em contato com artistas que passaram a me inspirar", relembra.
Uma de suas primeiras referências foi Mondrian, cuja escolha de não pintar olhares o influenciou a também evitar retratar rostos em suas obras. Com o tempo, passou a admirar Tarsila do Amaral, pelas cores vibrantes e formas cubistas, e Pablo Picasso, apesar da tendência à deformação. Outra grande influência foi Frida Kahlo, que o inspirou com o uso marcante dos florais.
Após se formar, Jean passou a atuar como professor em contrato temporário em diversas instituições do Distrito Federal, função que exerce há 15 anos. Buscando aprofundar os conhecimentos, concluiu uma pós-graduação em História da Arte e Arteterapia pela Faculdade Iguaçu.
A arteterapia se tornou uma ferramenta essencial em suas aulas. Observando que muitos alunos se mantinham reclusos e evitavam participar das atividades, Jean percebeu que algo os incomodava, mas não sabia exatamente o que. "Eu sentia que havia algo acontecendo, mas não conseguia identificar", relembra.
Foi por meio da arteterapia que aprendeu a interpretar imagens, desenhos e o impacto das cores, que frequentemente refletem emoções e estados internos. Com essa abordagem, passou a analisar com mais sensibilidade os trabalhos dos alunos. "Quando eles desenhavam, eu perguntava: 'Algo está acontecendo com você, não é? Seu desenho está falando por você'", conta. Muitos ficavam surpresos com a percepção do professor. "Eles me diziam: 'Como você descobriu isso só pelo meu desenho?' E eu respondia: 'Está vendo? A arte é isso. Ela liberta'", afirma.
A caminho da França
Em 2023, Jean enfrentou dificuldades para encontrar uma escola onde pudesse lecionar no início do ano. Por isso, começou a dar aulas de pintura para uma amiga que estava enfrentando crises de ansiedade. "Além dela, outras amigas também compartilhavam o desejo de pintar, e uma delas possuía uma loja desocupada na Asa Sul. Então, organizamos o espaço e o transformamos em um ateliê para pintarmos", explica.
Jean passou seis meses pintando com o grupo e também produzindo suas próprias obras no local. Com o tempo, algumas pessoas que passavam pela rua e observavam seu trabalho começaram a elogiá-lo. Foi, então, que outro professor sugeriu que ele se inscrevesse em editais para expor as pinturas. "Comecei a pesquisar e encontrei uma galeria que estava expondo trabalhos de brasileiros em Portugal, e consegui expor lá", destaca.
Com isso, algumas galerias passaram a conhecer o trabalho de Jean e a acompanhá-lo nas redes sociais. Entre elas, a Vivemos Arte, estava realizando seleção para exposição em Paris e ele teve interesse em participar. Dessa forma, ele enviou portfólio e biografia artística. A equipe pré-aprovou o trabalho e solicitou uma entrevista. Ao final do processo, informaram que ele havia sido selecionado.