Abuso sexual

Justiça mantém a prisão de dentista acusado de abuso sexual por 11 mulheres

Mais sete mulheres denunciaram Danilo Sérgio por crimes de natureza sexual, totalizando 11 casos. Uma delas relatou momentos de terror, medo e constrangimento. A vítima disse que passou a ter episódios de depressão, com choros constantes

Investigações começaram em outubro do ano passado, a partir de acusações de ex-funcionárias e de pacientes -  (crédito: PCDF/Divulgação)
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Investigações começaram em outubro do ano passado, a partir de acusações de ex-funcionárias e de pacientes - (crédito: PCDF/Divulgação)

Já são 11 mulheres que denunciaram o cirurgião-dentista Danilo Sérgio Carvalho Sousa, 50 anos, por crimes de natureza sexual. Os relatos vão desde constrangimentos até toques sem consentimento contra pacientes e ex-funcionárias da clínica onde ele trabalhava, em um shopping no centro de Brasília. Ontem, o investigado passou por audiência de custódia e teve a prisão mantida pela Justiça.

Quando ele foi preso, na última segunda-feira, a Polícia Civil tinha o depoimento de quatro vítimas: duas funcionárias e duas pacientes. Até ontem, os investigadores da 5ª Delegacia de Polícia (Área Central) receberam mais sete denúncias de uma paciente da clínica e seis de prestadoras de serviço que passaram pelo consultório.

Os relatos são parecidos. Todas descreveram ter vivido momentos de terror, medo e constrangimento com o cirurgião-dentista. Em entrevista ao Correio, uma jovem de 25 anos relatou um episódio violento na última consulta para a retirada do aparelho ortodôntico, em dezembro do ano passado. A paciente se consultava com Danilo havia dois anos e afirmou que os elogios eram constantes, mas nada que a fizesse desconfiar de algo pior. "Achei que era o jeito dele e relevei."

A jovem conta que no último dia de tratamento, ao fim da consulta, o suspeito tentou beijá-la. Após a cliente se afastar, o homem teria usado a força para colocar o rosto no pescoço da moça e cheirá-la. Depois disso, segundo a vítima, o dentista pressionou o corpo contra o dela e apertou suas nádegas. "Eu procurei logo a polícia. Fiquei muito abalada, não imaginava isso. E eu não tinha chance nenhuma contra ele em questão de força, então, em choque, saí da clínica e fui falar com a minha mãe, que me aconselhou a ir à delegacia, pois não sabíamos se ele fazia isso com outras pessoas", disse.

A vítima relatou que teve episódios de depressão após a violência, com choros constantes e medo. "Meu maior receio é ele continuar solto, ainda mais pelo histórico de perseguição que ele tem", desabafou. O histórico ao qual a jovem se refere diz respeito a um crime de stalking registrado na delegacia, em 2023, pela ex-mulher de Danilo. Na ocorrência, ela relatou ter sofrido violências físicas e psicológicas por parte do dentista. Alegou, ainda, que o ex chegou a monitorá-la com um rastreador colocado no carro dela sem permissão.

O dentista também é alvo de uma denúncia de estupro, registrada em 2012. O crime teria ocorrido no mesmo consultório. A vítima relatou à época que Danilo sempre a elogiava nos atendimentos e tentava beijá-la, mesmo após as negativas. De acordo com a mulher, durante uma consulta o dentista a atendeu com a porta fechada e usou a força e ameaças para estuprá-la. A conjunção carnal teria acontecido na cadeira do consultório.

Defesa

Em depoimento prestado logo após a prisão, Danilo negou os crimes e alegou que as vítimas queriam "prejudicá-lo" por um motivo até então desconhecido. Na terça-feira, o advogado Thiago Silva Pinto, que representa a defesa do dentista, se manifestou sobre o caso. Segundo ele, em análise dos depoimentos, as vítimas apontaram terem sido alvos constantes de elogios por parte de Danilo e se sentiram constrangidas. Outras, de acordo com ele, disseram que, além dos elogios, também foram alvos de toque na região das nádegas.

"A defesa destaca que não houve imputação de crime de estupro ou sequer a tentativa. Em nenhum momento, as vítimas apontaram ter sido alvos de violência física ou de constrangimento efetivo com a finalidade de satisfação de lascívia, nem tampouco de nenhuma atitude de cunho sexual. Reiteramos o compromisso com a transparência, bem como reafirmamos a inocência de Danilo", disse. O defensor acrescentou que, durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, a polícia apreendeu dinheiro no cofre pessoal do investigado. "[o dinheiro] nada possui relação com a investigação, nem tampouco tem menção no depoimento das supostas vítimas", disse.

A reportagem voltou a questionar o advogado ontem sobre os próximos passos, mas o defensor não respondeu até o fechamento desta edição. A Polícia Civil esclareceu que, agora, a investigação vai tentar definir qual crime foi praticado contra cada vítima, se foi importunação sexual (pena de até cinco anos) ou estupro (pena de até 15 anos).

 

Darcianne Diogo
postado em 27/03/2025 04:00