
O médico onco-hematologista do Sírio-Libanês em Brasília, Volney Vilela explicou o que é o Car-T Cell, imunoterapia revolucionária para pacientes oncológicos. Ao CB.Saúde — parceria entre o Correio e a TV Brasília — desta quinta-feira (27/3), o médico destacou às jornalistas Carmen Souza e Sibele Negromonte que o tratamento, que antes não dava expectativa de cura para as pessoas, hoje, pode garantir chances de 40% a 50% de cura a longo prazo.
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O que é o Car-T Cell?
Essa terapia vem do inglês e podemos traduzir que são receptores antigênicos quiméricos. Ensinamos uma célula de defesa do paciente, o linfócito T, que é uma célula muito importante no nosso sistema de defesa, tiramos ele por um tempo da circulação, fazemos uma terapia genética nele. Introduzimos algum vetor viral para expressar um antígeno, que é o mesmo que procuramos na célula do linfoma. Quando essa célula volta, é preciso preparar o corpo do paciente para receber essas células modificadas e, quando você as infunde, essas células vão ter a capacidade de identificar o tumor e matá-lo. É um tratamento onde os pacientes não tinham nenhuma expectativa, mas, com esse tratamento, eles têm uma chance de 50%, 40% de estarem vivos e curados a longo prazo.
Qual o custo?
Estamos falando de um tratamento revolucionário, mas também um tratamento caro que chega a ser impeditivo. Os médicos precisam pensar muito na hora de escolher esse tratamento. O processo de autorização do Car-T Cell tem sido um processo duro, onde pedimos autorização para as fontes pagadoras, muitas vezes há um retorno das fontes querendo uma explicação, do porquê que essa terapia é tão cara. Mas depois de muita conversa, a maioria das fontes pagadoras entende. Eles variam de preço, mas os Car-T Cell para linfoma, eles estão ali em torno, somente o medicamento, em torno de R$ 2,5 milhões. Quando você coloca a internação o procedimento sobe um pouco mais o custo. O de mieloma múltiplo conseguiu chegar com preço ainda maior do que o de linfoma, chegando a R$ 3,3 milhões.
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Como estão os estudos no Brasil para baratear esse tratamento?
No Brasil, principalmente o pessoal da USP, tem estudado o Car-T Cell, em uma forma de pesquisa, mas também com resultados promissores. O que estamos tentando fazer para desenvolver um Car-T Cell in-house, um projeto nosso, mas não podemos copiar as tecnologias que estão em uso, comercialmente disponíveis, por isso tem uma patente. Hoje, no Brasil, o estudo que está mais avançado é da USP com o Butantan, e o sírio-libanês, também de São Paulo, está envolvido com esse estudo, que é tentar fazer um Car-T Cell para linfoma difuso de grandes células B. É uma terapia experimental e precisamos incluir o paciente e deixá-lo ciente que é uma terapia em fase de teste, e que tem como saber como é que serão os resultados em um grupo maior de pacientes. Dando certo, certamente mais barato.
Quais sinais a ficar atento se há problemas hematológicos?
A maioria dos pacientes que eu recebo com diagnóstico onco-hematológico, são encaminhados pelos colegas. É um cardiologista que vê um paciente com anemia muito intensa, uma ginecologista que vê um paciente que fez um ultrassom de tireoide e viu linfonodo no pescoço aumentado ou um clínico geral que vê que o baço do paciente está aumentado e me encaminha. Essas doenças, também vale enfatizar, que na maioria das vezes, você adquire no decorrer da vida. O fato do seu pai, sua mãe, seu irmão ter tido um caso de mieloma, de linfoma, e leucemia não aumenta a sua chance de ter leucemia, diferentemente do câncer de mama, que tem um caráter hereditário. Os tumores hematológicos são essas mutações somáticas que você adquire no decorrer da vida.
Há prevenção? O que fazer?
Não tem um fator ambiental envolvido no diagnóstico, então o paciente não fez nada para merecer. Não fumou, não bebeu, às vezes é um paciente que pratica atividade física, come bem e que vai desenvolver um câncer. Mas a parte interessante é o diagnóstico precoce, que possibilita que você faça um tratamento mais eficaz. Às vezes você pega um paciente que está com a doença muito avançada e ele está debilitado. É difícil fazer quimioterapia em um paciente que está debilitado. Quando a doença está no começo e tem uma indicação de tratamento, é possível tratar com que há de melhor, sem ter que diminuir doses dos medicamentos e isso aumenta a chance de cura.
Pra quem é indicado?
Diferentemente das outras imunoterapias, principalmente do transplante, o Car-T Cell não tem um limite de idade. Então, tem pacientes com 80 anos que fazem Car-T Cell, crianças com Leucemia Linfoide Aguda. Então, é algo que tem que ser julgado pelo médico. Ele vai indicar se a pessoa tolera principalmente um eventual efeito deste no pós. Se ele vai tolerar bem uma síndrome de liberação de citocina.