Investigação

Assédio velado e "compra" de silêncio: como agia dentista preso por estupro

Danilo Sérgio Carvalho Sousa, 50 anos, espalhava medo e terror no consultório onde trabalhava, no Shopping Conjunto Nacional. Relatos de ex-funcionárias e pacientes revelam o ambiente hostil, marcado por assédios sexuais disfarçados de elogios

Dentista foi preso dentro do consultório -  (crédito: PCDF/Divulgação)
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Dentista foi preso dentro do consultório - (crédito: PCDF/Divulgação)

Preso por uma série de acusações por crimes sexuais contra pacientes e funcionárias, o cirurgião-dentista Danilo Sérgio Carvalho Sousa, 50 anos, espalhava medo e terror no consultório onde trabalhava, em um shopping no centro da cidade. Relatos de ex-funcionárias e pacientes revelam o ambiente hostil, marcado por assédios sexuais disfarçados de elogios e até tentativa de “compra” pelo silêncio.

Danilo foi preso preventivamente pelos policiais da 5ª Delegacia de Polícia (área central) na tarde desta segunda-feira (24/3), dentro do próprio consultório. O Correio obteve acesso às narrativas das vítimas, que contaram sobre os episódios violentos na clínica. Uma delas relatou que era comum Danilo proferir elogios desagradáveis, como: “Você tem uma cinturinha. Olha ela [...], é magrinha, mas tem peito.” Os comentários eram feitos em público e, por vezes, na frente de outras funcionárias.

Essa mesma trabalhadora contou que, em determinado dia, após o último paciente do dia ir embora, foi à copa da clínica e, ao virar para sair, Danilo bloqueou a porta e impediu a passagem. Neste momento, o médico teria a abraçado e descido com uma das mãos das costas até a bunda da vítima. Depois, segundo ela, o dentista tentou agarrá-la e usou a força para tentar beijá-la. A funcionária conseguiu empurrá-lo e foi para a recepção. Lá, o homem ofereceu R$ 50 com a desculpa que seria o dinheiro da hora-extra. A vítima chegou a enviar mensagens para a mãe logo depois relatando o ocorrido. Preocupada, a mãe respondeu: “Você já saiu daí? Está sozinha?”.

As ex-funcionárias relataram à polícia que Danilo agia normalmente no dia seguinte, como se tudo não passasse de uma brincadeira.

Pacientes

Segundo a Polícia Civil, eram diversas as formas de atuação do cirurgião-dentista, desde abusos disfarçados de tratamentos até armadilhas orquestradas após o expediente. Em depoimento, uma paciente contou que, ao final da consulta, o autor desferiu dois tapas na região íntima dela sem o consentimento. Meses depois, em outro atendimento, o dentista a segurou pelo rosto à força, pressionou seu corpo contra o dela e tentou beijá-la no consultório. A vítima conseguiu escapar, mas ficou em estado de choque.

A investigação revelou que o dentista já havia sido denunciado anteriormente por estupro de uma paciente dentro do consultório, além de um caso de perseguição e violência doméstica contra uma ex-companheira. De acordo com a polícia, o homem se aproveitava da autoridade da profissão para atacar as vítimas.

O advogado Thiago Silva Pinto, que representa a defesa do dentista, se manifestou sobre o caso. Segundo ele, em análise aos depoimentos, as vítimas apontaram terem sido alvos constantes de elogios por parte de Danilo e se sentiram constrangidas. Outras, de acordo com ele, disseram que, além dos elogios, também foram alvos de toque na região das nádegas. "A defesa desde destaca que não houve imputação de crime de estupro ou sequer a tentativa. Em nenhum momento, as vítimas apontaram ter sido alvos de violência física ou de constrangimento efetivo com a finalidade de satisfação de lascívia, nem tampouco de nenhuma atitude de cunho sexual. Reiteramos o compromisso com a transparência, bem como reafirmamos quanto à inocência de Danilo", esclareceu. O defensor acrescentou ainda que, durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, a polícia apreendeu dinheiro no cofre pessoal do investigado. "[o dinheiro] nada possui relação com a investigação, nem tampouco tem menção no depoimento das supostas vítimas", disse.

A PCDF pede para que, caso alguém tenha informações sobre novos crimes cometidos pelo investigado ou tenha sido vítima, entre em contato com a Polícia Civil pelo telefone 197 ou dirija-se à 5ª DP, onde o sigilo das informações será garantido.

 

Darcianne Diogo
postado em 24/03/2025 22:28 / atualizado em 25/03/2025 17:02