
O médico onco-hematologista do Sírio-Libanês em Brasília Volney Vilela explicou o que é o Car-T Cell, imunoterapia revolucionária para pacientes oncológicos. Ao CB.Saúde — parceria entre o Correio e a TV Brasília — de ontem, o especialista citou às jornalistas Carmen Souza e Sibele Negromonte a experiência do instrutor de equitação, Marcelo Mello Cordeiro, 58 anos, primeiro caso do Centro-Oeste a tratar um linfoma no cérebro com o Car-T Cell.
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O senhor pode detalhar como funciona essa técnica revolucionária (Car-T Cell)?
Essa terapia vem do inglês e podemos traduzir que são receptores antigênicos quiméricos. Ensinamos uma célula de defesa do paciente, o linfócito T, que é uma célula muito importante no nosso sistema de defesa, a combater o câncer. Tiramos o linfócito por um tempo da circulação, fazemos uma terapia genética nele. Introduzimos algum vetor viral para expressar um antígeno, que é o mesmo que procuramos na célula do linfoma. Quando essa célula volta (ao corpo), é preciso preparar o corpo do paciente para receber essas células modificadas. Quando você as infunde, essas células vão ter a capacidade de identificar o tumor e matá-lo. É um tratamento em que os pacientes não tinham nenhuma expectativa, mas com esse tratamento, eles têm uma chance de até 50% de estarem vivos e curados a longo prazo.
O caso do instrutor de equitação Marcelo Mello Cordeiro seria a primeira linha de tratamento para quem tem o linfoma não Hodgkin (LNH) ou é algo muito específico?
O Marcelo passou por seis linhas de tratamento, inclusive um transplante autólogo de medula óssea, que é um tratamento bem eficaz para tratar linfomas. Menos de um ano depois, a doença estava de volta de forma muito agressiva no sistema nervoso central. O caso dele era de um linfoma, uma doença agressiva, e num lugar que é muito ruim para se tratar. Não são todos os tratamentos que oferecemos que penetram o cérebro. Com Marcelo, tínhamos todo esse desafio. O tempo ali era muito importante para ele. (Marcelo, de 58 anos, foi diagnosticado com a doença em 2021 e submetido ao novo tratamento em novembro. Desde então, está em remissão).

Qual o custo do tratamento?
Estamos falando de um tratamento revolucionário, mas também um tratamento caro que chega a ser impeditivo. Os médicos precisam pensar muito na hora de escolher esse tratamento. O processo de autorização do Car-T Cell tem sido um processo duro, no qual pedimos autorização para as fontes pagadoras, muitas vezes há um retorno das fontes querendo uma explicação, do porquê que essa terapia é tão cara. Mas depois de muita conversa, a maioria das fontes pagadoras entende. Eles variam de preço, mas os Car-T Cell para linfoma, eles estão, somente o medicamento, em torno de R$ 2,5 milhões. Quando você coloca a internação o procedimento sobe um pouco mais o custo. O de mieloma múltiplo conseguiu chegar com preço ainda maior do que o de linfoma, chegando a R$ 3,3 milhões.
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Como estão os estudos no Brasil para baratear esse tratamento?
No Brasil, principalmente o pessoal da USP tem estudado o Car-T Cell, em uma forma de pesquisa, mas também com resultados promissores. O que estamos tentando fazer é desenvolver um Car-T Cell in-house, um projeto nosso, mas não podemos copiar as tecnologias que estão em uso, comercialmente disponíveis, por isso tem uma patente. Hoje, no Brasil, o que está mais avançado é o estudo da USP com o Butantan e o sírio-libanês de São Paulo, que tenta fazer um Car-T Cell para linfoma difuso de grandes células B. É uma terapia experimental e precisamos incluir o paciente, e deixá-lo ciente de que é uma terapia em fase de teste, e que tem como saber como é que serão os resultados em um grupo maior de pacientes. Dando certo, certamente ficará mais barato.
Como o tratamento é muito caro, é melhor prevenir. O que fazer no casos dos cânceres hematológicos?
Não tem um fator ambiental envolvido no diagnóstico, então o paciente não fez nada para "merecer". Não fumou, não bebeu, às vezes é um paciente que pratica atividade física, come bem e que vai desenvolver um câncer. Mas a parte interessante é o diagnóstico precoce, que possibilita que você faça um tratamento mais eficaz. Às vezes você pega um paciente que está com a doença muito avançada e ele está debilitado. É difícil fazer quimioterapia em um paciente que está debilitado. Quando a doença está no começo e tem uma indicação de tratamento, é possível tratar com o que há de melhor, sem ter que diminuir doses dos medicamentos, e isso aumenta a chance de cura.
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