
Os julgamentos dos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, a importância das instituições brasileiras e a possibilidade de anistia aos julgados foram alguns dos temas debatidos com o deputado distrital Chico Vigilante (PT) no CB.Poder — parceria entre o Correio e a TV Brasília.
O presidente da CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa (CLDF) afirmou, aos jornalistas Carlos Alexandre e Ronayre Nunes, que pretende criar uma ampla frente de centro-esquerda, caso ganhe as eleições para presidente do partido.
Como o senhor avalia os julgamentos dos acusados de participarem de uma trama golpista?
Este é um momento muito importante para o nosso país. Mostra para outros países que as instituições brasileiras funcionam, mostra que o STF não tem medo e nem dono. Os envolvidos terão a oportunidade de apresentar provas contrárias ao que estão sendo acusados, assim como tiveram a oportunidade de encarar a pena de uma forma alternativa. Às vezes, me incomoda que pessoas fiquem tentando passar a mão na cabeça dos golpistas. O que eles fizeram não foi um piquenique, não foi um "monte" de orações, não eram velhinhas com bíblias debaixo do braço rezando. São pessoas que saíram de livre e espontânea vontade das suas casas, e se concentraram na frente dos quarteis do Exército, pedindo intervenção militar para a deposição do governo legitimamente eleito. E tudo isso estimulado pelo senhor Jair Bolsonaro.
E sobre os pedidos de anistia para essas pessoas?
Essas pessoas não merecem anistia, elas são terroristas. Em 12 e 24 de dezembro de 2022, houve algumas depredações em Brasília. Atearam fogo em ônibus, depredaram a 5° DP na Asa Norte e tentaram invadir o prédio da Polícia Federal. Eu conversei com o delegado que estava de plantão no dia, e ele me disse que ficou perto de acontecer uma tragédia, porque eles iriam reagir à invasão para defender o patrimônio. Teve bombas em um caminhão de combustível no aeroporto, e bombas na rodoviária. Isso tudo foi planejado de maneira minuciosa por terroristas. É uma tragédia se o Congresso Nacional se envolver com isso, ao invés de estar discutindo projetos para o futuro, que precisam de respostas imediatas.
Eduardo Bolsonaro se afastou das atividades e afirmou se sentir exilado e cassado no Brasil. O senhor acredita que isso vai repercutir com as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF)?
Eu acho uma vergonha uma pessoa procurar um "auto exílio dourado" nos Estados Unidos e ainda falar que está sendo perseguido no Brasil. Isso que ele faz é crime de lesa pátria, imagina sair do Brasil e ficar falando mal do seu país como ele está fazendo. Eles ficam o tempo todo pedindo intervenção dos Estados Unidos. Temos nossa nação e temos as nossas instituições funcionando democraticamente, não precisamos de palpite e nem intervenção de fora. Chegaram a afirmar para a Comissão da Organização dos Estados Americanos (OEA) que o Brasil não tinha democracia. A Comissão veio aqui e constatou que o Brasil é efetivamente um país democrático, teve um relatório que afirma que nada que foi falado existia.
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Como o senhor vê o cenário político para a próxima eleição no Distrito Federal?
Olha, tem um grupo de companheiros que estão defendendo que eu assuma a presidência do PT, acho que eu vou topar o desafio. Eu vou trabalhar para que a gente tenha uma frente de centro-esquerda. A esquerda sozinha não vence e, se vencer, não governa. Quero encontrar os melhores nomes e fazer uma frente para ganhar e governar o DF. Nada justifica uma unidade da federação que tem dinheiro sobrando, como nós temos aqui no Distrito Federal, ter a saúde que a gente tem.
De que forma o senhor avalia os problemas de popularidade que o governo Lula está enfrentando?
Se eu quiser mandar fazer uma pesquisa para dizer que você é o maior do Brasil, eu mando e vai sair o resultado; e se eu quiser mandar fazer uma para dizer que eu sou o pior ser humano, vai sair o resultado. No meu ponto de vista, é isso que está acontecendo. Verifica onde estão sendo feitas as pesquisas. É só verificar o crescimento que a gente tem na massa salarial, inclusive do salário mínimo. No governo passado, não teve um reajuste salarial. Eu vejo as pessoas dizendo que não conseguem mais contratar um empregado por causa da Bolsa Família. Você não contrata porque você quer pagar pouco. Pega a questão do nosso sistema de saúde, que ainda é precário e tem problemas, mas não tem nenhum lugar do mundo que tem um sistema de saúde que o Brasil tem. Então, a gente tem que olhar tudo isso que está acontecendo.
*Estagiário sob a supervisão de Patrick Selvatti